Cena Política

A novela da sequência de embustes chineses que não é nem metade do problema de Lula

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (20)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 20/04/2023 às 0:01
EVARISTO SA/AFP
O presidente Lula (PT) - FOTO: EVARISTO SA/AFP

O embuste é uma mentira ardilosa. É uma informação errada temperada com verdade, para realçar seu sabor. Na novela dos sites de compras chineses, o governo Lula (PT) mergulhou numa trapalhada, intercalada por embustes que têm o objetivo de tentar diminuir o impacto na popularidade do presidente.

Primeiro, ia-se tributar as compras até U$ 50. A repercussão foi ruim. Inventou-se, então, que não haveria tributação e que “o governo só iria cobrar da empresa, não do consumidor”. Esse primeiro embuste foi usado pela primeira-dama e por alguns influenciadores digitais apoiadores do governo, como Felipe Neto.

Era mentira, porque quando você cobra imposto da empresa esse valor entra na formação do preço da mercadoria. O consumidor acaba pagando. E não funcionou, porque ninguém acreditou muito.

Daí, o governo resolveu assumir que os preços iriam aumentar mesmo e que do jeito que estava não dava pra continuar porque os sites chineses abusam da legislação. Parou de brigar com a realidade.

O problema é que Lula (PT) desembarcou da China e recebeu uma nova pesquisa com sua popularidade. Viu que estava mal.

O levantamento da Quaest mostrou que o presidente não está melhorando. Pelo contrário: em relação a fevereiro, na pesquisa anterior, as avaliações positivas caíram 4 pontos, de 40% para 36%, e a avaliação negativa subiu de 20% para 29%. Os que consideram o governo regular também são 29%. Os que não sabem ou não responderam são apenas 6% agora, contra 16% em fevereiro. O índice de aprovação do comportamento do presidente à frente do Executivo caiu de 65% em fevereiro para 53% em março.

Percebendo a dificuldade, Lula mandou que desistissem da história de tributar os sites chineses e arranjassem outro jeito de juntar os R$ 8 bilhões que esses impostos poderiam render.

Quem compra dos sites comemorou, mas há um novo embuste. A tributação não vai acontecer, mas a fiscalização vai aumentar, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Acontece que os sites aproveitam uma brecha na legislação brasileira que isenta produtos até U$ 50, quando estes são passados de uma pessoa física para outra pessoa física, como se fosse um presente. O que algumas empresas fazem é fingir que os envios são feitos entre pessoas físicas, mesmo que não sejam, para não pagar imposto. Se vai haver mais fiscalização, como prometeu Haddad, o imposto vai acabar sendo pago em algum momento, por bem ou por mal.

Por isso, o recuo de Lula pode ser mais um tipo de embuste para “amansar eleitor irritado” do que um recuo de verdade. Tudo depende de como será essa fiscalização.

Não é só isso

E o problema de Lula exposto na pesquisa Quaest é bem mais amplo do que podem sugerir os embustes com os sites chineses. O presidente está perdendo apoio em praticamente todas as classes sociais, regiões do país, faixas de renda, faixas etárias e níveis de escolaridade, como observou o professor Maurício Romão em mensagem à coluna, após analisar os resultados.

O gráfico “para baixo” é uma constante no levantamento que comparou os meses de fevereiro e de março do petista. Não são apenas os sites chineses. Lula falou muita bobagem nas últimas semanas, desde declarações atrapalhadas sobre a guerra na Ucrânia até sobre “vídeo games incentivarem a violência nas escolas”. Esta última declaração foi criticada até pelo “neo-petista desde sempre” Felipe Neto.

Ensino Médio derrubou

Medidas que o governo tomou, pressionado pela ala mais radical do petismo, também estão atrapalhando a aprovação da gestão.

Um exemplo bem claro: dos eleitores que tomaram conhecimento sobre a suspensão do “Novo Ensino Médio”, apenas 29% concordam com a medida.

O Novo Ensino Médio é o conjunto de medidas que foram idealizadas e aprovadas no Congresso durante o governo Temer (MDB) para modernizar o ensino e diminuir a evasão escolar, mas desagrada sindicatos ligados à educação.

Lula mandou suspender as mudanças por pressão e está colhendo impopularidade até nisso. O presidente que nasceu dos sindicatos, pode se prejudicar por ouvir demais os sindicatos.

Livro

As campanhas e estratégias eleitorais, que despertam o interesse de políticos, profissionais das áreas de marketing político, estratégia e comunicação, além do público acadêmico, são o tema do livro "Inteligência Política e Estratégias nas Campanhas Eleitorais" (Editora Vozes), do estrategista político Paulo Moura.

O lançamento será no próximo dia 8 de maio, às 18h30, no auditório do Empresarial JCPM, localizado no bairro do Pina.

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