Cena Política

Quando a ingenuidade resolveu passar as férias no clube de campo das raposas

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (18)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 17/05/2023 às 18:00
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Sergio Moro e Deltan Dallagnol - FOTO: Twitter @@SF_Moro

Sempre ao abordar qualquer aspecto da trajetória de Deltan Dallagnol e Sergio Moro, ampliada e não só no sistema de Justiça, quando migraram para a política, é preciso questionar em que medida eles são mais burros ou mais ingênuos?

Sem discutir aqui a correção do caçador ou se ele também cometeu crimes no percurso, mas imagine que o sujeito pega suas armas e sai para caçar raposas. Captura muitas, de todos os tamanhos e pelagens. O caçador em questão se torna o maior predador de raposas da região. Um dia, acreditando que já fez o que podia com aquelas armas, resolve aposentar as armadilhas, guardar a espingarda no armário e se filiar a um clube de campo.

Sim, o caçador acredita que chegou a hora de sair do mato e curtir um pouco a vida. Ele podia escolher vários clubes para curtir a nova fase e, após estudar minuciosamente os folhetos disponíveis, toma uma decisão: vai passar os próximos anos curtindo a vida no… “Clube das Raposas”.

Parece sensato? Parece algo que uma pessoa inteligente faz? Você, um sujeito inteligente e sensato, deve ter percebido que isso não tinha como dar certo. Mas Sergio Moro e Deltan Dallagnol acreditaram que estava tudo bem.

Em algum momento, devem ter pensado que a presença deles no Clube das Raposas poderia transformar o empreendimento secular, como se fosse por mágica, e que o regimento formal e não formal daquela comunidade mudaria com a presença deles.

Planejar isso num ambiente político, depois de ter processado, esculachado midiaticamente e prendido dezenas de políticos, é de uma ingenuidade tão escandalosa que não tem como não estar atrelada a algum problema cognitivo.

É difícil dizer se a prepotência causa burrice ou o contrário, mas Dallagnol foi o primeiro a experimentar a sanha revanchista das raposas. A decisão veio quase sem discussão, por unanimidade. Em um minuto e dezesseis segundo todos os ministros do TSE votaram para que ele fosse expulso do clube das raposas.

Ele pode até tentar reclamar no STF, mas vai encontrar um ambiente tão ou mais insalubre. Na Suprema Corte não há fãs da dupla também.

Hoje, ninguém sabe se a pior situação é a do ex-procurador Deltan, que já está no olho da rua, ou a de Sergio Moro que ainda está lá dentro do clube à beira da piscina, tomando sol, cercado pelas raposas que lhe servem limonadas temperadas com muito carinho.

As mesmas raposas que ele mandou prender há alguns anos.

Uni-vos

A repercussão após Dallagnol ter o mandato de deputado federal cassado, outra vez, uniu petistas e bolsonaristas nas redes sociais. Há um grupo minoritário que defende combate à corrupção e criticou a decisão do TSE.

Há argumentos jurídicos que apoiam e discordam do resultado do julgamento. Mas entre bolsonaristas e petistas, o que se viu foi muita comemoração, com memes e piadas de todo tipo na internet.

Alckmin companheiro

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin que, hoje, ocupa o cargo de vice-presidente da República é a prova viva do relativismo intelectual operado pelos extremos políticos no Brasil. Desde que saiu do PSDB e entrou no PSB, Alckmin deixou de ser “privatista”, “picolé de chuchu” e ninguém reclama mais que ele mandava a polícia “bater em estudante nas ruas de São Paulo”.

Agora, todo representante da esquerda corre para posar para foto e exaltar a “grandiosidade de sua história e experiência”.

Você não precisa sustentar convicções e nem estudar. Para ser gênio no Brasil, basta concordar com as pessoas certas.

De olho

Bom acompanhar para registro. Todos os deputados federais pernambucanos com influência dentro da CCJ votaram para perdoar as multas milionárias aos partidos políticos que gastaram errado o dinheiro do contribuinte em 2022, menos Mendonça Filho (UB). O ex-ministro da Educação foi o único de PE a ficar contra.

Maria Arraes (SD), Waldemar Oliveira (SD), Silvio Costa Filho (Republicanos) e o Pastor Eurico (PL) votaram a favor da anistia. O texto ainda vai ao Plenário.

Em 2022, os partidos políticos brasileiros receberam R$ 5 bilhões em fundos eleitorais e teve gente que construiu piscina ou montou churrascaria com o dinheiro, fora quem não cumpriu as regras para mulheres e negros.

O TSE multou algumas siglas em cerca de R$ 40 milhões e, agora, os deputados pretendem perdoar a dívida na marra, mexendo na Constituição.

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