Há dois Lulas em exercício na presidência da República. Tem o Lula “Tipo Exportação” e o Lula “Nacional”.
Tem um Lula que fala lá fora em Meio Ambiente e Sustentabilidade, que inclui a redução nas emissões de carbono. E tem o Lula que viu os integrantes do próprio governo ajudarem no esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, além de ter dado razão à Petrobras numa briga por exploração de Petróleo próximo à Floresta Amazônica.
Tem o Lula internacional que tenta falar alto sobre a guerra da Ucrânia e tem o Lula nacional que não consegue resolver nem os conflitos entre Gleisi Hoffmann (PT) e Fernando Haddad (PT). Ou entre Marina Silva e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Nos anos 1980 e 1990 o Brasil começou a exportar veículos para outros países e foi quando essa expressão, “Tipo Exportação”, ficou mais popular por aqui.
Os modelos eram diferenciados e tinham um apelo também para o mercado interno. Muita gente queria comprar aqui o produto que “o povo lá fora gosta”. E pagavam mais caro por isso. A Fiat teve três carros nessa estratégia de exportação a partir do Brasil: o Uno, a Elba e o Prêmio. No Brasil eram vendidos com muita pompa por serem um produto “para o mercado internacional”. Essa era a estratégia de marketing: usar o “complexo de vira-lata” do brasileiro para vender. É bom porque, “apesar de ser brasileiro”, os estrangeiros gostam.
Os carros brasileiros da Fiat eram vendidos principalmente para a Itália e para outros países da Europa. Lá, estavam posicionados abaixo dos outros carros da montadora na tabela e eram chamados de “Brasiliana”. Era a “série B” da montadora. Depois de um tempo, foram mais rebaixados ainda e passaram a ser vendidos sob uma emblema mais popular da Fiat, a Innocenti. A marca Innocenti faliu em 1997.
Com o Lula Exportação acontece o mesmo que acontecia com os carros brasileiros dos anos 1980 e 1990. Ele se vende no Brasil como alguém respeitadíssimo lá fora, mas é considerado um líder de “segunda linha” pelos colegas em outros países. Melhor que Bolsonaro, em termos de respeito e consideração internacional? Certamente. Mas, ainda de segunda linha.
Talvez esteja na hora de o presidente começar a passar mais tempo no Brasil e cuidar dos problemas locais que já são muitos.
Base aliada/alugada
Problemas que, inclusive, passam pela fragilidade da base aliada na Câmara Federal. O governo não tem uma base aliada, tem uma base alugada. O dono é Arthur Lira (PP) e, dependendo do preço e da ocasião, ele fornece os votos necessários para o Planalto. Enquanto for assim, Lira poderá comemorar quando o governo ganhar e quando o governo perder.
Lula ganha às vezes, e Lira ganha sempre.
Poder e responsabilidade
Talvez esteja na hora, também, de os legislativos no Brasil começarem a assumir responsabilidades executivas. Quem quer o bônus do poder deveria assumir seu ônus também.
Estamos vivendo um tipo de parlamentarismo enviesado que dá aos deputados um controle gigantesco sobre a ordem do dia, mas não dá a eles as dificuldades de estar na linha de frente da execução, a fiscalização ferrenha dos órgãos de controle e a impopularidade das decisões difíceis.
E se discutíssemos um parlamentarismo de verdade pra os deputados assumirem responsabilidades também, ao invés de só jogarem tudo nas costas da União, estados e municípios?
Surpresa
Sobre a decisão que tirou poderes de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, a surpresa de alguns com a votação é curiosa.
O Congresso é majoritariamente de centro e de direita, tem uma bancada ruralista extremamente forte, o Lula nacional já lavou as mãos sobre a questão ambiental antes e a força de Marina Silva no Congresso inteiro se resume a um deputado, o pernambucano Túlio Gadêlha (Rede).
Surpresa?