Cena Política

Cena Política: O Recife estagnado saúda Pernambuco que pode ir pelo mesmo caminho

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (23)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 23/09/2022 às 0:01
DIVULGAÇÃO
Lula e Danilo; Lula e Marília - FOTO: DIVULGAÇÃO
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O Índice de Vitalidade Eleitoral (IVE) do Instituto Votorantim, divulgado esta semana, colocou o Recife como a capital com a menor saúde democrática do país. As avaliações do índice são formadas partindo de três eixos principais: "Engajamento", "Diversidade e representatividade" e "Alinhamento e competitividade". No Brasil inteiro, a média dos municípios no índice, que vai de 0 a 100, foi de 65 pontos. A capital pernambucana ficou em 56.

Não é de se admirar. Se você considerar os critérios do índice, seria impossível Recife estar bem posicionada. Os coordenadores do estudo explicaram que a cidade está há 10 anos sendo governada pelo mesmo partido. É verdade, mas vai além. Estamos com o mesmo grupo no poder há quase 22 anos e teremos 24 anos, no mínimo, quando a gestão João Campos (PSB) terminar. Antes dele foi Geraldo Julio (PSB), antes foi João da Costa (PT) e João Paulo (PT), este começou seu mandato em 2001. Nem sempre o PSB e o PT estiveram juntos na prefeitura? Formalmente, talvez não, mas os rompimentos foram brevíssimos, quase em pequenas passagens teatrais. E, algo que chama atenção, a vice foi ocupada durante 16 desses 22 anos pelo mesmo personagem: Luciano Siqueira (PCdoB). No único momento em que o vice mudou, assumiu Milton Coelho, que é do PSB, no mandato de João da Costa.

Se não há alternância, a democracia fica enfraquecida. Se um grupo passa tempo demais no poder, cria-se uma concentração eleitoral que desequilibra o processo e acaba com a competitividade. Sem competitividade, a sociedade não se oxigena e novas ideias nunca surgem. Se não existe alternância e nem competitividade, como esperar engajamento político que não seja o do beneficiado pelo poder, esperando continuar com seu benefício intacto. O único engajamento do Recife é o do funcionário público brigando para manter seu emprego. E se cada um sempre trabalhará para si próprio dentro de um processo eleitoral, como esperar que ele traga mudanças e desenvolvimento para a sociedade no médio e longo prazo?

Quer entender o motivo de o Recife estar entre as capitais com o pior nível de emprego do Brasil? Releia o último parágrafo. Por que o Recife está entre as capitais mais desiguais do país? Releia o último parágrafo. Por que o Recife é considerada uma capital com poucos atrativos para investimentos? Releia o último parágrafo.

Daria para fazer uma lista imensa de índices em que o Recife vai mal entre as outras capitais brasileiras. E a ausência de alternância no poder, a falta de oxigênio social e o imobilismo político são fatores indiscutíveis nessa decadência. O Índice de Vitalidade Eleitoral é um resumo bem elaborado do fator político e eleitoral na realidade da principal cidade de Pernambuco.

A proposta para o governo do estado, posta hoje às urnas, não é nem um pouco diferente. A ideia é que se peguem os últimos 16 anos e se duplique a mesma visão, as mesmas concepções de desenvolvimento, com PT, PSB, ou agora com Solidariedade, por novo período. A ideia é mudar sem mudar nada, como é feito no Recife desde o início deste milênio. Porque, tirando o ódio pessoal entre os que disputam o poder este ano, difícil é encontrar diferenças substanciais entre eles, com raríssimas exceções.

FHC e Lula

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez o que sabe fazer melhor: usou uma extensa capacidade de argumentação para dizer sem dizer aquilo que queria dizer, mas não podia. Declarou apoio a Lula (PT), embora seja presidente de honra do PSDB, que apoia Simone Tebet (MDB). Fez isso sem citar o nome do petista, mas usou até as palavras de ordem da campanha do PT. Pediu que seus apoiadores votem "em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual”. Os petistas comemoraram muito.

É interessante que FHC, hoje, seja importante para Lula. É mais grandioso ainda vindo de Fernando Henrique, porque até as emas e periquitos do Palácio da Alvorada sabem que o inverso nunca aconteceria. Lula nunca foi capaz desse tipo de grandeza. Mas, Lula, que chamava o tucano de “professor”, quando eram amigos e tomavam cerveja no boteco bem antes de serem presidentes, poderia aproveitar e aprender algo para a vida.

Pedir desculpas por ter usado a própria posição para atacar a reputação de FHC por tantos anos, jogando a população contra o responsável pelo mínimo de estabilidade que esse país conquistou, seria um bom começo. Nunca é tarde para alguma nobreza.

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