Poucas organizações são mais conservadoras, no pior dos sentidos, do que os sindicatos. Embora eles se conectem ao poder através de partidos de esquerda, ditos revolucionários, os sindicatos tendem a trabalhar para que nada mude, nem para melhor e nem para pior.
A estrutura de poder do sindicalismo, para ser mantida, depende de pouca ou nenhuma mudança externa. Não importa se a mudança é boa. Para os sindicatos, mudar é ruim. É para gerar empregos, salvar aposentadorias, reestruturar o metrô, melhorar a educação? Não interessa.
Sindicatos, com raras exceções, se alimentam da precariedade. Melhorar atrapalha.
Nesse caso da suspensão do Novo Ensino Médio, este é o maior problema. A pressão desses grupos sobre o ministério da Educação é imensa. E como o sindicalismo é a base eleitoral de muitos petistas, eles acabam tendo influência neste governo.
É um absurdo, porque as escolas já estavam se adaptando, a rede pública já estava com o processo bem adiantado e, no plano geral, o contribuinte já gastou R$ 2 bilhões nessa adaptação. O governo federal assinou os cheques, mas o dinheiro veio, como sempre, do bolso do contribuinte. O meu e o seu dinheiro, com suor de trabalho e fome, com o imposto pago em boletos ou embutido nas compras do mercado.
Mais de R$ 2 bilhões podem acabar sendo jogados no lixo, por questões ideológicas, porque foi outro presidente quem teve a ideia, ou porque a mudança vai afetar o equilíbrio de poder dos sindicatos ligados à Educação.
São, basicamente, as mesmas pessoas que reclamavam de outra mudança na Educação, no início deste século. Se você tiver um pouco mais de idade, vai lembrar da luta dos sindicatos da Educação em Pernambuco contra a Escola de Tempo Integral em 2004. A hoje senadora Teresa Leitão (PT) era uma crítica do modelo, quando ele foi concebido em Pernambuco, no governo de Jarbas Vasconcelos (MDB).
Na época, a proposta foi ampliar o tempo que os alunos passavam na escola, com uma proposta de aprendizado expandido. E aí, se reclamava de tudo: “querem privatizar a Educação”, “é para explorar ainda mais os professores”, “não tem estrutura para isso”. O governo não cedeu à pressão porque não dependia dos votos dos sindicalistas.
A Escola de Tempo Integral deu tão certo que quando o novo governador assumiu em 2007, Eduardo Campos, ampliou o programa e transformou em política de estado. Eduardo era da esquerda, neto de Miguel Arraes e o PT logo se aliou a ele.
Sem surpresa, em pouco tempo ninguém reclamava mais das Escolas de Tempo Integral. De “modelo explorador” e “privatizado”, o Ensino Integral passou a ser vitrine para outros estados e uma “grande realização”.
Quando o Novo Ensino Médio estava sendo gestado, entre 2016 e 2017, ele foi apresentado a vários governadores nos estados para que eles dessem suas opiniões.
Agora, adivinhe: quem foi o governador que mais fez elogios e mais se mostrou empolgado com o Novo Ensino Médio naquela época? Camilo Santana, que no período governou o Ceará.
Camilo era um ponto de interesse para aquela discussão porque o Ceará era modelo no setor. Gostou muito e se mostrou empolgado com as mudanças no Ensino Médio, que complementavam o bom trabalho feito no Ceará com a Educação Básica.
Agora, como ministro, ele é obrigado a ceder às pressões ideológicas e partidárias, suspendendo o Novo Ensino Médio.
E a Educação que espere, porque, pelo jeito, é melhor obrigar os estudantes a cumprirem um currículo defasado e desestimulante que causa evasão escolar, do que arriscar o poder estabelecido de políticos amigos do governo que sobrevivem dos sindicatos.
Um dilema
A pesquisa do instituto Paraná divulgada esta semana, com a aprovação dos governos Lula (PT), Raquel Lyra (PSDB) e João Campos (PSB), no Recife, trouxe um dilema para a governadora.
É que os três aparecem com percentuais de aprovação muito bons, na faixa dos 60%. O índice de aprovação de Campos chega a 66%. Raquel vem em seguida com 63%. E Lula tem 62% na capital pernambucana.
O dilema é lançar um candidato ou candidata à prefeitura do Recife em 2024, contra o atual prefeito que demonstra muita força neste momento, liderando todas as pesquisas. Uma disputa direta, com Raquel apoiando um adversário contra João, vai dividir essa aprovação. E uma derrota pode acabar custando caro para a reeleição dela própria, em 2026.
A neutralidade seria a melhor opção eleitoral. Mas, isso é possível estando no principal cargo político do estado?
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