Cena Política

Quando um presidente perde de propósito e finge que está "lutando pelos seus"

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (10)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 10/05/2023 às 0:01
Marcelo Camargo/Ag. Brasil; Reprodução/Ricardo Stuckert
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e presidente Lula (PT). - FOTO: Marcelo Camargo/Ag. Brasil; Reprodução/Ricardo Stuckert

Em 2022, a renovação da Câmara Federal foi de menos de 39%. Bem diferente dos quase 50% de novos deputados que assumiram mandatos em 2018. Guarde essa informação, porque voltaremos a falar dela.

Quando Lula assumiu este terceiro mandato, começou a tentar entregar o que prometeu aos eleitores. E não apenas aos que foram às urnas, mas também os ligados aos partidos que o apoiaram, cujo compromisso é sempre mais privado que público. Muitos representantes desses setores querem ver desfeito o que os prejudicou, em dinheiro e em votos, nos anos anteriores.

A desculpa é sempre a mesma: “é preciso consertar onde Bolsonaro errou”. O governo Bolsonaro foi ruim, mas o argumento é precário, e por motivo simples: Bolsonaro não fez nada sozinho.

Aliás, ele poderia ter errado muito mais se não fosse o Congresso Nacional para lhe impor algum freio. Todas as medidas mais importantes tomadas pelo governo anterior tiveram apoio do Congresso na legislatura que terminou em 2022.

O Marco do Saneamento, que os partidos de esquerda reclamam tanto? Foi aprovado no Congresso. A desestatização da Eletrobrás? Foi aprovada no Congresso.

Quando tentou derrubar o Marco do Saneamento, Lula conheceu sua primeira grande derrota nesta legislatura. Agora, falando em reverter a desestatização da Eletrobrás, encaminha-se para ser derrotado também e já recebeu avisos do presidente da Câmara, seu aliado Arthur Lira (PP), de que não há chance de algo assim passar.

E, por que isso acontece? Lembra do número que abriu este texto? Pois bem, é que se a renovação foi baixa na eleição de 2022 significa que mais de 60% dos deputados que aprovaram essas medidas entre 2019 e 2022 foram reeleitos. São eles que ainda estão por lá.

Quando Lula envia um texto tentando derrubar o Marco do Saneamento, está pedindo aos deputados que votem ao contrário do que eles próprios votaram antes.

Lula acredita que a mudança de governo também muda, automaticamente, a opinião dos parlamentares. Não funciona assim com todo mundo. O deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos) alertou sobre isso em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

“Foi um erro de estratégia do governo”, sentenciou o pernambucano, que votou a favor do Marco do Saneamento e, agora, foi contra a tentativa lulista de anular parte da lei que o criou. Coutinho tem razão.

Pode ser apenas um erro estratégico. A questão é que ele vai se repetindo muito com a disposição lulista para brigar com a independência do Banco Central, com o Novo Ensino Médio e com a Eletrobrás, apenas para citar os mais frequentes.

Só sendo de propósito.

Lembrando

Quando Bolsonaro (PL) era presidente, numa conversa com um de seus líderes de governo, este colunista ouviu que o então presidente tinha condições de aprovar as pautas que desejasse no Congresso. Teria apoio para isso e só havia uma restrição: as "pautas de costumes".

Dizia esse líder que "pautas de costumes ou matérias relacionadas a um contexto ideológico" não passariam. Mesmo assim, Bolsonaro seguiu abordando a pauta de costumes, apoiando matérias de seus apoiadores mais radicais, mesmo sendo derrotado o tempo todo. Bolsonaro sabia que perderia, mas isso reforçava a imagem de que ele "lutava pelo seus", contra tudo e contra todos. Bolsonaro até gostava de perder.

Era de propósito.

Pautas

O deputado Augusto Coutinho se reuniu, esta semana, com a governadora Raquel Lyra (PSDB). Ele é um dos coordenadores da bancada federal e foi conversar sobre Transnordestina, Escola de Sargentos e sobre o Metrô do Recife.

A relação com os deputados federais tem sido melhor do que com os estaduais para a governadora. Com a bancada da Câmara o clima é de união para beneficiar o estado, o que é bom para todos. Com a Alepe as coisas estão melhorando, mas ainda não estão azeitadas.

Debate necessário

Já que falamos no Novo Ensino Médio, um de seus grandes defensores é o educador e ex-secretário de Educação de Pernambuco Mozart Neves Ramos. Ele está lançando um novo livro sobre o tema da educação.

O lançamento será hoje (10), às 16h. "Educação, a trilha inacabada" será apresentado na Bett Brasil, evento que acontece no Transamerica Expo, em São Paulo.

A obra reúne 44 artigos publicados em periódicos como o Correio Braziliense, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e aqui, neste mesmo Jornal do Commercio.

Mozart já se mostrou indignado com a possibilidade de o Novo Ensino Médio ser anulado, mesmo depois de as escolas estarem avançadas na implantação do sistema que tem como objetivo diminuir a evasão escolar.

Ele lembra que os dispositivos contidos no Novo Ensino Médio já são realidades nos sistemas educacionais mais avançados e bem constituídos do mundo, com ótimos resultados.

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