Cena Política

Preocupados com potencial de Tebet, petistas deram um carro cheio de problemas para ela dirigir

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (29)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 29/12/2022 às 0:01
MIGUEL SCHINCARIOL / AFP
Simone Tebet (MDB-MS) - FOTO: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

O que se tem falado é que Lula (PT) convenceu Simone Tebet (MDB) a aceitar o Ministério do Planejamento com um bilhete dentro de um envelope. Numa viagem entre Brasília e São Paulo, quando se esperava que o futuro da ex-candidata à presidência fosse definido, os dois teriam conversado sobre tudo, menos sobre o ministério.

No desembarque, o presidente eleito entregou um envelope e pediu que ela só abrisse depois do Natal. Tebet abriu antes, claro: “Peço que você aceite o Ministério do Planejamento”, dizia. Ela aceitou.

O ministério será entregue desidratado, sem os bancos públicos, como ela queria, e com uma participação bastante limitada nas áreas sociais da gestão. Até o controle do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que ela colocou como exigência para aceitar, tem suas limitações.

É como se ela pedisse um carro para trabalhar e, depois de muita discussão, o PT tivesse acatado. Mas trocaram os pneus novos por um meia vida, diminuíram o dinheiro pro combustível, arrancaram os limpadores e ela precisa dar um nó no cinto de segurança, porque ele não trava.

Nos últimos dias, a hábil máquina petista de moer reputações trabalhou muito. Nas redes sociais, militantes e robôs se espalharam em argumentos que depreciavam Tebet. Desde questionamentos sobre a influência real dela nos resultados do segundo turno de Lula até ataques mais baixos foram frequentes.

No mínimo, acusava-se uma suposta "pretensão exacerbada" da senadora em escolher a pasta que ocuparia, como se isso fosse um desrespeito. “Ano que vem ela não tem mandato, deveria aceitar qualquer coisa”, foi repetido no Twitter e no Instagram em demasia.

A pressão para que ela nem estivesse entre os ministros foi grande. O pedido de Lula, num bilhete, com a recomendação de não abrir antes do Natal, é um convite que soa quase como um pedido de desculpas pela situação em que o PT os colocou.

Sim, Lula manda no PT, mas acaba vítima dele com uma frequência impressionante. O bilhete com o pedido para não abrir antes do Natal é coisa de menino apaixonado e inseguro. Lula não é nem uma coisa e nem outra.

A carta é o episódio que reforça a importância de Tebet na vitória lulista. Ele sabe tanto do impacto dela, que agiu como um adolescente inseguro.

Os ataques orquestrados pelo PT à senadora também são sintomas da importância que ela alcançou nos últimos meses. Ninguém nem acreditava que ela seria candidata no primeiro turno, ela cansou de ser convidada para ser vice, como se não fosse capaz de sustentar o próprio nome, e acabou desbancando Ciro Gomes (PDT), de quem recebeu um dos convites para ser coadjuvante.

No primeiro turno, quando não apoiava Lula ainda, as menções a ela entre eleitores da esquerda carregavam um olhar para o futuro: “o plano é eleger Lula no primeiro turno e preparar Tebet para 2026”, diziam.

Esse clima ajudou na época, porque a integrou mais fácil ao projeto lulista no segundo turno, mas assustou o PT. Se existe uma preocupação entre os petistas é voltar à coadjuvância depois de tanto trabalho para retomar o poder.

E, não é por acaso, Tebet virou a ameaça mais visível para eles. Todos no PT sabem que está chegando ao fim o período em que Lula serve de salvação, arrastando um partido que nunca foi capaz de se renovar. Dar um carro velho e tirar o combustível do tanque foi o jeito de o PT dizer que não quer que Tebet vá longe, porque sabe do potencial dela.

Agora, se com esse transporte precário ela conseguir trabalhar bem, não vai ter bilhete que a impeça de ser competitiva daqui a quatro anos. E o PT pode acabar arrependido.

Dos partidos

Ainda não está oficializado, mas é grande a possibilidade de André de Paula (PSD) ocupar um ministério no governo Lula. Está entre Pesca e Comunicações.

É curioso que o protagonismo partidário, e não os resultados eleitorais, estejam levando os pernambucanos para a Esplanada dos Ministérios.

Tirando José Múcio, que foi uma escolha pessoal do presidente, os outros foram derrotados em outubro, mas têm prestígio nos partidos e foram indicados nessas cotas.

André é um ótimo quadro, a propósito. Luciana e Tadeu também podem fazer diferença em suas funções.

Mas todos precisam aproveitar a oportunidade para se reconectar com os eleitores se quiserem ir além da indicação partidária no futuro.

Raquel

O anúncio do secretariado de Raquel Lyra (PSDB) está previsto para acontecer hoje. É impressionante que não tenha havido vazamentos. Ou mostra compromisso inabalável dos auxiliares com a governadora ou que nem eles têm, ainda, a certeza de que serão indicados.

De qualquer forma, o tempo para montar equipe será curto e amplia a necessidade de não cometer erros. Desafio é grande.

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