Cena Política

O centrão tem até "agenda para abandonar" Bolsonaro. Presidente precisa crescer nas pesquisas até abril

O desembarque do centrão, agendado para o início do ano que vem, se nada mudar na popularidade do presidente, deve acontecer por região. Começará pelo Nordeste, onde estão os índices de reprovação mais altos.

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Igor Maciel

Publicado em 15/12/2021 às 17:26 | Atualizado em 16/12/2021 às 12:04
Análise
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Quando Bolsonaro (PL) se aliou ao centrão, havia uma condição implícita, nunca negada por quem participou do negócio: o abandono contratado.

Caso o presidente da República não cresça nas pesquisas, o centrão vai deixá-lo.

Há quem se surpreenda com as notícias de que a base governista, nos bastidores, está se preparando para desembarcar e teria até um calendário para isso. A pesquisa Ipec, divulgada esta semana, aponta uma rejeição de 55% da gestão bolsonarista.

Quando perguntados se aprovam a forma de Bolsonaro governar, piora, 70% dos entrevistados dizem que "não".

O desembarque do centrão, agendado para o início do ano que vem, se nada mudar na popularidade do presidente, deve acontecer por região. Começará pelo Nordeste, onde estão os índices de reprovação mais altos.

Por aqui, lideranças de partidos ligados ao presidente já procuram manter um certo afastamento. Quem pensar que Anderson Ferreira, presidente estadual do PL, embarcou no bolsonarismo, pense outra vez. O único gesto favorável foi a presença no dia da filiação, em Brasília. Depois, nenhuma palavra do pernambucano sobre o assunto.

O PP, que contratou a vaga de vice na chapa bolsonarista, também não consegue entregar apoios no Nordeste. Por aqui, Eduardo da Fonte, que preside o partido e é aliado do PSB, não quer nem ouvir falar em proximidade.

A tendência é que todo o centrão vá se descolando já no início do ano, mas o movimento ficará mais notório somente após o dia 2 de abril. É quando estarão faltando seis meses para a eleição e também é o prazo para desincompatibilização.

O mais importante dessa data, porém, é que ela é o limite para entrar em algum partido e ser candidato em outubro. Quem estiver num partido, nessa data, não poderá mais sair. É quando as traições começam a ficar explícitas, já que as convenções que escolhem os candidatos se realizam apenas entre julho e agosto.

De abril até julho, num espaço de quatro meses, acontecem todas as mudanças de ideia possíveis.

Bolsonaro pode mudar de partido daqui até abril, depois, fica preso ao PL, enfrenta as traições ou desiste de ser candidato.

Para se salvar e não ser traído, ele precisa ter uma forte recuperação de popularidade. Terá que entregar um pedaço dessa recuperação até abril, pra evitar uma primeira debandada.

O restante de sua reabilitação precisa vir até julho, dando a ele competitividade.

Caso contrário, será melhor desistir.

Ele está trabalhando. O Auxílio Brasil, que o governo pretende pagar com um aumento durante 2022, seria uma dessas tentativas.

O presidente também batalha para dar aumento a algumas classes de servidores que, ele sabe, tende a apoiá-lo, como os policiais. Programas de habitação específicos para os militares também estão sendo propostos.

A ideia é tentar usar esses nichos para crescer nas pesquisas e segurar os apoios.

O problema para Bolsonaro é que a situação não está ruim apenas no Brasil. A inflação está alta nos EUA, por exemplo. O índice chegou a 6,8% em 12 meses, é o maior patamar americano desde 1982.

A recuperação pós-pandemia, tudo indica, será muito lenta. O que não ajuda na reeleição do presidente.

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