A inelegibilidade de Bolsonaro (PL) terá consequências para Lula (PT).
Parte do argumento que convenceu o centro democrático a votar no petista em 2022 também foi anulado para as próximas eleições. Nomes como o de Simone Tebet (MDB) e até de Ciro Gomes (PDT) perderam viabilidade eleitoral devido à instabilidade crônica do então presidente.
A urgência era tão grande para se ver livre de Bolsonaro que todo mundo acreditou em Lula como única solução possível.
Ninguém pode dizer que estavam errados, porque a vitória do atual presidente só veio com uma diferença bem pequena.
Mas é fato que, se Bolsonaro não existisse, Lula não seria necessário para muitos dos eleitores que “taparam o nariz” e votaram no PT em 2022.
A chance do PT para o futuro é fazer um governo que recupere e estabilize o país, que coloque o Brasil numa rota de desenvolvimento indubitável. Caso contrário, se continuar dependente do discurso infantil de que “Lula é necessário para enfrentar a extrema direita”, poderemos dizer que o petismo também foi condenado no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral.
E o que sobra para o bolsonarismo? Quase nada.
Esqueça a retórica de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de que Bolsonaro fica mais forte inelegível porque terá o argumento da injustiça para usar como cabo eleitoral do partido e que vai ficar mais forte com isso.
Ninguém fica mais forte impedido de ter poder real. E o exercício do poder não aceita vácuo. Bolsonaro será substituído rapidamente por Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Michelle Bolsonaro (PL) ou por figuras de centro, mais palatáveis, tendo o governador do RS, Eduardo Leite (PSDB) e até a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) entre essas possibilidades.
Quem será alçado a protagonista nacional nesse campo à direita vai depender do humor da população com o governo Lula nos próximos anos até 2026. Depende de como eles vão se movimentar também para acompanhar as alterações velozes nesse humor.
Os atores da política estão com dificuldade para ler o jogo, porque o jogo ficou rápido demais. Tudo na sociedade tornou-se mais líquido. Seria estranho se não tivesse acontecido a mesma coisa com a política. Tudo muda em grande velocidade.
A capacidade de mobilização em torno do ex-presidente, por exemplo, diminuiu muito em pouco tempo. E ele não reagiu a isso para tentar recuperar. Poderia ter usado o julgamento do TSE como gatilho para reativar essa militância, mas Bolsonaro só começou a dar entrevistas nesse sentido na semana em que o julgamento já estava quase terminando.
É como perceber que está perdendo por 3 X 0 aos 40 minutos do segundo tempo e só então começar a jogar.
No julgamento da chapa Dilma-Temer, em 2016, mesmo após o impedimento da petista, uma multidão ficava de plantão na porta do tribunal. Eu, pessoalmente, entrevistei um homem que se amarrou à placa do TSE, dizendo que "só sairia de lá quando Dilma fosse inocentada". No fim, pressionado pela Polícia, ele não passou mais do que 20 minutos lá de pé, mas rendeu manchetes.
Populistas, e isso vale para lulas e bolsonaros, naturalmente já costumam acreditar que não precisam cultivar seus apoiadores. O culto à própria imagem é tão forte e sua sustentação é tão personalista que eles tendem a acreditar que serão seguidos e amados independente das circunstâncias.
Jânio Quadros descobriu que estava abandonado quando renunciou esperando um levante popular e ninguém se importou com ele.
Collor convocou o povo para defendê-lo e o povo saiu para pedir seu impeachment. Nesses tempos em que as relações são líquidas, eleitores mudam seu amor por um político como quem muda de roupa. QUem não se adapta muito rapidamente, fica para trás e é esquecido.
Por falar nisso, Valdemar Costa Neto, presidente do partido de Bolsonaro, estava muito preocupado com o destino de seu filiado. Enquanto Cármen Lúcia confirmava a inelegibilidade do ex-presidente, Valdemar passeava por Las Vegas, nos EUA.
Tirou férias.