Cena Política

Lula quer moralizar o uso político das redes sociais ou só trocar a guarda da desmoralização?

Nas últimas duas décadas, a relação entre a origem do dinheiro que financia e o destino da informação falsa ou exagerada continuou a mesma: é o sujeito que paga como contribuinte para ser enganado como eleitor.

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Igor Maciel

Publicado em 23/02/2023 às 16:41
Análise
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O canalha de casa é sempre menos canalha que o do vizinho, embora sejam todos canalhas.

Regulamentar e proibir a exploração eleitoral, com uso de informações falsas ou exageradas nas redes sociais, é necessário. Essa tem que ser a base da reforma legal que precisa atingir as redes sociais. Mas, qualquer governo fazer isso, estando no curso de seu próprio poder vigente, é temerário.

O PT tentar ser exemplo de boa relação com a imprensa é algo bem discutível. Quem tiver mais de 30 anos de idade e um mínimo de memória honesta vai lembrar que os governos de Lula (PT) e Dilma (PT) ficaram conhecidos, nesse ponto, por liberar verbas públicas para blogs amigos, cujos pagamentos dependiam da abordagem que eles davam em assuntos de interesse do governo.

Não precisa ir longe, porque em gestões regionais o PT mantinha uma rede de rádios comunitárias, cujos “responsáveis” recebiam verbas de acordo com a disseminação de notícias favoráveis aos prefeitos e vereadores aliados.

Boa parte da discussão acadêmica da primeira década do ano 2000 sobre “democratização da mídia” era, na verdade, completamente contaminada pelo aparelhamento ideológico dessas mídias, chamadas de “alternativas”.

Tem gente que se beneficiou eleitoralmente e usufrui do resultado até hoje.

Isso mudou no governo Bolsonaro (PL)? Sim e não.

Todo o esforço que havia para promover blogs amigos e rádios comunitárias aparelhadas continuou sendo feito, mas o foco passou a ser a rede social, com seu falso véu de expressão livre que, na verdade, não tem nada de liberdade.

As redes mais populares remuneram postagens de acordo com a sua popularidade. Para ser popular nas redes é preciso aproveitar ondas de interesse em determinados temas, ampliando o alcance e a audiência.

Se você tiver bastante dinheiro para, artificialmente, formar essa onda com o conteúdo que bem entender, terá como ditar a pauta das repercussões do dia para faturar politicamente.

E a rede social utilizada vai remunerar o resultado, geralmente em dólar.

Por isso os influenciadores bolsonaristas embarcavam em qualquer maluquice que estivesse repercutindo, mesmo contra a lei, para poder faturar mais e por mais tempo.

Mudou-se a estrutura, mas o financiamento das “milícias de informação amiga”, nome adequado para o fenômeno, é o mesmo.

Na prática, um grupo político usava blogs e rádios comunitárias e o outro passou a usar as redes sociais. Nas últimas duas décadas, a relação entre a origem do dinheiro que financia e o destino da informação falsa ou exagerada continuou a mesma: o cidadão paga a fatura como contribuinte para ser enganado como eleitor.

Outro aspecto que iguala os dois grupos, aliás, é o combate à “concorrência”. Por isso, a imprensa séria sempre teve problemas com Lula, com Dilma e com Bolsonaro.

A pergunta que é preciso fazer quando Lula defende uma "regulamentação das mídias" é se haverá uma moralização do uso de verbas públicas destinadas à comunicação, ou se o objetivo é apenas trocar a guarda da desmoralização com objetivo ideológico, como já aconteceu no governo de Jair Bolsonaro.

Vai se trocar um modelo pelo outro ou vamos eliminar o modelo em si? Porque é esse modelo, no fim das contas, o que prejudica mesmo o país e a democracia.

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