Cena Política

Recife como a pior capital do Nordeste para empreender e a mentalidade partidária estreita

Capital pernambucana está na posição 51º do ranking nacional de empreendedorismo e é a pior do Nordeste entre capitais.

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Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 30/03/2023 às 16:28 | Atualizado em 30/03/2023 às 16:30
Análise
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O Recife ficou numa péssima posição no Índice de Cidades Empreendedoras de 2023, medido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). E parte da culpa é do ambiente político que a cidade teve nas últimas duas décadas. Por que o PT e o PSB são cúmplices? Basta se aprofundar um pouco na composição do resultado para entender.

No ranking geral, a capital pernambucana ficou no 51º lugar entre todas as cidades do Brasil. No Nordeste, é a pior entre as nove capitais. Não é o caso de perder para Fortaleza e Salvador, como praticamente nos acostumamos em diversos índices. Recife perde também para Natal, Teresina, Maceió, João Pessoa, Aracajú e São Luís.

É quase uma tragédia completa. O que salva é que a composição do índice é feita com avaliações em vários setores, e o Recife vai bem em alguns.

Apesar do 51º lugar, vamos bem, nacionalmente, nos quesitos Infraestrutura (20°), Inovação (16°), Capital Humano (11º) e Acesso Capital (14º).

Onde vamos muito mal? A posição do Recife cai muito quando se analisa o Ambiente Regulatório (88º), o Mercado (68º) e a Cultura Empreendedora (43º).

Ora, há pontos positivos e negativos, qual a culpa do PT e do PSB? É simples: Esses partidos ocupam a Prefeitura do Recife há 22 anos, e quando falamos de Infraestrutura, Inovação, Capital Humano e Acesso Capital, sabe-se bem a origem desses bons números: o Porto Digital, criado em 2000, no último ano da gestão de Roberto Magalhães.

Foi o último grande impulso com viés empreendedor que a cidade recebeu e rende frutos até hoje.

Já o que derruba o resultado do Recife são índices ligados à governança nos últimos anos. E quem esteve no poder nas duas décadas seguintes à implantação do Porto Digital? PSB e PT.

O pior resultado: Ambiente Regulatório, diz respeito aos entraves burocráticos criados pelo poder público para a abertura e manutenção de empresas.

O Mercado, segundo pior resultado recifense, diz respeito à atração de grandes empresas e indústrias que incentivem novos negócios locais.

O terceiro pior resultado da capital pernambucana, Cultura Empreendedora, diz respeito à Educação, que é responsabilidade pública.

O PT governou o Recife de 2001 até 2012 e o PSB está na prefeitura desde então. Por que eles têm responsabilidade? Porque o destravamento de leis e burocracia dependem do relacionamento contínuo do Executivo com o Legislativo traduzido em ações. Não se tem notícia de falta de sintonia entre prefeitos e vereadores nesses anos, mas essas pautas nunca foram prioridade.

O relacionamento do PT e do PSB com o setor empresarial tem um histórico ruim, há dificuldade para atrair empresas porque até o diálogo dos socialistas e petistas sempre foi difícil. Empresários que poderiam investir na cidade, nesses anos, chegaram a ser tratados como inimigos.

E, ainda nesse ponto, o Governo do Estado também tem grande responsabilidade em seus 16 anos de poder. Não por acaso, foram quatro gestões estaduais do PSB nesse período.

Quando se fala de empreendedorismo, o Recife quase parou por duas décadas. E a política partidária misturada com visões de mundo limitadas são as principais causadoras disso.

Mudando?

Para fazer justiça, é preciso dizer que o atual prefeito, João Campos (PSB), vem buscando modificar esse cenário e faz um esforço notável. Uma de suas primeiras medidas foi tentar agilizar o tempo que um empreendedor leva para abrir um novo negócio na cidade.

Em 2022, a cidade chegou a ser considerada a capital com a maior rapidez para abrir uma empresa, graças às ações de desburocratização que reduziram, segundo a gestão, em 92% o tempo médio de cada procedimento.

É bom, é preciso reconhecer, mas os antecessores deixaram um passivo cruel que não se liquida rápido. Há muito para recuperar ainda.

Mudou?

A mudança no governo estadual, do PSB para o PSDB, também dá boa esperança. O secretário de Desenvolvimento Econômico atual, Guilherme Cavalcanti, vem de uma cultura empreendedora e de parceria com o empresariado.

A governadora Raquel Lyra (PSDB) vem de uma família de empreendedores.

Se tudo isso vai se traduzir em resultados efetivos, só o tempo dirá, porque o governo mal começou. Mas, esperança há.

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