A frase é atribuída ao físico Albert Einstein: “Não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar a cada vez um resultado diferente”. Quando a pessoa não é louca, fazer a mesma coisa esperando resultado diferente também pode ser ingenuidade ou arrogância. Marina Silva e Lula não são loucos, nem são ingênuos. Sobra a arrogância para explicar como resolveram reeditar uma parceria que nunca deu certo entre o idealismo fundamentalista dela e o império da conveniência política dele.
É arrogância de Marina, porque acreditou que faria o presidente refém, por causa da importância muito maior (e necessária) que se dá à preservação do meio ambiente, hoje. Antes havia espaço para tratar esse discurso como “chatisse”. Agora, estamos discutindo algo que pode, seguramente, definir se haverá planeta para ser discutido no futuro. Marina Silva fez as pazes com Lula, embarcou em sua campanha e em seu governo, acreditando que o presidente não teria coragem de lhe contrariar, ante a pressão nacional e internacional pela preservação do meio ambiente.
Do outro lado, apesar do histórico difícil de Marina, Lula acreditou que ela estaria mais pragmática e teria aprendido com os erros do passado. Acreditou principalmente, e aí também foi arrogante, no argumento do “melhor que seja eu”. Todas as entidades que lidam com a preservação do meio ambiente ficaram chocadas com o tratamento dado ao tema pelo ex-presidente Bolsonaro (PL). O petista acreditou que Marina seria obrigada a aceitar que se ele não é o que ela sonha, “ao menos não é um pesadelo”.
Apostaram os dois e está aí a confusão, de novo, porque ambos tem um pouco de razão. Lula não pode contrariar o próprio discurso facilmente e Marina não tem como dizer que Lula é pior do que Bolsonaro. Os dois estão insistindo com algo que não deu certo antes, confiando em fatores externos e não em mudança de personalidade ou opinião pessoal.
Quebrar a cara é a melhor cura para a arrogância. Ambos ainda têm, ao que parece, muito desse remédio para tomar um com o outro ao longo dos próximos dias e além.
Briga com todo mundo
A nova guerra de Marina Silva (Rede) dentro do governo não é muito diferente da que ela travou contra Dilma Rousseff (PT) quando as duas eram colegas de ministério no governo Lula. A base das discussões polêmicas de Marina é sempre a mesma: o governo do qual ela faz parte tenta viabilizar investimentos para a região Norte do país e ela resolve brigar com o próprio governo para satisfazer sua base eleitoral mais radical.
Antes eram as hidrelétricas, agora é o petróleo. Marina tem muitas qualidades, mas para além de sua muito criticada estratégia de “mergulhar” para não ter que se pronunciar em assuntos polêmicos que não tenham a ver com sua base eleitoral, ela briga com tudo e com todos por onde passa. Brigou no PT, brigou no PSB numa temporada que passou por lá, brigou no Rede Sustentabilidade que foi fundado por ela. Brigou em todos os governos dos quais participou.
Mas o problema sempre são os outros.
Lula tipo exportação
Lula não é menos culpado, é bom que se diga. Antes de chegar ao Brasil, quando foi questionado sobre a briga de Marina com o ministro de Minas e Energia, deu a entender que não via problema com a exploração de Petróleo num ponto do oceano que fica a 530 km da Amazônia, mas só iria resolver estando no Brasil. Aí é que está.
Lula, normalmente, viaja ao exterior para vender idealismos aos outros e cobrá-los por isso, mas volta ao Brasil para exercer um pragmatismo seco e rude que faz contas e não sonha muito com o mundo das ideias, porque sabe que sonho não mata a fome do dia.
Se o Lula "tipo exportação" for conversar com Marina, ela vai se dar bem. Se for o "Lula regional", ela vai acabar saindo do governo outra vez.
Pra ficar bem na fita
Pouco depois que a coluna publicou um relato sobre a reunião entre o PT e João Campos (PSB) para definir os comandos da Codevasf e da Sudene, no domingo, o deputado estadual Sileno Guedes, presidente do PSB, publicou um texto nas redes sociais exaltando Danilo Cabral (PSB) e expressando “felicidade com a indicação dele à Sudene”. A indicação, é bom que se diga, não foi do PSB, mas de Humberto Costa, do PT.
Segundo a fonte que conversou com a coluna, nessa reunião o nome de Danilo teria sido sugerido e imediatamente vetado pelo representante socialista que estava no encontro. Foi aí que Humberto resolveu, por conta própria, destinar o espaço ao candidato a governador do PSB que, por sinal, foi apoiado pelos petistas em 2022.
Uma outra fonte, esta uma socialista, entregou que a estratégia é a mesma usada com Paulo Câmara. “Eles vetaram Paulo para tudo, não o indicaram a um ministério como Lula esperava e quando Lula fez justiça indicando ele ao BNB foram a público declarar que estavam felizes. Agora é a mesma coisa”, disse.
TCE
Na eleição que deve acontecer hoje para definir o ocupante da vaga deixada pela aposentadoria de Teresa Dueire no TCE, o favorito é Rodrigo Novaes (PSB). A projeção é que ele seja escolhido com mais de 30 votos. Como a votação é secreta, traições fazem parte do roteiro. Joaquim Lira (PV), pode ter chance.