Instituições que se ligaram a Bolsonaro desde o início do mandato acabam com imagem prejudicada
O comando do Exército conversou com senadores da CPI da Pandemia pra evitarem chamar o ex-ministro da Saúde de "general" durante o depoimento, além de alertar ao próprio general que não diga que "estava cumprindo missão para a força", pois será desmentido.
O maior prejuízo da associação com o governo Bolsonaro, até agora, certamente foi do Exército.
As Forças Armadas construíram, após a ditadura, mesmo em meio há 13 anos de governo da esquerda, uma imagem de credibilidade ligada aos serviços que prestavam à população e participação em campanhas nacionais, sejam ligadas ao combate à seca no Nordeste ou em programas de vacinação.
A credibilidade do Exército esteve, nesses anos, apoiada na segunda parte de seu lema: "Braço forte, mão amiga". Essa mão amiga sempre foi e é valorizada pela população. Quando Bolsonaro associou o Exército ao seu governo, o fez tentando amplificar a primeira parte, o "braço forte".
Não seria um problema, não fosse pelo fato de a identificação popular com as ações de combate da força serem mínimas. As participações internacionais do exercito brasileiro, nos últimos anos, foram como força de paz, não de guerra. É um caminho de identificação difícil.
Pra completar, as participações políticas dos militares no governo ficaram marcadas por problemas que vão de indisposições pessoais à incompetência de resultados trágicos, como ficou claro com o general Eduardo Pazuello.
Ao ponto de o comando do Exército precisar conversar com a CPI da Pandemia pra evitar chamar o ex-ministro da Saúde de "general" durante o depoimento, além de alertar ao próprio general que não diga que "estava cumprindo missão para a força", pois será desmentido.
O prejuízo de imagem agora começa a se estender à Fiocruz, uma instituição que completa 121 anos neste mês de maio, e começa a aparecer em manchetes pela falta de eficácia na produção de vacinas.
A instituição foi "capturada" por Bolsonaro para a produção da vacina de Oxford, que o presidente resolveu usar para se opor à "vacina de João Doria (PSDB)".
O problema é que tanto o Butantan do governo de SP quanto a Fiocruz utilizam matéria prima chinesa para produzir vacinas. Bolsonaro tenta atrapalhar uma e atrapalha as duas, sempre que ataca a China.
Hoje, apesar disso, a eficiência da Coronavac ainda é muito maior que a da Astrazeneca. De cada 6,5 doses aplicadas no Brasil, somente 1 é feita pela Fiocruz.
É uma péssima notícia, números ruins que deveriam ser lamentados no Brasil.
Mas, por causa da captura institucional que Bolsonaro tenta fazer da Fiocruz, parte dos brasileiros chega a gostar desse mau resultado, porque significa mais uma derrota política para ele.
A viagem tem sido dura. E é feio esse lugar ao qual chegamos.