Para o bem ou para o mal, Bolsonaro é um sobrevivente e muda de postura equilibrado em pesquisas
Não é uma dança bonita. Envolve demagogia, falácia e o abandono das questões que realmente importam para o país.
Você pode achar que Bolsonaro é um bom presidente ou que ele é o pior do mundo. Só não pode negar a capacidade de sobrevivência dele.
E o assunto nem é a facada.
É sobrevivência política mesmo.
Não deveria causar surpresa se você lembrar que ele passou mais de duas décadas como deputado federal, no baixo clero, onde falta oxigênio e as condições de vida são insalubres, cada um se reelegendo de seus puxadinhos eleitorais.
Quando virou presidente da República, por uma séria de circunstâncias que incluem a enorme contribuição do PT, Bolsonaro começou sua nova fase de sobrevivência.
Ele passou dois anos sem ter maioria no Congresso. No início da pandemia de covid, essa coluna chegou a fazer cálculos que apontavam uma bancada governista fiel com, no máximo, uns 50 parlamentares pingados, menos que 10% da Câmara Federal.
Não era um problema, porque ele mantinha bons índices de popularidade. Quando a popularidade caiu, aí sim, agarrou-se com o centrão e sobreviveu.
Mas, Bolsonaro tem dois públicos e vive equilibrado nos dois. Isso é o que determina seus movimentos.
Um desses públicos está dentro da bolha bolsonarista e o outro está fora.
De um ano pra cá, o presidente passou a avançar em seu radicalismo ou recuar de acordo com a variação desses públicos.
Quer entender Bolsonaro, analise suas declarações e compare elas com o detalhamento das pesquisas de popularidade.
Sim, é tudo bem calculado.
Sempre que a bolha bolsonarista está insatisfeita, achando que o seu líder "amoleceu" nas declarações e ficou manso, Bolsonaro faz alguma declaração absurda, radical, non sense. É um aceno aos apoiadores mais fieis.
Esse período dura apenas até que as pesquisas apontem a popularidade geral, fora da bolha, caindo muito.
Nesse momento ele para e se recolhe.
Aconteceu agora. Após semanas de embates diários com o STF e com a democracia, num momento em que não havia mais como seguir sem sofrer consequências mais pesadas, Bolsonaro recuou.
A popularidade dele caiu muito no período e chegou aos piores índices.
Ontem, três meses depois, levantamento da Genial/Quaest apontou recuperação. E ele voltou a bater no STF com toda força.
O movimento, por enquanto, não é algo mágico, que vá levá-lo a reeleição certa. Na verdade, é apenas um jeito de sobreviver.
A vida dele não está fácil.
Bolsonaro precisa agradar dois públicos com expectativas distintas.
Quando o público em geral alivia seu horror com as atitudes do presidente, ele aproveita para injetar ar na bolha.
Quando a popularidade entre os menos radicais despenca, ele deixa a bolha murchar um pouco enquanto recupera a força do lado de fora.
Bolsonaro sabe que, para chegar ao segundo turno precisará da bolha, mas ela não é suficiente.
Sabe que não pode depender apenas dela, mas, também sabe que não pode abandoná-la.
Não é uma dança fácil e é difícil dizer se ele vai conseguir manter o ritmo até a eleição.
Também não é uma dança bonita. Envolve demagogia, falácia e o abandono das questões que realmente importam para o país.
Mas, não é algo que nunca tenhamos visto em terras de Brasil.