O samba para Alexandre de Moraes fica entre o deboche e a falta de senso. Nenhuma dessas opções convém a um juiz
Alexandre de Moraes não é burro, nem é ingênuo. O samba não lhe é proibido, nem a alegria. Mas, há posições públicas em que é preciso entender o que convém e o que não convém.
Há o permitido, o proibido, o recomendado e o não recomendado. Mas, a maior expressão da singeleza nas atitudes mais efetivas, dentro da vida pública, é avaliar o que convém e o que não convém.
Imagine que você é um ministro de tribunais superiores e está sendo usado como alvo por grupos políticos que querem atacar a credibilidade das instituições que você representa. Você é o caminho, sem ser a verdade e a vida propriamente ditas, mas é o caminho pelo qual um grupo com interesses antidemocráticos, tenta legitimar suas ações.
Agora, imagine que você deu ordem para que um integrante desse grupo amalucado fosse preso pela Polícia Federal por ameaçar as instituições, ampliando a raiva deles.
Nesse meio tempo, você cumpre seu dever dando posse como presidente ao sujeito que é o principal motivo da derrota desse grupo.
Num só dia, você prendeu um amigo e confirmou a vitória do inimigo deles, que já estão na rua, entre ilusões, delírios e interesses privados, alimentados por uma crise de dissonância cognitiva que faz pensar sobre os limites entre loucura e realidade.
É de se pensar que vão estar chateados e, mais que isso, insensatos que são, devem ficar revoltados.
Agora, responda: após toda essa agenda, você iria para casa tomar um banho quente e ouvir música, ciente do cumprimento de seu dever, para deixar a poeira baixar após tanta tensão, convicto de que a discrição e o distanciamento pessoal são a base da credibilidade de um juiz?
Ou iria para uma roda de samba comemorar?
Alexandre de Moraes não é burro, nem é ingênuo. O samba não lhe é proibido, nem a alegria. Mas, há posições públicas em que é preciso entender o que convém e o que não convém.
A tal roda de samba a que Lula (PT) e Moraes foram e estavam juntos, aconteceu logo após a diplomação do presidente eleito, numa solenidade presidida por Moraes.
A festa foi na casa de Kakay, também conhecido como Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado que costuma prestar serviço a políticos, muitos deles enrolados em processos no STF, integrado por Moraes.
Kakay estava na casa dele e não tem culpa de nada nesse episódio, nem Lula que estava lá para comemorar e tem esse direito, ainda.
Mas o que Moraes foi fazer lá é algo que só a ausência, mesmo que furtiva, do senso de responsabilidade com a própria posição pode explicar.
Mesmo que não seja a intenção, pode soar também como deboche. E deboche é algo que não convém, podendo ser punido pelo Conselho Nacional de Justiça.
CNJ, aliás, criado por Lula e do qual Moraes já fez parte.