Cena Política

As tragédias se movem à galope e o poder público pilota um velocípede

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (11)

Igor Maciel
Cadastrado por
Igor Maciel
Publicado em 10/07/2023 às 20:00
Foto: Léo Mota/JC Imagem
Municípios que enfrentam novas enchentes, na Mata Sul e Agreste, encontram-se em Estado de Emergência - FOTO: Foto: Léo Mota/JC Imagem

No fim de semana, a coluna apontou a necessidade urgente de a governadora Raquel Lyra (PSDB) reunir prefeitos para discutir o impacto das chuvas na Mata Sul e também a questão das moradias na Região Metropolitana do Recife. Isso começou a ser feito.

No fim de semana, com o encerramento do trabalho dos bombeiros, chegou-se ao número de 14 pessoas mortas no desabamento de parte de um prédio em Paulista. Em todo o estado há mais de três mil pessoas desalojadas ou desabrigadas em decorrência das enchentes.

A região mais atingida é exatamente a mesma para a qual foram prometidas cinco barragens em 2010, durante a gestão de Eduardo Campos, e somente uma foi construída.

Raquel Lyra agiu. Na agenda de ontem tratou de marcar uma reunião com prefeitos da Zona da Mata, em Catende. Antes disso, aproveitou a passagem do ministro Waldez Góes, da Integração e do Desenvolvimento Regional, que estava em Pernambuco para a posse de Danilo Cabral (PSB) na Sudene e o chamou ao Palácio do Campo das Princesas.

Antes mesmo de chegar ao Palácio, Góes já sabia qual seria a pauta: as barragens. É que Raquel não foi à posse de Danilo, mas mandou Priscila Krause (Cidadania). E a vice fez questão de cobrar do ministro a liberação de verbas para as barragens, já no evento.

A outra reunião que a governadora ainda precisa fazer, e não foi marcada, é com os prefeitos da Região Metropolitana, principalmente Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão.

Os gestores precisam levar um mapeamento de quantas pessoas estão na mesma situação em que estavam as vítimas dos edifícios que desabaram em Olinda e em Paulista. Juntando os dois, são 20 pessoas mortas.

No primeiro caso, somente após a tragédia é que a prefeitura olindense admitiu que outros 110 prédios tinham a mesma situação. Em Paulista, depois das mortes é que a prefeitura correu para esvaziar outros edifícios também.

Os prefeitos não são crianças, mas se não forem cobrados por alguém, o prejuízo vai sempre chegar antes do cuidado. E o governo precisa assumir esse papel.

O déficit habitacional de Pernambuco já vai em mais de 320 mil moradias e em 2030 a previsão é que chegue próximo de 600 mil. Enquanto isso, os planos iniciais do governo atual, os mais otimistas, eram de construção ou regularização para a entrega de cerca de 40 mil residências. É considerável para o que já foi feito até hoje, mas é muito pouco para a necessidade atual.

Os prefeitos estão falhando em agir, o governo está demorando para coordenar e a União está capengando na hora de financiar.

A necessidade que provoca tragédias anda à galope e o poder público pilota, orgulhoso, um velocípede.

Cidades

Além de conversar com o ministro Waldez Góes, da Integração, o governo Raquel Lyra está em conversas bem avançadas com outro ministro: Jader Filho, das Cidades. Essas negociações são no setor de habitação e deve haver novidades em breve.

Emergência

No caso da habitação e nas tragédias relacionadas, só quem trabalhou bem, de forma exemplar, foi o Corpo de Bombeiros. E quando os essenciais e sempre solícitos bombeiros estão trabalhando em demasia, é porque todo o resto está falhando.

Afinal...?

Até agora ninguém entendeu o voto do deputado pernambucano Fernando Monteiro (PP) contra os incentivos fiscais para a indústria automobilística no Nordeste. O parlamentar foi o único, na bancada do estado, a votar contra.

E por causa do voto dele, esse destaque da Reforma Tributária acabou não sendo aprovado. Eram necessários 308 votos e só foram contabilizados 307.

O economista e ex-secretário da Fazenda Jorge Jatobá, em entrevista ao Passando a Limpo, na Rádio Jornal, contou que foi convidado por algumas empresas instaladas em Pernambuco para fazer uma explanação sobre a importância do incentivo fiscal para a manutenção dos empregos no setor aos deputados da bancada pernambucana, antes da votação. Jatobá lembrou que Fernando Monteiro não compareceu à reunião.

Até agora não há qualquer explicação do deputado sobre o voto contrário ao destaque.

Atos e intenções

O assunto vai voltar a ser discutido no Senado e deve ser modificado para aprovação, garantindo os incentivos até 2032. Mas os eleitores do deputado mereciam uma explicação.

É importante dizer que Monteiro tem todo o direito de votar da maneira que achar mais correta e sua liberdade para fazer o que bem entender no que diz respeito ao próprio mandato é inquestionável.

Por ser um agente público, porém, eleito pelo povo, precisa prestar contas de seus atos e intenções. Talvez o assunto esteja rendendo tanto exatamente porque, até agora, ele não fez isso.

Edição do Jornal

img-1 img-2

Confira a Edição completa do Jornal de hoje em apenas um clique

Últimas notícias