Cena Política

O caso do buraco que tentou engolir um carro e acabou mostrando o valor da rivalidade

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (5)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 04/07/2023 às 21:00
WELINGTON LIMA
O veículo foi parcialmente 'engolido' após o piso ceder na Avenida Recife, em Areias, na Zona Oeste do Recife. No carro, além do motorista estava uma passageira. Nenhum dos dois ficou ferido - FOTO: WELINGTON LIMA

A mais recente polêmica do Recife, sobre uma imensa cratera aberta numa das principais avenidas da cidade, tomou uma proporção tão grande entre prefeitura da capital e Compesa, que merece um exercício de imaginação.

Mais ou menos assim: digamos que fossem organismos vivos os buracos de uma cidade. Eles poderiam ser classificados na categoria dos glutões. O glutão, diz o dicionário, é “aquele que come exagerada e excessivamente. Aquele que come com muita pressa, mastigando mal para engolir a maior quantidade possível”.

Os numerosos buracos do Recife se alimentam com ardor de pneus, rodas, suspensão e da paciência dos motoristas. Sem falar nas crateras abertas para obras necessárias a uma cidade com quase 500 anos.

Por aqui, esta semana, como novidade excêntrica entre os banquetes costumeiros, tivemos metade de um carro sendo engolido por um só buraco. É grave.

Um pedaço da Avenida Recife, uma das mais importantes da capital, abriu e engoliu metade de um veículo. O motorista, coitado, conseguiu ser retirado sem ferimentos, mas o prejuízo foi grande. Nas imagens, impressionantes, dá pra ver que o carro foi tragado até a metade e ficou dentro de muita água que estava no local.

A foto que circulou em todos os jornais, inclusive aqui no JC, é boa para exercitar ainda um pouco mais a imaginação. O buraco, numa avaliação comportamental rápida, parece desolado por ter tentado abocanhar mais do que sua capacidade permitia. Dá pra sentir a decepção por ter descoberto que sua fome voraz era maior que a própria boca.

Não é a explicação provável, mas é o que sobra quando ninguém está disposto a assumir a culpa. No Recife, buracos engolem carros e os cretinos gulosos estão cada vez mais famintos.

Agora, sério

Imaginações à parte, a verdade é que não importa quem vai tapar o buraco. Como já foi dito muitas vezes aqui: no fim o bolso é o mesmo.

O dinheiro sai do suor sagrado do contribuinte, que é quem mantém tanto as máquinas da Prefeitura quanto as da Compesa, independente de quem esteja com a razão.

Que briguem, que discordem, que se acusem, mas façam isso com a cratera fechada e que não ofereça mais riscos à população.

Mexendo cimento

E eis que, surpreendentemente, 24 horas depois do acidente, ontem todo mundo decidiu resolver o problema.

No fim da manhã, foi o prefeito João Campos (PSB): “a Prefeitura do Recife vai recompor o pavimento que cedeu na Av. Recife. Não vamos esperar a Compesa assumir o que lhe cabe e deixar que a população siga prejudicada. Depois, vamos multá-la pela Lei 18355/2017”, garantiu.

Essa lei é conhecida como “Lei do Pavimento” e pune empresas que abrem buracos nas ruas sem autorização da prefeitura e não resolvem o problema dentro de determinados prazos.

Cerca de uma hora depois, já no início da tarde, foi a vez da Compesa enviar nota à imprensa dizendo que também vai resolver.

Diz que não houve vazamento na área que justificasse a cratera, que não abriu nenhum buraco no local e que vai contratar um técnico especialista para fazer um laudo e apurar responsabilidades, mas completou com a mesma resolução: “A Companhia está em entendimento com a Emlurb para a recomposição da calçada. Caso a autarquia não possa executar essa ação, a Compesa o fará”.

Todo mundo acordou com uma pá na mão, mexendo o cimento. Ninguém quer a culpa, mas todos querem a responsabilidade de resolver. O que aconteceu?

O milagre da alternância

Todo mundo quer tapar o buraco. Milagre?

Sim, é o milagre da alternância de poder. Essa disputa entre Prefeitura e Compesa não é de hoje. É algo antigo, mas que sempre acabava sendo tratado apenas nos bastidores do PSB, quando os socialistas governavam Município e Estado em conjunto e não queriam que essas brigas se transformassem em munição política para a oposição.

Colocavam-se panos quentes e nada se resolvia, nem os buracos. Para se ter uma ideia, um presidente socialista da Companhia chegou a ser trocado por causa das brigas com o então prefeito socialista da cidade. Mas os buracos ficavam.

O que mudou agora é que os grupos na Prefeitura e no Governo do Estado, que controla a Compesa, são rivais. A tendência é ninguém esconder mais as brigas. Cada um quer resolver primeiro que o outro.

Que coisa boa para o sujeito que paga as contas, esse tal contribuinte. Nada melhor que uma disputa política para fazer com que as responsabilidades resolutivas sejam repentinamente tão desejadas.

E quem tem a culpa?

Não se pode esquecer o proprietário do veículo. Ele terá que ser indenizado. Mas, por quem?

Nesse caso, a Compesa resolveu chamar um técnico para apurar a responsabilidade. O prefeito não falou nisso, mas deveria fazer o mesmo.

E, já que o clima político está tão propício, cada um poderia pagar metade do prejuízo à vítima e ir cuidar dos outros buracos espalhados por aí.

Que tal uma competição para ver quem os fecha em maior quantidade? Todo mundo ganharia.

Liberdade

O LIDE Pernambuco, através do seu Comitê de Competitividade promove hoje, às 12h, no Atlante Plaza, um almoço de trabalho para conectar o subsecretário de desenvolvimento regional do Estado de Minas, Lucas Pitta, líder do projeto Minas Livre para Crescer, com os prefeitos e secretários de desenvolvimento econômico de 18 municípios pernambucanos.

Na pauta, a aplicação dos municípios à Lei de Liberdade Econômica.

Minas é um Estado com mais de 800 municípios e o que melhor aplicou a lei no âmbito municipal.

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