Durante os seus treinamentos, militares aprendem uma regra básica: “ninguém fica para trás”.
Mesmo sendo militar, Bolsonaro (PL) deixou de sustentar esse ensinamento. Talvez porque é mais fácil segui-lo sob a mira de rifles do que na política. Durante a presidência, e depois dela, o capitão deixou muita gente pelo caminho. Todo mundo que se envolvia em alguma polêmica que tirasse votos era sumariamente abandonado.
Roberto Jefferson (PTB) ele chegou a dizer que “mal conhecia”. O formato do tratamento foi o mesmo com a raivosa Sara Winter (lembra dela?). O deputado Daniel Silveira até foi ajudado, quando isso poderia render dividendos eleitorais, em 2022, mas depois foi deixado à própria sorte também. O mais fiel ajudante de ordens de que se tem notícia, Mauro Cid, foi abandonado assim que as provas contra ele ficaram mais consistentes. “Cada um segue com sua própria vida”, declarou o ex-presidente quando o ex-auxiliar foi preso e acusado de vários crimes que teria cometido pelos bolsonaro.
O abandono maior aconteceu com os próprios bolsonaristas, acampados em quartéis por várias semanas após o fim da eleição de 2022. Os fiéis apoiadores ficaram debaixo de sol e chuva, fazendo as três refeições em quentinhas improvisadas, marchando e cantando hinos em uma espécie de delírio coletivo influenciado pelo ex-chefe do Executivo, até o evento que culminou com os ataques criminosos às sedes dos Três Poderes e com a prisão de centenas deles.
Enquanto isso, Bolsonaro estava nos EUA, curtindo férias e dando declarações de que não tinha nada a ver com as manifestações, que não os mandou fazer nada e que não ia se envolver. "Não mobilizei nada, não vou desmobilizar nada", repetiu sem parar o capitão.
Como o exemplo é o que constrói o destino, é muito provável que Bolsonaro seja abandonado nos próximos dias. Sim, o julgamento que vai acontecer no TSE ainda este mês, no dia 22, deve deixar o ex-presidente inelegível. Nas bolsas de apostas, acredita-se que a condenação é quase certa.
Bolsonaro está sendo processado eleitoralmente por ter feito uma reunião, em julho de 2022, com embaixadores de vários países, para colocar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, o que é crime. Já houve casos de cassação por motivos parecidos e criou-se uma jurisprudência sobre o assunto. O precedente foi iniciado pelo TSE com a cassação do mandato do deputado estadual bolsonarista Fernando Francischini (União Brasil-PR) por propagação de fake news.
No caso atual de Bolsonaro, a Procuradoria Eleitoral já se manifestou pela condenação. O ministro Nunes Marques, indicado pelo ex-presidente para o STF e que ocupa uma cadeira no TSE, pode até pedir vista e atrasar o julgamento, mas a tendência é que, se isso acontecer, os outros membros, puxados pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, adiantem seus votos e resolvam logo a questão.
O resultado demoraria a ser oficializado, cerca de 60 dias com o recesso próximo, mas já estaria definido na próxima semana.
Bolsonaro ficará, provavelmente, impedido de ser candidato a qualquer cargo eletivo por até oito anos. Ele só voltaria a ter a possibilidade de se candidatar nas eleições municipais de 2032.
E por quem Bolsonaro será abandonado? Pelos seus apoiadores. Os mesmos abandonados há alguns meses e que já respondem nas redes sociais à possibilidade de condenação do ex-líder usando frases como: “Ele teve sua importância. Mas a direita tem outros nomes”.
Já há pesquisas, inclusive, feitas com eleitores de Jair Bolsonaro, apontando que o próximo nome a ser trabalhado para as eleições é o do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). Até o nome da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, é citado como opção.
O ex-presidente vai acabar descobrindo algo muito duro, se é que já não sabe disso: ri melhor quem abandona por último.
Ele pode conversar com Fernando Collor sobre o assunto. O ex-presidente, hoje condenado por outros motivos e prestes a ser preso, ficou inelegível por oito anos depois de ser impedido na presidência. Descobriu o que é o abandono dos mais próximos por ficar sem perspectiva política na época.
A política é um meio no qual o passado importa muito pouco se não houver chance de futuro.
Autor pernambucano
O advogado que assina a ação contra Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral é um pernambucano. Walber de Moura Agra, que representa o PDT Nacional, foi quem ingressou com o pedido de inelegibilidade.
Em entrevista ao Passando a Limpo, na Rádio Jornal, Agra lembrou que ao longo dos meses, desde que a ação foi apresentada, novas provas foram anexadas ao processo, inclusive a “minuta de golpe” encontrada com ex-auxiliares de Bolsonaro este ano.
Pernambuco - Japão
Amanhã, haverá reunião solene em homenagem aos 105 anos da Imigração Japonesa em Pernambuco e aos 50 anos da ACJR- Associação Cultural Japonesa do Recife.
O evento será realizado no auditório Sergio Guerra da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, às 18h. O autor do requerimento é o deputado Antônio Moraes (PP).