O golpe não é com blindados soltando fumaça. Há pequenos golpes acontecendo dentro da Câmara Federal e Bolsonaro sapateia pra ajudar
O centrão, grupo majoritário na Câmara Federal, percebeu uma grande utilidade para os arroubos mimados de Bolsonaro que buscam chamar atenção para ele de forma quase patológica. Enquanto o chefe do Executivo grita, eles agem.
O centrão, grupo majoritário na Câmara Federal, percebeu uma grande utilidade para os arroubos mimados de Bolsonaro que buscam chamar atenção para ele de forma quase patológica: enquanto ele briga com alguém, projetos são aprovados no Congresso.
Mas não são projetos de necessário interesse para o Brasil. Tratam-se de mudanças nas leis que privilegiam eles próprios, principalmente as eleitorais.
Aprovaram um fundão eleitoral com texto que vai obrigar o contribuinte a pagar quase R$ 6 bilhões apenas para eles fazerem campanha política.
Aprovaram a volta das coligações, em primeiro turno, ontem, numa manobra que contou com a repercussão do "voto impresso" de Bolsonaro como desvio de atenções. O texto ainda passa por nova votação e depois vai ao Senado.
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Mandaram um projeto com a proposta de um sistema ainda pior do que o que já existe, o Distritão, que praticamente acabava com os partidos políticos, sabendo que não seria aprovado.
Depois, apresentaram como alternativa a volta das coligações que haviam sido extintas em 2017 na esteira das medidas pela moralização da política no Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Foi assim, também, que ajudaram a acabar com a Lava Jato e, antes, inviabilizaram o trabalho de Sergio Moro como ministro da Justiça, reprovando tudo o que a pasta mandava para a Câmara como medida anticorrupção.
A votação pela volta das coligações foi quase uma armadilha. Deputados que não são do centrão, ontem, reclamaram terem sido pegos de surpresa.
O texto foi jogado na pauta quando os partidos ainda estavam juntando os cacos após a votação sobre a patetice impressa de Bolsonaro.
O PSDB estuda punir deputados que votaram a favor. PSB, MDB e PDT, que também tiveram muitos deputados favoráveis, analisavam a situação. E Lira jogou o projeto na mesa para ser votado.
A volta das coligações é, junto com o fundo eleitoral, o maior retrocesso no trabalho de melhorar a representatividade política do Brasil.
Partidos sem votos, que "dormiam no sofá" das siglas maiores, esperam continuar sobrevivendo agora.
Bolsonaro, que parece já ter desistido de tentar vencer a eleição em 2022, resolveu que vai fazer piruetas para ajudar o centrão nessas missões. É um triste fim.
Não tem golpe com blindados cheios de fumaça. Os veículos militares, aliás, foram só uma nova pirueta do presidente. Há pequenos golpes acontecendo no Legislativo que vão sequestrar o Brasil, politicamente, por muitos anos.
E estamos assistindo passivos, enquanto nos escandalizamos com o sapateado do presidente.