Proposta de pagar R$ 400 no novo Bolsa Família é alta, mas ainda pode aumentar. E a equipe econômica rói as unhas
O Auxílio Brasil, que deve substituir o Bolsa Família, saiu do governo com a proposta de R$ 400. Mas vai ser discutido num Congresso em que quase todos os parlamentares buscam a própria reeleição e devem tentar aumentar o valor pra ficar bem na foto.
A tempestade perfeita no ambiente político brasileiro tem entre seus componentes o aumento da pobreza e a expectativa eleitoral.
Quando estão no mesmo espaço temporal, produzem irresponsabilidade e culminam em situações que nos empurram ao caos.
O Auxílio Brasil, que o governo Bolsonaro está conseguindo viabilizar no valor de R$ 400 para substituir o Bolsa Família, contra a vontade da própria equipe econômica, vai ser ingrediente de um desses episódios.
Primeiro é preciso dizer que o país precisa, e muito, de um auxílio desse tipo. O Bolsa Família é uma compra de votos institucionalizada e o Auxílio Brasil vai continuar sendo usado dessa forma, deveria ter um formato diferente, mas dizer que ele não é necessário é ignorar uma realidade que está piorando ultimamente.
Entretanto, o aumento da pobreza e a proximidade com as eleições podem fazer o Brasil assumir uma fatura que não terá como pagar, já no curto e no médio prazo.
O problema não é o valor de R$ 400, mas o "acréscimo autoral" que rende votos.
Basta lembrar do Auxílio Emergencial, quando começou a ser discutido. Estávamos em ano eleitoral. A oposição cobrou que o governo pagasse algo. O governo anunciou que pagaria R$ 200.
Os políticos de oposição disseram que era pouco e mudaram a discussão para R$ 300. Os parlamentares do centrão disseram que era preciso pagar, ao menos, R$ 500. E, para não ficar por baixo, Bolsonaro mandou refazer o projeto e colocar R$ 600 no texto.
O gasto era inviável no longo prazo, tanto que precisou ser reduzido meses depois.
Agora, às vésperas de um ano eleitoral, com a equipe econômica dizendo que só dá pra pagar R$ 300, Bolsonaro mandou bancar R$ 400.
O texto vai pro Congresso, um ambiente onde quase todos os deputados e 33% dos senadores são candidatos à reeleição. As propostas para pagar mais que isso vão aparecer. E não é algo "emergencial", mas um pagamento quase vitalício.
Duas perguntas: o leilão vai acontecer de novo? E, a principal, a economia aguenta no longo prazo?