Cena Política

O absurdo de uma plataforma com selo do governo para definir o que é verdade no mundo

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (29)

Igor Maciel
Cadastrado por
Igor Maciel
Publicado em 29/03/2023 às 0:01
RICARDO STUCKERT/PR
Lula (PT) - FOTO: RICARDO STUCKERT/PR

Imagine que você está em 2021, com menos de um ano desde o início da pandemia, e precisa checar uma plataforma criada pelo Governo Federal da época com o objetivo de informar o que era “fake” e o que era “fato”.

Levando em consideração as declarações de integrantes da gestão naquele período, o site (oficial) iria afirmar que “vacinas aumentam a chance de pegar HIV”. Isso estaria lá como verdade, embora seja um absurdo completo.

Não é algo retirado da cabeça de um maluco qualquer tentando ganhar dinheiro com cliques em redes sociais. Essa afirmação foi feita pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Outras maluquices, algumas repetidas por integrantes daquele governo, falavam sobre a vacina ter um chip líquido para controle populacional ou mudar o DNA dos vacinados. Tudo isso poderia estar lá como “verdade checada”, no site idealizado pela gestão Bolsonaro para definir o que é verdade e o que é mentira na internet. Isso conduziria pessoas a erros e aumentaria o número de mortes.

Não aconteceu assim, por um motivo simples: essa plataforma não existia.

O problema é que, agora, ela existe. O governo Lula lançou um site oficial de checagem de informações. A ideia é “combater a disseminação de fake news” nas redes sociais.

Lula (PT) já fazia isso nas eleições, mas agora quer fazer o mesmo com dinheiro do contribuinte e o brasão da República como atestado. A gestão vai selecionar publicações para dizer se são ou não verdadeiras.

O lançamento da ferramenta foi feito logo depois que Lula chamou de “armação”, sem provas, uma operação da Polícia Federal. Antes ele disse, também sem provas, que a Operação Lava Jato havia tido a “influência dos EUA”, provocando um estranhamento com o governo americano. E um pouco antes ele classificou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) como “golpe”, apesar de tudo ter acontecido dentro das regras constitucionais.

Você pode dizer que 2+2 e 1+1+2 são a mesma coisa, apenas porque o resultado de ambas as contas é 4. Mas, isso é falacioso. O problema da definição sobre o que é verdade e o que é mentira é que não se trata de matemática apenas, porque falácias usam a matemática para se legitimar.

Dilma e João Goulart, ex-presidentes, foram igualmente impedidos de terminar seus mandatos. Mas um processo seguiu a Constituição e o outro não. Um foi golpe e o outro não, apesar de o resultado ter sido o mesmo para eles.

Definir o que é verdade e o que é mentira depende de critérios que vão além da matemática. É sobre independência e credibilidade num nível que nem mesmo um só veículo de comunicação pode alcançar em lugar nenhum do mundo.

E é por isso que as agências de checagem costumam ser independentes ou formadas por consórcios de veículos de comunicação, para diluir interesses privados, sempre, e aumentar a credibilidade das informações. É preciso basear o diagnóstico em dados e não em perspectivas pessoais.

Agora, qual a lógica de uma plataforma oficial do governo se a credibilidade do diagnóstico parte de uma gestão severamente amarrada à questões ideológicas e partidárias? Como confiar em critérios objetivos operados por uma equipe comprometida politicamente?

E isso vale para as gestões Lula e Bolsonaro, de maneira igual. São dois presidentes que confundem o público e o privado, como se isso fosse regra, e já deram exemplos de falas inconsequentes aos montes. Uma plataforma oficial para legitimar o que gente assim fala é perigoso.

E alguns podem até dizer que é golpe.

"Meritíssimo senhor amigo"

Aliás, o presidente que criou uma plataforma para definir o que é verdade e o que é mentira nas redes sociais é o mesmo que pretende indicar seu advogado pessoal para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Cristiano Zanin é o favorito de Lula para assumir o lugar de Ricardo Lewandowski no STF e o petista nem esconde mais.

Ego

Se o sucesso do trabalho de Dilma Rousseff (PT) no banco dos Brics depender de “saber controlar o próprio ego e trabalhar em equipe”, como disse o ex-vice presidente do Banco Mundial, Otaviano Canuto, numa entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, ontem (28), o resultado da passagem da ex-presidente brasileira por lá é bem incerto. Dilma não é conhecida pela delicadeza com a equipe, nem por controlar o próprio ego. A reportagem completa sobre a entrevista de Canuto está mais à frente, nesta edição, assinada pelo colunista Fernando Castilho.

Comentários

Últimas notícias