Cena Política

Lula usar casos de violência para criar argumento eleitoral contra Bolsonaro é tão falacioso que destoa

Bolsonaro (PL) é um representante político dessa cultura execrável de violência e nunca fez questão de esconder isso durante suas décadas como homem público. Mas, Lula (PT) querer usar a morte do congolês como argumento político eleitoral e jogar a conta em seu principal adversário é tão falacioso que destoa.

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Igor Maciel

Publicado em 03/02/2022 às 11:56
Análise
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A violência contra o imigrante congolês, espancado até a morte no Rio de Janeiro ao cobrar um dívida do patrão, é o retrato de uma desumanidade carregada de sordidez. Exemplo do desprezo pela vida e da cultura de violência num país que se vende como receptivo e hospitaleiro, o que é uma mentira das grandes.

Bolsonaro (PL) é um representante político dessa cultura execrável de violência e nunca fez questão de esconder isso durante suas décadas como homem público. Mas, Lula (PT) querer usar a morte do congolês como argumento político eleitoral e jogar a conta em seu principal adversário é tão falacioso que destoa. Parece esperto, mas é injusto.

Poderíamos dizer, então, que o trabalho escravo aumentou durante o governo Lula em 2003?

Porque os dados sobre pessoas em regime análogo à escravidão cresceram quase 130% entre 2002 e 2003, quando o petista assumiu. São números do IPEA.

Foi por causa de Lula?

 

 

A violência também cresceu quando Lula assumiu, em 2003. No ano anterior, a taxa de homicídios no país, por 100 mil habitantes, era 28,53 e subiu para 29,14. Seria por causa da política petista que incentivava as mortes? Tem mais. No fim do governo Dilma (PT), em 2016, essa taxa ultrapassou 30/100 mil.

Para citar apenas um exemplo: o massacre de Realengo, quando doze estudantes de uma escola pública foram assassinados e outros doze ficaram feridos após um ex-aluno de 23 anos abrir fogo contra eles, aconteceu em 2011. Primeiro ano de Dilma Rousseff.

O assassino matou porque Dilma era presidente?

Provável que não.

É o suficiente para dizer que o PT incentivou a violência e deveria ser responsabilizado pelas mortes?

Claro que não. Seria uma grande falácia também.

Seria ignorar que os dados sobre trabalho escravo cresceram porque a fiscalização aumentou 120% no mesmo período. E a violência teve as taxas sendo reduzidas ao longo de 13 anos do PT no poder. Subiram, basicamente, apenas no primeiro e no último ano.

Mas, ignorando a falácia embutida, é possível rebater Lula com esses números citados acima. É possível acusar que em seu governo o trabalho escravo aumentou e a violência também. E um massacre aconteceu no governo Dilma.

Seria mentira. Mas, renderia votos.

Seria execrável agir assim? Seria.

É esse tipo de voto que o PT pretende atrair?

É muito perigoso quando um presidente incita a violência ou a desobediência civil, como faz Bolsonaro sempre que é contrariado, ignorando as consequências coletivas.

Mas, também é muito perigoso quando um candidato a presidente, que já esteve no cargo por duas vezes e conhece bem os detalhes e os limites de sua atuação, tenta voltar ao poder fingindo que é um outsider, ignorante, tentando emular o sentimento do povo e transformando tudo em argumento eleitoral.

É inconsequente e injusto. Incita ódio, ao invés de concórdia.

Com o presidente desequilibrado que temos, espera-se mais equilíbrio de alguém na posição de Lula.

E alguns podem dizer que ele sofreu "injustiças", foi preso após um julgamento "fraudulento", entre outras faixas do disco arranhado atual. E que, por isso, tem o direito de atacar os adversários.

Sem discussão, neste texto, quanto a isso e ao caráter conveniente da Justiça brasileira.

Mas, é fato que se o Lula que se apresenta vai agir como um raivoso injustiçado que acha ter direito a ser injusto com o mundo como revanche, ele não serve para ser presidente.

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