Cena Política

Quando foi que a covardia virou um ativo político tão importante no Brasil?

Oposição aprovou PEC Kamikaze reclamando, mas votou sim com medo de perder votos em outubro.

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Igor Maciel

Publicado em 14/07/2022 às 19:07
Análise
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Dos 513 deputados federais, 17 votaram contra a PEC Kamikaze. A oposição votou reclamando, mas aprovou.

Quem acompanhou a votação ao vivo pode ter percebido como é sutil a arte da covardia.

Ser covarde é uma arte, sim.

"As contas do país vão ficar ainda mais comprometidas", a "economia pode entrar em parafuso", Bolsonaro (PL) "criou benesses apenas para tentar melhorar seus números e tentar a reeleição". Não é a coluna que está afirmando isso, foram os deputados do PT, do PSB e de outras siglas de oposição.

O curioso foi ouvir essas argumentações seguidas pelo voto “sim”.

Isso “é ruim, mas eu aprovo”.

O erro, com suas várias nuances, que vão do equívoco desprendido ao absurdo intencional, é indicador de caráter ou de repertório pessoal duvidosos. Apenas isso.

Mas, a covardia é uma arte singular porque depende de uma grande habilidade para dissimular a realidade, considerando o erro como “mal menor” ou como uma “vitória dentro da derrota”.

É ignorar que a única vitória de uma derrota é o aprendizado. E, se agora estamos repetindo Dilma em 2014, porque é uma situação muito parecida, não houve aprendizado nenhum.

Por estarmos em um período eleitoral, quase ninguém teve coragem de votar contra aquilo que considerava danoso. O único partido que orientou o “não” à proposta foi o recém-nascido e quase extinto Novo.

Fora dele, um ou outro deputado do PSDB, PSD e União Brasil teve a coragem de votar contra.

Quase todos os que votaram contra a PEC, pela coragem de assumir que ela é ruim ao país no médio prazo, têm poucas chances de reeleição. E se tiverem chance, serão atacados pela escolha que fizeram.

Talvez fosse importante retroceder na História e descobrir quando foi que a covardia, neste país imenso, passou a dar mais votos do que a coragem.

Talvez tenhamos começado a dar errado nesse ponto.

Descobrir quando foi que a covardia passou a ser um ativo político de grande valor é importante para saber se ainda temos alguma chance para o futuro.

Os momentos difíceis só podem ser enfrentados com decisões difíceis e com coragem. O que vimos no Congresso foi um tango entre a covardia e o oportunismo.

E não há representação melhor que um tango para essa PEC.

Alguém já leu sobre a Argentina hoje?

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