Cena Política

Presidente de novo, é difícil, mas Bolsonaro pode ser o maior eleitor de 2024

Confira a coluna Cena Política deste sábado (1º)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 01/04/2023 às 0:01
Gilson Machado/Divulgação
De carona, nos EUA, no carro de Bolsonaro - FOTO: Gilson Machado/Divulgação

Duas coisas precisam ser ditas sobre a volta de Bolsonaro (PL) ao Brasil após alguns meses nos EUA: a primeira é que, sem estar no poder, vai ser cada vez mais difícil para o ex-presidente arranjar espaço e virar notícia como acontecia antes. A ausência de impacto midiático em sua volta chamou atenção. A segunda é que ele pode ser um grande eleitor nos próximos anos, mesmo que não tenha condições de se eleger presidente outra vez.

Bolsonaro (PL) perdeu boa parte do capital político que arrecadou nas eleições de 2022. Hoje, ele teria algo em torno de 20% do eleitorado fiel e essa fidelidade não é toda disposta. Ou seja, esses apoiadores não estão propensos a brigar pelo ex-presidente e ir para as ruas como fizeram antes.

A repercussão nas redes sociais com a volta ao Brasil é um exemplo disso. Segundo a consultoria Genial Quaest, que avaliou a popularidade na internet, Bolsonaro teve 483 mil menções sobre seu retorno. Já o lançamento do arcabouço fiscal do governo Lula (PT) terminou o dia com 493 mil menções, mesmo sendo um tema complexo, de Economia. A diferença foi pequena, mas ficou claro que o ex-presidente não tem total domínio desse ambiente, como já aconteceu antes.

No mundo físico, as fotos da frente da sede do PL, em Brasília, também foram motivo de análise. Havia mais policiais do que apoiadores no local. Há quem diga que muitos estavam esperando no aeroporto e ficaram frustrados quando o ex-presidente foi impedido de ir encontrá-los por questões de segurança. Outros estavam aguardando para fazer uma motociata, mas Bolsonaro optou por não participar e foi direto para o PL.

Com tudo isso, ainda não havia a multidão que se imaginou.

A distância que o ex-presidente manteve quando foi aos EUA, e ficou lá, também o está punindo. A verdade é que a derrota pune.

Por outro lado, Bolsonaro deve ser muito valorizado como eleitor. A derrota pune mais o homem do que a ideia que o sustenta. Esta segue forte.

O ex-presidente deverá ser, rivalizando com Lula, o maior eleitor do pleito de 2024. O papel de eleitor deve se repetir em 2026.

A História brasileira tem vários exemplos assim, figuras políticas com boa repercussão e conhecimento do público, mas que não tem votos suficientes para serem, sozinhos, candidatos competitivos. Em 1989, Fernando Collor procurou Ulysses Guimarães em busca de apoio para ser candidato à presidência. Ouviu um “cresça e apareça” do líder emedebista que o deixou revoltado e ainda mais convicto da candidatura.

Ulysses era um eleitor importantíssimo e todos queriam seu apoio naquele momento. Mas, quando o próprio Ulysses foi candidato, em 1989, terminou com 4,7% dos votos. Collor virou presidente.

Outro eleitor famoso foi, por alguns anos, Paulo Maluf. Em São Paulo, depois de muito tempo no poder, Maluf não tinha condições de ser eleito, ele próprio, para absolutamente nada como já foi antes, mas detinha um patrimônio eleitoral que ajudava a eleger qualquer um. Tanto que Lula, ao lançar Fernando Haddad (PT) para a prefeitura de São Paulo, em 2012, precisou fazer um acordo com o ex-governador e ex-prefeito, ou o petista não teria vencido.

Se for esperto, e nada faz crer que não seja, Bolsonaro será um grande eleitor em 2024, podendo construir uma estrutura política sólida em seu entorno, atuando como chefe de grupo político, sem precisar disputar cargo nenhum, nem mesmo em 2026.

Em Recife

Em Brasília, nesse retorno, um nome que se destacou foi o do ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL). Não é segredo pra ninguém que ele pode ser candidato à prefeitura do Recife e a proximidade com o ex-presidente indica que é o favorito para a missão. Além de estar sempre próximo e ter passado alguns dias nos EUA com o ex-chefe, Gilson foi jantar com ele e outros aliados mais próximos após o evento de recepção, em Brasília.

O ex-ministro teve mais de um milhão de votos na disputa pelo Senado em 2022. O ambiente político era outro e o cargo também, é verdade. Mas não é nenhuma novidade que esses votos tiveram como origem o bolsonarismo. E que Gilson terá Bolsonaro como eleitor, isto é certo.

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