Na sala, de um lado da mesa, estavam o deputado federal Carlos Veras, a senadora Teresa Leitão e o senador Humberto Costa. Hoje são os nomes mais importantes do PT em Pernambuco, principalmente pelos cargos que ocupam e pela influência dentro do partido. Do outro lado, o prefeito do Recife, João Campos, que tomou para si a liderança do PSB local e nacional nas articulações pela ocupação de espaços dentro do governo Lula (PT). Um dos assuntos da pauta eram as indicações locais para a Codevasf e para a Sudene.
Para entender o motivo de isso estar sendo discutido com os integrantes desse encontro é preciso relembrar a indicação do PSB para os ministérios, ainda no fim do ano passado. João Campos tomou a frente das negociações com o PT e contrariou Lula.
O presidente esperava na época, e foi bem claro sobre isso, a indicação do ex-governador Paulo Câmara. Em várias ocasiões, quando a discussão acontecia, questionava: “E Paulo?”. As informações de quem acompanhava essas conversas dão conta que Campos mudava de assunto. O prefeito do Recife acabou indicando Márcio França (PSB-SP) para o ministério, e ele foi para a pasta de Portos e Aeroportos.
Apesar das críticas por não indicar um nome do PSB de Pernambuco para a Esplanada (não há socialistas de PE no primeiro escalão de Lula), Campos tinha um plano e pretendia indicar um nome de sua escolha para a sede da Codevasf, em Brasília. Não conseguiu.
Acabou voltando suas atenções para a Superintendência da Codevasf em Pernambuco, mas havia um problema porque o espaço já estava reservado para o PT local. Por isso, a conversa entre a cúpula do PT e o socialista, algumas semanas atrás.
Voltando a essa reunião mais recente, que foi relatada por uma fonte petista, várias soluções foram apresentadas entre João Campos, Teresa Leitão, Carlos Veras e Humberto Costa, mas não se chegava a um acordo.
Campos queria indicar alguém para a Codevasf e que o PT ficasse com a Sudene. Os petistas não aceitavam abrir mão. Foi proposta então uma solução: Humberto Costa indicaria um nome do PSB de sua preferência para a Codevasf e os dois lados ficariam contemplados.
O nome era o de Danilo Cabral (PSB). João Campos vetou. A recusa surpreendeu os petistas e confirmou o que se comentava sobre o PSB, comandado por Campos, estar escanteando nomes históricos do partido. A recusa nacional com Paulo Câmara se repetia regionalmente com Danilo.
Foi somente aí que Humberto Costa teria tomado a decisão de usar um dos espaços do PT para indicar o ex-deputado Danilo Cabral à Sudene. A receita não era uma novidade, foi a mesma usada por Lula com Paulo Câmara. Quando o PSB abandonou o ex-governador, o presidente o indicou para o Banco do Nordeste.
A informação é que não foi exigido de Danilo que se desfilie do PSB e vá para o PT, por exemplo, para assumir o cargo, como Paulo Câmara também não foi obrigado a ir pro PT. O ex-governador, no entanto, deixou o PSB.
Imagina-se por isso que, em algum momento, o ex-deputado Danilo Cabral, que foi o principal nome do partido na eleição de 2022, faça o mesmo, não por imposição dos petistas, mas por decepção com os colegas de PSB.
No fim, Danilo, mesmo no PSB, deve ser realmente indicado para a Sudene por Humberto Costa, do PT.
E João que tentou a Codevasf nacional deve ter que se contentar com metade da Superintendência regional do órgão, que foi “fracionado”. Um escritório da companhia vai ficar no Sertão e outro no Agreste. O PSB ficou só com um deles.
Duas coisas chamaram a atenção nesse episódio. Uma é o percurso de João Campos na articulação nacional que não saiu como esperado. O PSB ficou sem representante de Pernambuco no ministério, anulando um protagonismo que era indiscutível nos governos anteriores do PT.
A outra foi a percepção política de Humberto Costa com o racha que o PSB parece enfrentar em Pernambuco. Uma boa pergunta é se isso terá repercussão no tabuleiro das eleições de 2024.
Dificilmente não haverá.
Dobradinha
Quando assumir a Sudene, Danilo Cabral poderá dizer que estará em situação parecida com a de Paulo Câmara, abandonado pelo PSB e acolhido pelo PT, independente de filiação partidária. No mesmo barco, é esperado que trabalhem juntos também. O Banco do Nordeste e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste podem ser parceiros e complementares dependendo da conjuntura. A ver.