Justificando uma das últimas bobagens ditas pelo Presidente da República, um aliado de Lula (PT) explicou que ele “estava tenso, querendo fazer com que as coisas dessem certo, porque sabe que precisa dar respostas à população, e acabava falando o que não devia”.
É importante que alguém lhe arranje um ansiolítico, porque o mundo saiu de uma pandemia há pouco e muitos setores estão em ritmo de recuperação.
Não é fácil, por exemplo, encerrar isenções tributárias concedidas no governo anterior para conseguir mais dinheiro. O setor de eventos é um desses casos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) pretendia antecipar o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), criado em 2021 a partir da Câmara Federal, contra a vontade da gestão Bolsonaro (PL), com o objetivo de reduzir impostos e ajudar as empresas da área por cinco anos.
Haddad pretendia diminuir esse prazo e conseguir algumas dezenas de bilhões de reais com isso, mas o setor é grande gerador de empregos e o grupo de Arthur Lira (PP), liderado pelo deputado pernambucano Felipe Carreras (PSB) pressionou o governo a desistir da ideia nesta semana.
A medida nem chegou a ser votada. Bateu na Câmara lá e voltou imediatamente.
Lula precisa trabalhar para garantir que conseguirá melhorar a saúde fiscal do país, antes de ver os juros baixando com alguma segurança para aquecer a economia e cumprir algumas de suas promessas.
Mas, não conseguirá fazer isso se continuar se movendo pelo que as redes sociais da primeira-dama apontarem, como aconteceu no caso dos sites de compras chineses, ou por tentativas de onerar setores impactados pela pandemia, como o de eventos.
A criatividade habitual para criar narrativas terá que ser usada para arranjar dinheiro. Ou a conversa sobre picanha e cerveja da eleição continuará servindo só de piada.
Blocão
A decepção de Haddad com a falha na tentativa de reonerar o setor de eventos, aliás, foi uma demonstração de força do blocão de Arthur Lira na Câmara.
Eles estão lá para ajudar o governo e sustentar qualquer tipo de pressão, como aconteceu no caso do requerimento de urgência do PL das Fake News, mas também têm seus interesses e não vão ceder fácil a tudo que o governo quiser. Lula tem uma base, mas não tem.
É um ambiente bem diferente do que existia nos primeiros dois governos, quando a bancada governista era imensa e ser oposição era sinônimo de isolamento completo.
O “blocão” de cá
Em Pernambuco, a Alepe está fazendo algo parecido com a governadora Raquel Lyra (PSDB). Não tem vida fácil para as propostas do Palácio.
O remanejamento no orçamento, de R$ 5 bilhões, aprovado recentemente, só foi possível numa negociação que incluiu aumento nas emendas liberadas para os deputados enviarem aos municípios.
Agora, para conseguir a liberação de um empréstimo internacional de R$ 3,4 bilhões, o governo está tendo que esperar. Não adiantou a governadora ir à Alepe pedir pressa. Esperava-se votação para esta semana, mas só deve acontecer na semana que vem.
O “blocão” da Alepe não é de um dono, como acontece com Arthur Lira em Brasília. Aqui, chama-se “bancada independente”. Embora o modelo de articulação política do Palácio ajude bastante, deixando os parlamentares cada vez mais irritados, esse grupo independente controla a pauta, até agora, com bastante habilidade.
Só João
De todas as esferas, federal, estadual e municipal, quem melhor vem exercendo influência sobre o Legislativo é João Campos (PSB). O prefeito do Recife estava tendo algumas dificuldades com a articulação política, mas recentemente fez alterações em postos estratégicos da prefeitura com a Câmara e reequilibrou as coisas.
O modelo em que o Executivo fala e o Legislativo atende ainda funciona na gestão municipal da capital. Bancada fiel, só por lá.
E com oposição atuante
Líder da oposição, justamente na Câmara do Recife, o vereador Alcides Cardoso (PSDB) repercutiu, nas suas redes sociais, os dados do Anuário Multicidades 2023, relatório produzido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) referente ao exercício de 2021 dos municípios brasileiros, que apontam que o Recife segue como a capital da Região Nordeste em que se paga mais impostos por habitante.
O valor pago de impostos foi de R$ 1.318,41 por habitante no que foi o primeiro ano da gestão do prefeito João Campos.
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