Paulo Guedes tinha equipe melhor que a de Fernando Haddad. Por isso duraram pouco
Sempre que um auxiliar pedia demissão, Guedes sabia que estava fazendo bobagem e desviando o rumo do que foi proposto em 2018.
Paulo Guedes foi de um fiador importante para o bolsonarismo à pária nacional em cerca de dois anos. E isso aconteceu mais por culpa do chefe do que dele próprio. Embora ele tenha se deixado levar pela vaidade e pelo orgulho da posição.
Mas, algo muito importante que Paulo Guedes fez foi colocar em cargos estratégicos pessoas tão ou mais capazes que ele. Quem se cerca de gente medíocre, condena-se à estupidez.
Ter gente bem preparada e com capacidade para nos desafiar funciona como um seguro para quando estamos fazendo muita bobagem. Sempre que um auxiliar pedia demissão, Guedes sabia que estava fazendo bobagem e desviando o rumo do que foi proposto em 2018.
Sempre que alguém deixava a equipe e o ministro precisava substituí-lo por alguém que, simplesmente, iria concordar com ele, o antigo “Posto Ipiranga” percebia que não tinha mais como entregar o que foi prometido dentro de uma agenda liberal.
Isso aconteceu muitas vezes ao longo de quatro anos e a equipe se esfacelou. Se escolheu seguir ministro, foi porque o apego ao cargo importante já havia se tornado maior que a coerência. Quando você é grato demais pelo cargo que ocupa, está condenado e pode condenar o mundo ao seu redor.
E esse é o problema de Fernando Haddad (PT). O novo ministro da Fazenda montou uma equipe de “balançadores de cabeça”.
Seus auxiliares não têm carreiras importantes fora do vínculo ideológico com o petismo ou a esquerda e se veem mais honrados pela posição que alcançaram do que cientes do sacrifício que um agente público precisa fazer no exercício honesto da função.
Honrados com as cadeiras e não tementes dos obstáculos, farão o que for possível para se manter ali, mesmo que tudo esteja dando errado, mesmo que Haddad cometa erros imensos.
Muita gente se pergunta o motivo de Fernando Collor, três décadas atrás, ter tido condições de bloquear o dinheiro da população sem que o mundo caísse imediatamente sobre ele e sem que toda a equipe econômica pedisse demissão.
Acontece que toda a equipe econômica estava grata por estar ali e certas gratidões são perigosas. Zélia Cardoso, então ministra da Fazenda, entre vaidade e orgulho pela posição que ocupava, foi em frente.
Na equipe dela, todo mundo estava tão orgulhoso de estar ali que ninguém pediu demissão com o absurdo que estavam cometendo. Tempos depois, quando não havia mais como ter orgulho de estar naquele governo, alguns chegaram a declarar que “eram contra, mas estavam todos convictos, etc”.
Não é que Haddad vá fazer algo desse tipo, porque hoje temos um controle externo muito mais apurado do que havia na época, mas a chance de alguém que monta uma equipe com esse perfil fazer besteira é grande.
O pior é que o próprio Haddad foi escolhido ministro com esse objetivo. Ele é o “balançador de cabeça” de Lula. Embora finja fazer contrapontos internos ao chefe.
Com as últimas declarações do presidente, tentando encontrar uma briga com o Banco Central, há quem aguarde Haddad como conselheiro lulista. É bom esperar com paciência.
Não vai acontecer, por enquanto. Ele ainda está muito grato por ser ministro da Fazenda.