Cena Política

Governo precisa pegar prefeitos pela mão e obrigá-los a discutir habitação

Confira a coluna Cena Política deste domingo (9)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 08/07/2023 às 20:00
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Prédio desaba e várias pessoas ficam soterradas no bairro do Janga, no Paulista - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

O governo de Pernambuco, no que diz respeito às chuvas, precisa tomar a frente de questões regionais e assumir a responsabilidade das resoluções. Os pontos mais críticos são a Região Metropolitana do Recife.

Alguém na gestão estadual precisa pegar os prefeitos pela mão, sentar todos ao redor de uma mesa e começar a conduzir uma solução. Na RMR, além dos transtornos com alagamentos e barreiras no Recife, há a tragédia anunciada, com constância vergonhosa, dos prédios desabando e fazendo vítimas, mesmo depois de terem sido condenados.

Há uma crise da habitação na Região Metropolitana que não é nova, não surgiu agora, mas vai além da já conhecida precariedade básica da moradia e está matando pessoas. Recentemente foi em Olinda, agora foi em Paulista.

Há um entrave burocrático que possibilita a interdição do prédio, a condenação, mas deixa pessoas morando nos edifícios porque não se consegue resolver a questão financeira com as seguradoras, nem a demolição.

Foi o segundo caso parecido, num espaço muito curto de tempo. Ninguém pega a família e coloca debaixo de toneladas de concreto, num prédio condenado, apenas porque gosta de desobedecer a ordem estabelecida. Essas pessoas não têm onde morar.

Somente depois que seis pessoas morreram no edifício Leme, em Olinda, no mês de abril, descobriu-se que a cidade vizinha ao Recife tinha outros 110 prédios em condições similares, muitos com pessoas morando. Somente depois da tragédia, soube-se que a prefeitura havia condenado o edifício há 22 anos e ninguém foi lá arranjar um lugar para essas pessoas morarem, ninguém demoliu a construção.

Agora foi em Paulista e a pergunta mais importante é se a governadora Raquel Lyra (PSDB) vai ficar esperando que os prefeitos trabalhem em soluções apenas quando forem sacudidos por tragédias ou se vai designar alguém para conduzir a questão.

Não precisa ser ela, diretamente coordenando as ações, mas seu papel é fundamental para reunir esses gestores e colocar o estado à disposição para as soluções. Só não dá pra deixar como está.

Entender o papel de articulação municipal de um governador nessas crises é fundamental para o êxito de uma gestão. Eduardo entendia isso, atuou fortemente, e teve sucesso. Paulo não entendia, ou não estava disposto, e sabemos no que terminou.

A vez é de Raquel.

Na Zona da Mata

Outra região que precisa de uma condução estadual é a Zona da Mata, principalmente a parte Sul. A governadora precisa reunir, com urgência, os gestores municipais para criar um plano de ação efetivo que garanta a construção das barragens inacabadas por lá.

Em 2010, a Mata Sul foi destruída por chuvas e muito dinheiro começou a ser investido nessas barragens como solução. Treze anos depois, apenas uma foi concluída, das cinco prometidas e anunciadas.

Na sexta-feira (7), com as chuvas, o município de Água Preta viu um rio transbordar e as águas inundaram as ruas outra vez.

Havia promessas de que o Exército fosse parceiro na retomada das obras das barragens, mas até agora não se viu nada.

Outra tragédia está se anunciando, e alguém precisa pegar os prefeitos pela mão para discutir o assunto também.

A agenda do senhor ministro

Habitação em Pernambuco, principalmente na Região Metropolitana do Recife, precisa ser encarado como um fator de urgência urgentíssima para as gestões públicas responsáveis.

As mortes em prédios condenados, de pessoas que não tem outro lugar para viver, são apenas um exemplo dessa urgência. Porque também vive sob urgência quem dorme toda noite pela rua ou em habitações precárias, como as palafitas.

Toda vez que um habitacional fica pronto, mas vazio, dependendo de pequenos detalhes burocráticos para ser entregue, comete-se um crime grave contra essas pessoas e contra essa urgência.

Pior ainda quando o “detalhe burocrático” é a agenda de algum ministro que quer estar presente para fazer fotos segurando as chaves só porque destinou o dinheiro (que não é dele, mas do contribuinte) e usar isso em suas redes sociais.

Acreditem, acontece quase sempre.

Sudene

Assumindo a Sudene esta semana, o pernambucano Danilo Cabral (PSB) tem dito que pretende ressignificar o órgão levando os governadores da região de volta para as discussões da Superintendência.

A palavra de ordem nesta coluna, pelo jeito, é “aglutinar”, é colocar gestores à mesa para buscarem soluções.

Só de ter a intenção, Danilo começa muito bem e merece ser acompanhado.

Mas, não é tarefa fácil. Será preciso romper muita desconfiança e descrédito dos governadores que se viram tão abandonados pela inoperância da Sudene nos últimos anos ao ponto de criar o tal Consórcio Nordeste.

Consórcio que, aliás, é um dispendioso fracasso.

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