Secretário Executivo do ministério de Portos e Aeroportos no Governo Lula (PT), Roberto Gusmão reconheceu um mérito da gestão de Jair Bolsonaro (PL), durante entrevista à Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, ontem, numa atitude que deveria fazer escola na política.
Gusmão, que já comandou o Porto de Suape, admitiu que a gestão bolsonarista nos Correios foi boa e que a empresa passou a “dar lucro quando foi conduzida de maneira correta”.
O secretário, ligado ao PSB em PE, está certo. Em 2022, a estatal alcançou um lucro de R$ 1,5 bilhão. Isso era inimaginável há alguns anos, depois de todos os escândalos de corrupção envolvendo a companhia e os maus resultados em sequência.
Bolsonaro indicou militares para conduzir a empresa e, nesse caso específico, deu certo. Mas o general que comandou os Correios também derrubou um argumento frequente do sindicalismo brasileiro: o de que as gestões "liberais" deixam as estatais quebrarem para poder privatizar.
Ele fez o contrário e saneou as contas. Foi curioso, porque a missão dada ao militar que presidiu os Correios foi a de vender a empresa, sim. Por isso ela foi incluída no plano de desestatização. A estratégia dele foi, exatamente, mostrar que a empresa é viável para a iniciativa privada, porque pode dar lucro.
O que o governo Bolsonaro fez foi valorizar a empresa que estava desacreditada. Quando fosse vendida para a iniciativa privada, o dinheiro poderia, ali sim, tirar do papel uma infinidade de benefícios aos brasileiros.
Mas Lula não demorou e já tirou ela da lista de vendas, numa demonstração de que pretende manter os Correios como mais uma estrutura em que se possa arranjar emprego para aliados políticos, independente de eficiência.
Nunca é demais lembrar que foi nos Correios que se originou o escândalo do Mensalão, na primeira gestão petista, por causa dessa política de distribuir espaços com aliados. Foi em gestões petistas que, por sinal, a empresa teve grandes prejuízos. Nos dois últimos anos do governo Dilma (PT), só como exemplo, foram quase R$ 400 milhões negativos.
A fala de Roberto Gusmão à Rádio Jornal, reconhecendo pontos positivos da gestão anterior é honesta e deveria servir de exemplo porque é impossível que um país cresça com descontinuidades. Quando um presidente se ocupa eternamente da missão de desconstruir o antecessor, ninguém ganha nada.
Seria muito bom se, nesse marco de cem dias do governo Lula, houvesse mais gente reconhecendo o que deu certo em anos anteriores ao petismo, seja de Bolsonaro(PL), Temer (MDB) ou FHC (PSDB).
Roberto Gusmão, vejam só, deveria fazer escola.
O livro azul
O governo Raquel Lyra (PSDB) fez uma reunião com os secretários e apresentou um calhamaço com mais de 800 páginas que seriam um balanço dos primeiros 100 dias de governo, um relatório de como o Estado foi encontrado pela nova gestão e o que foi feito para tentar melhorar a situação até agora.
Houve quem brincasse que a leitura do texto só vai terminar quando o governo já estiver completando um ano.
Brincadeiras à parte, o mais importante é observar como o evento e a publicação do “livro azul”, como está sendo chamado, provocou a voz de quem andava muito calado.
O ex-deputado Danilo Cabral (PSB), por exemplo, se pronunciou com algumas críticas à governadora.
A oposição na Alepe, que andava sem saber se já estava liberado reclamar, também se pronunciou e fez críticas.
Parlamentares do PSB chegaram a questionar, nos bastidores, se era verdade que o estado estava quebrado e como a governadora resolveu isso em três meses. “Se estivesse quebrado, precisaria de 12 a 24 meses para uma recuperação fiscal”, garantem.
Piadas à parte, o “livro azul” e os cem dias acabaram desencadeando o que a coluna alertou que aconteceria no último sábado.
Não dá pra cobrar Raquel pelo que foi feito até agora, porque em cem dias não dá pra fazer nada de efetivo. Mas, é o ponto de partida, a largada para todas as cobranças que os agentes políticos do Estado precisam fazer para sobreviver.
João e Lula
João Campos (PSB) apareceu ao lado de Lula (PT) para anunciar empréstimos do BID no valor de R$ 2 bilhões para infraestrutura em áreas carentes no Recife. Lula aceitou transformar uma simples assinatura para a liberação do crédito, enviada ao Senado como mensagem, num vídeo com elogios ao prefeito.
Num momento em que o PT chegou a dar sinais de racha no apoio à reeleição do socialista para 2024, o vídeo serve como “aviso” aos petistas locais.
Comentários