Cena Política

O lockdown e as medidas de restrição seriam a cloroquina dos governadores?

Sensação que fica é a de que medida não é aplicada direito ou que, sem ela, resultados seriam os mesmos. Não é bem assim, mas governadores estão errando feio e virando piada.

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Igor Maciel

Publicado em 14/06/2021 às 14:32
Análise
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Em 26/05, o governo do Estado anunciou novas medidas de restrição a serem aplicadas em todo o território pernambucano. O problema é que, três dias depois, PE registrava o maior número de casos confirmados do ano, com 5.576 pessoas infectadas em 24h.

No dia 08/06, novo recorde: 111 mortos em 24h. Também o maior número de 2021. Também no meio do período em que as medidas de restrição estão em vigor.

A sensação que fica é de "placebo", igual à cloroquina que, hoje, os cientistas dizem que não tem nada a ver com a recuperação de pacientes.

A chance de beber um copo com água ou tomar cloroquina, e ficar bom, são as mesmas. Afirmam. 

Os números baixariam sem a necessidade de lockdown? Quem morreu e quem viveu iria morrer e viver de qualquer maneira, mesmo que não existissem medidas de restrição?

Não é tão simples.

Diferente da cloroquina, que expõe a efeitos colaterais com uma medicação inútil, é certo que o vírus terá dificuldade para se espalhar se não houver contato entre as pessoas. 

Deixando a política de lado, o exercício de lógica não é tão difícil. Uma pessoa não pode transmitir o vírus pra alguém com quem ela não tem contato.

Fim da história.

O lockdown, portanto, funciona sim, com o objetivo de atrasar a doença. Resolver mesmo, só a vacinação em massa consegue.

Agora, isso não implica que os governadores estejam fazendo tudo direito. Pelo contrário. A execução e o cumprimento das medidas é motivo de anedota.

O último decreto de PE, por exemplo, proibia o uso do calçadão de Boa Viagem. No domingo passado, a cena durante a manhã e a tarde era a seguinte: guardas municipais e policiais andavam de um lado pro outro pedindo que as pessoas saíssem e... descessem o meio-fio.

As pessoas, caminhando, iam pro meio da rua e seguiam. Porque o decreto proíbe o uso do calçadão, mas não impede de andar na rua, entre os carros. E todo mundo descia a calçada e ia andar no asfalto se arriscando.

Provavelmente, o decreto prevê que o vírus infecta apenas na calçada. Desceu, está imune.

O próprio horário do comércio e dos restaurantes é algo curioso. A estrutura de afastamento e a logística para evitar aglomerações que seriam utilizadas nesses locais à noite é a mesma utilizada durante o dia.

Se haveria aglomeração após às 18h, haveria também antes disso. Mas, quando se controla o horário, a ideia é que o vírus só vai chegar àquele local após às 18h.

Deve ser um vírus madrugador e até as 18h ele se esconde. Não faz sentido.

Impedir as aglomerações salva vidas. Fazer isso com a seletividade de quem está pensando em apoio político, descredibiliza a medida e tem efeito contrário. Os governadores estão acertando no remédio, que é eficaz, mas aplicam tudo errado com medo de perder votos.

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