Cena Política

A decepção do eleitor lulista importante e as tolas justificativas militantes

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (28)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 28/03/2023 às 0:01
EDUARDO MATYSIAK / AFP
Sergio Moro - FOTO: EDUARDO MATYSIAK / AFP

O escritor Paulo Coelho não é um apoiador eventual de Lula (PT). Vota e pede votos para o petista há décadas. A postagem recente dele em que se disse decepcionado e classificou o mandato atual como patético repercutiu muito mais por isso. Decepcionados já são muitos, mas a opinião do “mago” tem impacto nesse ponto.

E, talvez por isso, outros apoiadores de Lula tenham se apressado em ir às redes responder e/ou justificar. Os argumentos foram variados, desde o pouco tempo que o novo governo teve até a “herança maldita” deixada pelo antecessor.

Chamou atenção o nível de hostilidade contra o escritor brasileiro, chamado até de “burro”, entre outros adjetivos que não cabem aqui. É a velha prática petista de só reconhecer a inteligência de quem segue a cartilha. Discordou, é burro.

Mas a justificativa mais frequente entre as respostas a Paulo Coelho é a de que “se Bolsonaro foi ruim, todos são obrigados a ter mais paciência com Lula”.

Sim, essa argumentação foi bem frequente nas interações do público. O que é um absurdo completo.

Paulo Coelho justificou, na postagem, sua decepção: “cair na trampa de ex-juiz desqualificado, incapacidade de resolver problema do BC, etc”.

Felipe Neto, por exemplo, saiu-se com essa resposta a Paulo: “Lula ainda vai errar muito, mas não esqueça que o outro era Bolsonaro”.

Por que o argumento é absurdo? É como se você fosse um pequeno empresário e tivesse demitido um vendedor que tentou colocar fogo na sua loja. Você, em seguida, contratou um substituto e esse novo funcionário não vende nada porque vive brigando com os clientes, com os fornecedores e está lhe dando um grande prejuízo. Mas, tudo bem, porque “ao menos ele não bota fogo em nada”.

Bolsonaro ter sido ruim não isenta Lula de ser responsável com suas declarações e de começar a apresentar resultados significativos condizentes com a esperança que ele construiu para seus eleitores. Essa é a realidade além da militância.

E é no mundo real, não no militante, que o Brasil precisa melhorar.

Essa trampa

O estopim para a insatisfação de Paulo Coelho parece ter sido o que ele chama de “cair na trampa”, numa referência a Sergio Moro (UB). “Trampa” significa trapaça.

A verdade é que o presidente habilita ou reabilita adversários cada vez que abre a boca. O que mais se comentou nos últimos dias foi o quanto o presidente petista ajudou Moro, ao duvidar, sem nenhuma prova ou mesmo indício, das ameaças de organizações criminosas que o ex-juiz e sua família sofrem.

Depois de ser “herói” para muitos, Moro estava no quartinho de despejo da História, principalmente pelas decisões erradas que tomou na política e pela ingênua confiança que andou depositando por aí.

Moro é um acumulado de erros estratégicos andando de terno e gravata. Sem falar no ônus das decisões que tomou contra bandidos quando era ministro e que agora se materializam em ameaças.

O que Lula fez foi tirar o adversário do quartinho do ostracismo e trazer o senador de volta à sala de jantar. Moro voltou a ter voz e um lugar à mesa.

Goste ou não de Moro ou de Lula, Paulo Coelho, que nem é político, tem toda razão.

Do "menos ruim" ao "apesar de"

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), está conseguindo ampliar tanto a sua atuação em diversos segmentos da rotina da cidade que vai cumprindo seu maior desafio neste início de preparação para a campanha de 2024, quando tentará a reeleição: “desvencilhar-se do PSB”.

Não, João não vai sair do partido de seu pai e de seu bisavô, não vai nem mesmo negar que pertence à sigla e nem vai precisar se mostrar falsamente insatisfeito com os socialistas para se descolar.

A estratégia de João, claramente, é aparecer em tantas frentes, desde obras importantes até competições de corridas no fim de semana, passando por intervenções na mobilidade, que ninguém nem lembre da rejeição ao PSB, ainda grande na cidade.

O atual prefeito não teria vencido a disputa em 2020 se não fossem os votos à direita. Ele sabe disso e sabe que só foi possível porque sua adversária no segundo turno era Marília Arraes, na época pelo PT.

No cálculo da raiva ideológica recifense, “PT é pior que PSB”. Este ano o PT está na prefeitura como aliado.

Desta vez, ao invés de aparecer como o “menos ruim”, a ideia é apostar no “apesar de”.

Um dos planos é que o eleitor de direita vá às urnas votar em João Campos pelo trabalho dele, “apesar de ele ser do PSB e estar aliado ao PT”. Pode dar certo.

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