Na nota em que repudiou a fala da governadora Raquel Lyra (PSDB) sobre o “PSB de Eduardo Campos ter acabado”, os socialistas foram muito afirmativos sobre ser “oposição à atual gestão”.
Uma nota foi divulgada, lembrando que o PSB iria continuar fazendo cobranças à governadora. “Queiram ou não queiram Raquel Lyra e seus aliados, o PSB seguirá existindo, resistindo e desempenhando o importante papel para o qual foi designado pela população de Pernambuco nas eleições de 2022: o de lutar pela preservação dos avanços que o estado viveu nos últimos 16 anos, denunciando as contradições, os desmontes e falta de diálogo do atual governo”, disse o texto.
O presidente do partido no estado reforçou o repúdio, depois, em entrevistas, dizendo que “o PSB é o maior partido de oposição e que vai fazer oposição ao governo dela até o último dia”.
A referência de Sileno Guedes ao PSB como maior partido da oposição se dá porque a sigla tem 13 deputados estaduais. É a maior bancada da Assembleia, realmente.
O curioso é que poucas horas depois de tanto verbo, entrou em votação um Projeto de Lei polêmico na Assembleia Legislativa sobre o reajuste de salário para parte dos professores do Estado. E dos 13 deputados socialistas, seis votaram a favor do governo de Raquel Lyra.
France Hacker, Dannilo Godoy, Francismar Pontes, Jarbas Filho, Simone Santana e Eriberto Filho, todos do PSB, ajudaram a aprovar o texto.
O fato é que, depois de tanto barulho e desencontro na articulação, bem no dia em que o PSB resolveu reafirmar com toda força a sua oposição, o governo Raquel Lyra parece estar começando a acertar os ponteiros com a Alepe. E com a ajuda essencial do PSB.
Menos vereadores
O IBGE trouxe, ontem, uma notícia muito ruim para os vereadores do Recife. A população da capital diminuiu nos últimos 12 anos e a Câmara Municipal pode perder duas cadeiras.
Em 2010, o Recife tinha pouco mais de 1,5 milhão de habitantes. Agora, o novo censo apontou que a cidade caiu para o patamar de 1,4 milhão. Em números exatos, perdemos 43.118 habitantes. Mas é o suficiente para ter impacto no Legislativo.
A lei diz que acima de 1,5 milhão de habitantes a cidade pode ter até 39 vagas na Câmara. Entre 1,3 e 1,4 milhão, o número máximo de cadeiras é 37.
A concorrência na eleição de 2024 será maior por um espaço no Legislativo. Seria bom se o contribuinte gastasse menos com a Câmara também.
Hoje, o orçamento da Casa é de 217 milhões de reais. Se economizassem seria bom pra todo mundo.
Gestões socialistas
Os números do IBGE, aliás, acendem um alerta sobre Pernambuco e, principalmente, sobre o Recife. A população do Estado só cresceu pouco mais de 260 mil habitantes em 12 anos. É pouco. E a capital perdeu cerca de 40 mil pessoas.
Em todo esse período, o estado e a prefeitura da capital foram comandados pelo PSB. É verdade que existe uma tendência de queda nas grandes capitais do país e uma fuga para o entorno. Todas as cidades da Região Metropolitana (menos Olinda) cresceram, realmente.
Mas, em Pernambuco, os municípios que puxaram quase sozinhos o crescimento estão no interior e viveram sob administrações de oposição ao PSB nos últimos anos.
Você pode interpretar os números de várias maneiras diferentes. Mas os dados sempre falam e falam muito.
Petrolina e Caruaru
Importante, inclusive, observar a força de Petrolina e Caruaru nos últimos 12 anos no estado. Petrolina cresceu em 94.183 habitantes. Caruaru aumentou 63.268 pessoas em sua população.
Como o crescimento de Pernambuco foi de 261.707, as duas cidades do interior responderam por 60% de todo o acréscimo. É preciso lembrar que esse crescimento aconteceu apesar de os prefeitos serem de oposição ao PSB no período.
A atual governadora Raquel Lyra (PSDB), quando prefeita de Caruaru, juntou uma coleção de “negativas” toda vez que tentava se encontrar com o então governador do PSB Paulo Câmara para buscar ajuda.
O ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (UB), também foi praticamente abandonado pelo governo.
Ambos passaram a depender de articulação em Brasília para a manutenção das gestões.
Esse crescimento, agora registrado pelo IBGE, já era tão notado que os dois foram candidatos ao governo em 2022 e ela até se elegeu.
Reflexão
Há um exercício reflexivo que precisa ser feito pelo atual prefeito do Recife, João Campos (PSB) e também por todos os que pretendem disputar a cadeira de prefeito em 2024, com muito desprendimento das paixões partidárias.
A capital de Pernambuco viu sua população reduzir nos últimos anos por absoluta mudança nas aspirações das pessoas que não querem mais viver em grandes cidades? É algo que está alheio ao esforço dos gestores?
Ou foi esta cidade, em específico, que não conseguiu entregar a qualidade de vida mínima que as pessoas estavam dispostas a suportar? A cidade é atrativa, acolhedora, segura?
É necessário fazer essa reflexão, porque uma tendência nacional pode acabar fazendo com que se relativizem os erros ou se menosprezem os acertos locais.