Cena Política

CPI da Covid já tem quase a audiência do impeachment de Dilma Rousseff. E não passa de um show ruim

O excesso de exposição transforma personalidades e adultera resultados. É preciso ter cuidado para que o show da CPI não suplante sua função, que é apurar responsabilidades.

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Igor Maciel

Publicado em 21/05/2021 às 8:00
Análise
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As atenções sobre a CPI da Covid são bem maiores do que o governo esperava.

O canal específico para transmissão ao vivo das sessões da comissão atingiram mais de 3 milhões de acesso.

Ontem, os questionamentos do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) o colocaram em primeiro lugar, entre os assuntos mais comentados no Twitter.

Minutos depois foi a vez de a senadora Simone Tebet (MDB-MS), virar o assunto mais comentado na plataforma.

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A lentidão para tomar uma atitude na formação da CPI, que era considerada apenas um erro estratégico do governo, vai acumulando grande prejuízo. Jair Bolsonaro (sem partido) perdeu muita capilaridade nas redes sociais e tem poucos defensores no grupo da comissão.

Dos onze titulares, que votam, o governo só tem quatro membros.

Juntando os dois dias de depoimento do ministro Eduardo Pazuello, por exemplo, só os vídeos oficiais do Senado já foram visualizados quase 2 milhões de vezes. No YouTube, só perde para as reuniões que tiraram Dilma Rousseff (PT) do poder.

Nas sessões há personagens que o público escolhe como se fossem vilões ou mocinhos. Simone Tebet e Alessandro Vieira estão entre os mocinhos. O senador Marcos Rogério (DEM-RO), é um dos vilões.

Defensor de Bolsonaro, Rogério tem sido tratado assim exatamente porque demonstra ser muito bem preparado e, diferente dos colegas, faz defesas bem fundamentadas para o governo.

A "tropa governista", aliás, com excessão de Rogério, é atrapalhada. Divide-se entre os folclóricos, os que sabem interpretar texto e os que não sabem. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), por exemplo, parece um garoto do ensino fundamental lendo a redação para os colegas de turma.

O pernambucano Fernando Bezerra (MDB) está no grupo dos que lêem e interpretam o texto dando vida a ele.

Mas, esse é um detalhe importante, os governistas estão sempre lendo algum texto, o que tem gerado comentários que o Planalto escreve e eles fazem papel de "porta-voz".

No lado da oposição, o cenário também não é dos melhores. Com excessão de Alessandro Vieira e de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), parece haver uma dificuldade imensa em fazer réplicas. Eles perguntam, o depoente mente, e eles não sabem o que fazer, não têm nada preparado.

Isso vale, principalmente, para o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Há também os que estão lá para gerar vídeos para as próprias redes sociais.

Dar carão em ex-ministro bolsonarista deve dar votos. Estão garantindo os deles.

O outro pernambucano na comissão, que havia sido o único a mostrar um vídeo e desmentir o ex-secretário Fábio Wajngarten, acabou só fazendo discurso no depoimento mais esperado que era o de Pazuello. Humberto COsta (PT) fez uma fala inflamada, deu uma bronca de 15 minutos e, no fim, disse que não tinha perguntas. 

O excesso de exposição transforma personalidades e adultera resultados. É preciso ter cuidado para que o show da CPI não suplante sua função, que é apurar responsabilidades com um mínimo de fidelidade aos fatos.

Em algum momento uma conclusão será necessária e, por enquanto, por mais que se diga que muitas provas surgiram, de fato, há só um aglomerado reunindo vaidade, imperícia e oportunismo.

No fim, isso não responderá sobre os quase 450 mil mortos que já temos.

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