Condomínio de candidaturas: cenário da oposição ao PSB em Pernambuco é inédito em quase duas décadas
Ao invés de uma reunião de lideranças das regiões do estado em uma candidatura, lançaram-se quatro nomes com diferentes bases geográficas e ideológicas.
O PSB nunca enfrentou, em Pernambuco, o nível de adversários que vai enfrentar este ano. Não é apenas pela quantidade, mas pela diversidade de nomes, todos fortes e significativos em alguma região do estado ou junto a algum público específico.
É diferente do formato que já deu certo no passado, quando um candidato apenas reunia lideranças de várias regiões.
O que acontece agora são várias frentes, falando para vários públicos.
O modelo anterior de fazer oposição deu certo com a União por Pernambuco, como exemplo. Ali, Jarbas Vasconcelos (MDB) conseguiu reunir nomes da esquerda e da direita, do Litoral ao Sertão.
Depois, Eduardo Campos conseguiu coisa parecida, juntando direita e esquerda num mesmo bolo.
Essas uniões fizeram duas vitórias da oposição.
O modelo faliu, porque está cada vez mais difícil sustentar similaridades em discursos políticos. Em ambiente de polarização, o encontro de ideias é um desafio maior. Na prática, um candidato apenas não consegue satisfazer todo mundo.
Armando Monteiro (PSDB) conseguiu ser esse nome por duas campanhas. Por mais que se diga que era um candidato ruim, é importante lembrar que se colocou nos ombros dele a missão de equilibrar discursos antagônicos dentro de um mesmo palanque em ambiente de rivalidade quase hostil na política.
Olhando agora, com maior distância, a tarefa era quase impossível.
Em 2022, porém, ao invés de tentar acomodar todo mundo no mesmo quartinho, o grupo tratou de separar apartamentos dentro de um mesmo condomínio. Esse condomínio chamado oposição fala línguas diferentes, tem costumes diferentes, rotinas diferentes, propostas diferentes, mas o objetivo é o mesmo: vencer o PSB em Pernambuco.
Tem Marília Arraes (SD) representando uma esquerda ligada a Lula (PT), tem Anderson Ferreira (PL) como base de uma direita apoiadora de Bolsonaro. Tem dois nomes de centro, mas que já foram do próprio PSB e, principalmente, com ligações íntimas com duas regiões imensas do estado, Miguel Coelho (UB) no Sertão e Raquel Lyra (PSDB) no Agreste.
Não se trata de um nome forte e outros que apenas compõem. São quatro candidatos com percentuais muito próximos, força compatível e todos, hoje, à frente do candidato socialista.
Ao invés de vivenciarem contradições, os grupos procuram se completar. Como em qualquer condomínio todo mundo vive bem, desde que exista alguma harmonia.
A reação
Uma suposição é que a chave para o PSB lutar contra essa nova oposição múltipla é provocar discórdia entre os condôminos, gerando uma convulsão.
Para além disso, o PSB tentará colocar todos na mesma caixa, acabando com o mito da diversidade e dizendo que “os quatro são iguais”.
Generalizações de fácil entendimento como “turma de Bolsonaro” e tentativas de fazê-los defender ideias parecidas devem ser utilizadas.
Se vai dar certo, é difícil dizer. Porque o PSB nunca enfrentou isso.
De pedra à vidraça
De quando era pedra (não vidraça) em 2006, até hoje, passados 16 anos, é a primeira vez que a oposição se organiza com tanta diversidade e força num formato diferente e com quatro candidatos competitivos.
E isso acontece num momento em que o candidato socialista tem dificuldades para empolgar o grupo da Frente Popular e, pior, não conta com um esteio, como o que teve Paulo Câmara em 2014, quando Eduardo e depois a morte de Eduardo ajudaram na eleição.