Cena Política

Sísifo e a coleira entre o PSB e o PT para a eleição de 2022. Quem precisa de quem?

Na mitologia grega, Sísifo era considerado o homem mais astuto do planeta, tão esperto que teria conseguido enganar a morte duas vezes.

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Igor Maciel

Publicado em 03/01/2022 às 12:28 | Atualizado em 03/01/2022 às 12:37
Análise
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Lula (PT) é um nome forte nacional. É verdade. A chance de ele ser eleito em 2022 e governar o país pela terceira vez é grande. Verdade. Mas, é preciso alargar os horizontes para fazer uma pergunta essencial: o PT precisa mais do PSB ou o PSB precisa mais do PT?

Na mitologia grega, Sísifo era considerado o homem mais astuto do planeta, tão esperto que teria conseguido enganar a morte duas vezes.

Um dia, irritado com a insolência, Zeus condenou Sísifo a passar a eternidade rolando uma grande pedra de mármore até o topo de uma colina.

Toda vez que a pedra, após exaustivo esforço, era levada até perto do cume, uma força irresistível a derrubava e Sísifo precisava começar tudo de novo.

A expressão "Trabalho de Sísifo" passou a ser referência para todo esforço inútil, que não leva a resultado objetivo.

Lula, o da tal "frente ampla de esquerda", parece esperar que todas as siglas ao seu redor passem a eternidade carregando suas pedras morro acima, para as verem rolar de volta todos os dias, sem resultados objetivos.

O PCdoB já demonstrou, mais de uma vez, sua obediência. Até por falta de alternativa.

Mas, é estranho ver o PSB desejando essa condição. Condenados antes a esse trabalho, pela popularidade do PT e de Lula em tempos idos, o PSB rolou a pedra por anos, até Eduardo Campos perceber a perda de tempo e romper para ser, ele próprio, candidato a presidente.

O PSB seguiu e apoiou o impeachment. Em Pernambuco, foi aliado do PSDB e do DEM por um tempo. Sobreviveu.

Aliás, se o PSB quiser exemplos de partidos que vivem sem precisar do PT, pode encontrar umas duas dezenas.

Mas, o PT precisa do PSB.

Os socialistas são o principal argumento para que Lula comprove estar unindo a esquerda. Caso contrário, dirão que se trata apenas de um ajuntado com siglas de aluguel que dependem do PT pra sobreviver. Essas carregam a pedra morro acima com lágrimas de emoção caindo pelo rosto, pq é isto ou o fim.

O PT precisa do PSB como repositório de um vice. Precisa do PSB abrindo caminho em São Paulo, ou Haddad pode nem ter chance no governo de lá e Lula perde votos importantes no maior colégio eleitoral do país.

Em Pernambuco, outro estado essencial ao PSB, é o PT que sempre dependeu da parceria e até serve como falsa oposição quando convém, seja no estado ou no Recife, para manter o poder socialista.

Ficar com o PT, para o PSB, é um trabalho de Sísifo, porque não existe protagonismo numa sala em que Lula esteja, que não seja exercido por ele próprio.

O plano do PT é que ele seja candidato, que tente reeleição e depois indique outro petista, como fez em 2010. A pedra do PSB vai ser empurrada, vai cair, e a rotina se reiniciará.

Ninguém se engane, Ciro Gomes (PDT) não é diferente. Tem o mesmíssimo perfil de Lula, com a diferença de nunca ter sido presidente. Então, é uma falsa opção.

Na primeira vez em que desviou seu próprio fim, Sísifo o fez elogiando a morte, enviada por Zeus. Inflou tanto a vaidade de Tânato, deus da Morte, que o deixou embevecido. Depois, o presenteou com um colar que, na verdade, era uma coleira.

Alckmin no PSB para ser vice de Lula é uma jogada com muitos resultados possíveis. A aliança entre os dois partidos tem muitos resultados possíveis.

Mas, por agora, PSB e Lula precisam definir quem vai doar o pescoço à coleira.

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