Cena Política

A guerra fria entre Palácio e Assembleia que alarga o vale entre solução e problema

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (24)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 23/05/2023 às 20:00 | Atualizado em 24/05/2023 às 11:08
PSDB/Divulgação
Álvaro Porto e Raquel Lyra, durante a campanha eleitoral - FOTO: PSDB/Divulgação

Dentro da estrutura republicana da administração pública, quando dois poderes brigam ambos perdem, mesmo que um dos dois vença. A disputa de poder entre Legislativo e Executivo em Pernambuco é de uma estupidez cruel com todos os problemas pernambucanos, tão numerosos quanto urgentes.

Nos últimos dias, o clima de guerra fria que se criou com a escolha dos novos conselheiros do Tribunal de Contas de Pernambuco depõe contra o futuro. A última vaga disponível, resolvida em votação na terça-feira (23), virou um cabo de guerra não entre Rodrigo Novaes (PSB) e Joaquim Lira (PV), mas entre o Palácio do Campo das Princesas e a Alepe.

Enquanto a governadora apoiava Lira, a cúpula da Alepe com o cordão puxado pelo presidente da Assembleia, Álvaro Porto (PSDB), trabalhava por Novaes. Cada um com seus acordos, cada um com seus interesses e, no fim, quem saiu ganhando? O eleito. Ninguém mais, nem os deputados e nem o Palácio.

O escolhido ganhou um emprego com salários de quase R$ 40 mil por mais de 30 anos, garantidos. O prêmio deles vai se estender por muitos e muitos mandatos de governador e deputado. Sabe o que mais vai se estender, quando o Palácio estiver ocupado por outros grupos e a Alepe estiver completamente renovada dos quadros de hoje? O povo de Pernambuco.

Vejamos, então: Um grupo de deputados da Alepe que não estará mais atuando daqui a 30 anos e um grupo no governo que provavelmente não estará mais no Palácio daqui a 30 anos usaram parâmetros pessoais e políticos para uma briga que terá repercussões pelas próximas décadas.

Levaram em consideração as necessidades atuais dos pernambucanos, a qualidade dos escolhidos, o equilíbrio do julgamento deles nas decisões que irão tomar? Não. Estavam satisfazendo acordos pessoais ou projeções políticas.

Muitos podem dizer que sempre foi assim. É verdade. Precisa continuar sendo?

Abordando um fato polêmico recente, com o jogador Vinícius Júnior, vale lembrar que certo dia Pelé criticou um goleiro brasileiro xingado com ofensas racistas: “Se eu fosse parar o jogo ou gritar toda vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todo jogo ia parar”, soltou o rei do futebol em 2014 e acabou bastante criticado, exatamente porque a frequência de um crime não pode absolvê-lo de culpa. Fosse assim, todos os homicidas em série estariam absolvidos.

Não é porque é normal escolher conselheiros do TCE baseado em acordos pessoais e políticos que se deva esquecer o alcance e as consequências dessas decisões. Não é porque o PSB fez isso ao longo das últimas quase duas décadas, como antes também se fazia, que isso deva continuar.

Mas a classe política pernambucana (brasileira) não vive nem perto de estar preparada para esse tipo de discussão sobre ética na administração pública. Por isso ainda soa estranho quando se questiona uma escolha feita por proximidade familiar ou outra feita por acordo político privado, como tantas outras para as quais o serviço público costuma servir como cenário.

Chegaremos lá um dia, talvez com os atuais conselheiros ainda em seus cargos, daqui a umas três décadas, quem sabe. Nunca é tarde.

Não dá certo

Independente do resultado da votação da terça, a coluna vem alertando para essa disputa entre Palácio e Alepe desde o início do ano. Os deputados estão tendo dificuldade para entender sua importância no contexto de necessidades dos pernambucanos e podem estar confundindo independência com rebeldia inconsequente.

Nos bastidores, o presidente da Alepe tem sido chamado de “primeiro-ministro”, de forma jocosa e, por alguns, até orgulhosa.

Dentro do sistema político brasileiro, esse tipo de relação entre Legislativo e Executivo paralisa projetos, onera os cofres e alarga o vale entre as soluções e os problemas.

É nesse caminho que Palácio e Alepe vão insistir?

Consequências

A escolha de Rodrigo Novaes (PSB), com 30 votos contra 18 de Joaquim Lira (PV), tem desdobramentos para a própria Alepe. Se Lira tivesse vencido, assumiria Odacy Amorim (PT) como deputado estadual. A vitória de Novaes promove o retorno de outro socialista à Alepe: Diogo Moraes (PSB), que não havia conseguido se reeleger em 2022. 

Sinais

O apoio de Raquel a Joaquim Lira tinha o PT como alvo também, segundo uma fonte que conversou com a coluna. "Foi um gesto para o PT, porque o partido seria beneficiado caso ele vencesse. Foi um sinal de busca de entendimento com os petistas e aproximação com o Governo Federal também", disse.

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