Cena Política

A limonada de Ciro Gomes, batendo com gelo e açúcar os limões da Polícia Federal

Caso estivéssemos em 2018, quando o clima anticorrupção era predominante e uma batida da Polícia Federal derrubava candidaturas, o cearense precisaria ficar preocupado. Ao contrário disso, Ciro cresceu e aproveitou.

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Igor Maciel

Publicado em 16/12/2021 às 8:00 | Atualizado em 16/12/2021 às 11:58
Análise
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Ontem (15) foi dia de limonada.

Primeiro Fernando Bezerra Coelho (MDB) aproveitou a traição sofrida na escolha do TCU, quando esperava 37 votos para ser ministro do Tribunal e terminou com 7, para deixar a liderança do governo no Senado e concluir seu afastamento do bolsonarismo.

É preciso entender, FBC queria o TCU, não foi algo planejado, como se o senador pernambucano fosse um super estrategista que planeja derrotas acachapantes para conseguir o que quer. Ele não gosta de perder.

Mas, saber o que fazer quando se perde é importante.

Miguel Coelho (DEM), pré-candidato ao governo de PE, começou a se afastar de Bolsonaro para não ficar colado na rejeição do presidente, mas o pai continuava líder e continuava fingindo que seguia aliado. Tinha a expectativa de ser ungido para o Tribunal de Contas da União. Não foi.

Agora, como sempre carrega bandeiras novas e antigas no bolso, para nunca ficar sem rumo, pode até voltar a apoiar o PT ou o PSB e ninguém vai achar nada espetacularmente estranho.

Limonada boa é feita com duas ou três batidas no liquidificador, com açúcar, muito gelo e usando as cascas do limão. Quem tem a chance de prepará-la também e já está trabalhando nisso é Ciro Gomes (PDT). Caso estivéssemos em 2018, quando o clima anticorrupção era predominante e uma batida da Polícia Federal derrubava candidaturas, o cearense precisaria ficar preocupado.

No entanto, o que aconteceu depois que a PF deflagrou uma operação contra o presidenciável foi que ele virou o assunto mais comentado no Twitter durante todo o dia.

Como o Twitter vale para o bem e para o mal, igual à revista Time, é bom dizer que a maior parte das menções foi positiva.

Sim, de candidato quase sendo deixado de lado até pelo próprio partido, Ciro pode acabar sendo reabilitado na disputa depois de receber a visita da polícia. A reação imediata do pedetista foi, claro, direcionar a artilharia para Bolsonaro (PL), mas não sem fazer com que suas declarações também atacassem Sergio Moro (Podemos), adversário direto atualmente.

Ao dizer que o Brasil está virando um "estado policial", acusa o atual presidente e reclama de quem usa a polícia para interferir em eleições. Usar a Justiça e a polícia para mudar resultado de eleição é o artifício pelo qual Moro é acusado, principalmente pelos petistas.

Essa foi a senha usada por Ciro para também trazer Lula (PT) ao debate. O ex-presidente foi ao Twitter e tratou de se solidarizar com Ciro e com o irmão, o senador Cid Gomes (PDT).

Ciro foi além das redes sociais, passou o dia dando entrevistas e seguiu acusando Bolsonaro de usar a PF para atingi-lo. Sendo verdade, ou não, esse uso da PF para prejudicar políticos de oposição, a verdade é que, no fim do dia, a impressão que se tinha era de que a preocupação de Bolsonaro com Ciro Gomes nas eleições é muito grande.

E nem é.

Ainda na tarde de ontem, começaram a surgir, não por acaso, informações de que parte da cúpula da Polícia estava condenando a ação, porque "deixou a instituição exposta numa investigação que, depois de tanto tempo, já que se refere à construção da Arena Castelão para a Copa de 2014, não terá provas de nada e só serviu como artifício lavajatista". Eis a referência a Sergio Moro, outra vez.

É como se alguém na Polícia quisesse dar a entender que o ex-juiz seria responsável por influenciar a ação.

Para absorver e entender cada palavra, cada expressão usada e cada "bastidor" que surge sobre um assunto como esse é necessário estar acompanhando bem as pesquisas referentes à eleição de 2022.

A verdade é que Bolsonaro não tem interesse na tragédia de Ciro.

Goste ou não do cearense, é ele que ainda impede uma vitória de Lula no primeiro turno, segurando votos da esquerda longe do PT.

Os votos de Ciro não vão pra Bolsonaro. Eles iriam se dividir prioritariamente entre Moro, Lula, nanicos, brancos e nulos. Qual o interesse de Bolsonaro em prejudicá-lo para fortalecer os adversários acima e abaixo dele nas pesquisas?

Seja qual foi a intenção de quem colocou os policiais no encalço do pedetista. A limonada de Ciro está geladinha e sendo apreciada.

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