Cena Política

E agora que não tem mais como culpar Bolsonaro, a saúde em Pernambuco é precária por quê?

Bebê morreu por falta de UTI em momento no qual o aumento da demanda era esperado. Estrutura do Hospital da Restauração segue sendo um problema. Ninguém se preparou.

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Igor Maciel

Publicado em 24/05/2022 às 12:01
Análise
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A popularidade dos governadores nunca foi muito boa, acompanhava a alta rejeição da população aos políticos. Quando chegou a pandemia, a guerra dos gestores estaduais contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) reequilibrou as coisas.

Empenhado em fazer e falar bobagem por quase dois anos, Bolsonaro ajudou muito. De repente, pesquisas mostravam governadores com popularidade em alta e prefeitos mais em alta ainda. Quanto mais se distanciava do Planalto, melhor.

Criou-se a ideia de que todos os problemas do Brasil estavam em Brasília. Essa sensação de origem distante para todas as dificuldades se manteve até pouco tempo atrás e ainda está presente, o que premia a irresponsabilidade regional.

As taxas de rejeição voltaram a subir entre os governadores. Pernambuco é um caso bem vistoso. Por aqui, Paulo Câmara (PSB) tem 67% de reprovação. No estado, o odiado Bolsonaro agora atinge 63% de rejeição.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Paulo Câmara e Jair Bolsonaro - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Desde sempre a Saúde foi o setor com maior dificuldade e o mais criticado pela população. Só deixou o posto de primeiro lugar em reclamações quando a corrupção e a operação Lava Jato ganharam manchetes por um breve período.

Na pandemia, era difícil reclamar de outra coisa que não fosse covid e, sobre covid, era difícil reclamar de alguém que não fosse Bolsonaro. Passou.

E agora, um alerta que se fazia já nos últimos dois anos toma cada vez mais sentido e proporção: a estrutura foi abandonada enquanto se cuidava da covid. Os governadores, enquanto surfavam na onda popular do embate com o governo Federal por respiradores e vacinas, deixaram o básico de lado.

Tetos desabam e crianças morrem

Hoje, tetos de hospitais andam desabando, crianças estão morrendo por falta de UTI e medicamentos estão em falta nas prateleiras das unidades de saúde. Pernambuco tem registrado muitos desses casos.

O bebê que morreu no Hospital Barão de Lucena estaria vivo se o governo tivesse feito o dever de casa enquanto brigava com Bolsonaro? O teto do Hospital da Restauração estaria melhor conservado?

Quando se fala em dever de casa é algo previsto, nada surpreendente. Casos de bebês com problemas respiratórios nessa época do ano são esperados, é algo comum. Mas, o governo de Pernambuco não se preparou.

Nesta terça-feira (24) havia 63 crianças esperando UTI, na fila. Nove recém-nascidos em outra fila, por UTI neonatal.

Desde que o teto desabou, basta chover de novo e novos problemas voltam a se manifestar na estrutura do Hospital da Restauração.

A impressão é que ficou tudo sucateado e a saúde foi abandonada em tudo o que não diz respeito à covid. 

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Problemas estruturais são vistos, inclusive, na parte externa do Hospital da Restauração (HR) - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Toda morte é trágica, mas não há nada mais trágico do que a morte que poderia ser evitada. E ainda mais trágica é a morte evitável que acontece por negligência de um serviço público, simplesmente porque os gestores não fizeram o dever de casa.

Morte por falta de hospital, por falta de leito, por falta de medicamento, deveria ser tratado como homicídio no Brasil há muito tempo e terminar em prisão de gestores. Resolveria muita coisa.

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