Cena Política

Aumento da violência acontece por falta de investimento do Estado e o investimento depende do período eleitoral

Melhorar a segurança, em qualquer momento, é bom, mas o investimento crescer apenas próximo das eleições parece obedecer a um sistema cujo objetivo primário é garantir votos e a segurança, de verdade, fica em segundo plano.

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Igor Maciel

Publicado em 16/03/2022 às 17:38 | Atualizado em 16/03/2022 às 17:46
Análise
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Em 2007, o presidente era Lula (PT) e, em Pernambuco, o governador era do PSB. Em 2011, a presidente era Dilma (PT) e o governador, de Pernambuco, era do PSB. Depois veio Temer (MDB) e o governador aqui era do PSB. Hoje, com Bolsonaro (PL), o governador ainda é do PSB. Nessa linha de 16 anos, duas coisas se repetem.

Uma é a permanência dos socialistas no comando do estado.

- Número de homicídios explode na Região Metropolitana e Agreste de Pernambuco

A outra é o discurso local de colocar a culpa de tudo no presidente da vez. Sempre que a violência aumenta, por exemplo, o problema é "a política do governo Federal, é a crise". Quando a violência diminui, o discurso muda: foram "as políticas do governo estadual".

Na eleição de 2018 o estado vinha de um aumento da violência em 2017. O pacto pela vida começou a ser questionado, falava-se em repactuação, recomeçar.

No primeiro semestre de 2017, os homicídios tinham aumentado 40%. O discurso era sempre o mesmo: "o problema é nacional". E a culpa, na época, "era de Temer".

A oposição investiu no discurso da violência e apontou que a gestão PSB "havia perdido o controle". Deu errado.

Rapidamente, o governo acelerou investimentos em segurança e os índices começaram a melhorar. Venceram o pleito.

Melhorar a segurança, em qualquer momento, é bom, mas o investimento crescer apenas próximo das eleições parece obedecer a um sistema cujo objetivo primário é garantir votos e a segurança, de verdade, fica em segundo plano.

Curiosamente, há números mostrando isso. E estão no Portal da Transparência do Estado.

Não é uma surpresa, mas os gastos com Segurança Pública em Pernambuco cresceram bastante entre 2007, com o lançamento do Pacto pela Vida, até 2010, quando Eduardo Campos foi para a reeleição. Depois, o percentual de gastos no setor foi menor em 2012 e 2013, e só voltou a subir, sem surpresa, em 2014. Era ano de eleição estadual.

Sem nenhuma surpresa, outra vez, em 2015, com todo mundo devidamente eleito, o gasto com segurança caiu, por aqui, em cerca 4,5%. A violência voltou a crescer e se chegou ao ponto de dizer que o Pacto pela vida havia falido entre 2016 e 2017.

Ainda em 2017, o orçamento do governo para a SDS passou de R$ 3,30 bilhões para R$ 4,04 bilhões, um aumento de 22%. A violência caiu e a eleição, como já lembrado acima, foi vencida.

Em 2018 e 2019 o crescimento nos gastos com segurança não seguiu o ritmo, foi maior, mas ficou em torno de 9%. O que chama atenção são os últimos anos. O investimento em 2020 cresceu apenas 1,6% em relação a 2019 e em 2021 o gasto com a SDS encolheu de R$ 4,88 bilhões para R$ 3,44 bilhões. Isso é quase 30% de redução.

Não é por acaso que os dois primeiros meses deste ano já mostram aumento na violência em Pernambuco, principalmente na RMR e Agreste.

Como estamos em um ano eleitoral, é de se esperar que o investimento em segurança aumente em 2022, "resolvendo" o problema. De novo.

Ao contrário do que o governo tenta vender, o que faz a violência crescer ou reduzir é, na verdade, o investimento local.

E o que faz o investimento crescer ou reduzir, pelo jeito, não é a vida das pessoas, mas a relação com o ano eleitoral.

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