Cena Política

A saia justa com um deputado na reunião de Raquel com Lula em Brasília

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (14)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 13/07/2023 às 20:00
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Raquel Lyra, com Lula, no Planalto, em evento da Caixa - FOTO: Divulgação

No meio da reunião entre Lula (PT) e Raquel Lyra (PSDB) para a assinatura do empréstimo da Caixa Econômica Federal para Pernambuco, uma saia justa chamou a atenção dos presentes.

É que o evento teve a presença de senadores e deputados pernambucanos, além de alguns ministros. Em determinado ponto da conversa, o presidente da República começou a falar sobre a Reforma Tributária, aprovada alguns dias antes e citou o destaque que, se aprovado, prorrogaria um incentivo à indústria automobilística no Nordeste até 2032.

O texto em questão é importante para manter em Pernambuco, por exemplo, a fábrica da Jeep e a Baterias Moura, que geram milhares de empregos.

Ao lamentar que o texto não foi aprovado, soltou: “No Senado nós vamos trabalhar para resolver isso, mas é uma pena porque ficou faltando só um voto. Um único voto”, disse Lula, olhando para todos à mesa.

Entre os presentes, ouvindo o discurso de Lula, estava o deputado pernambucano Fernando Monteiro (PP). Ele foi o único pernambucano a votar contra os incentivos, de toda a bancada pernambucana.

Com o voto dele, a matéria teria sido aprovada. A “saia justa” não passou despercebida pelos colegas.

Se o presidente fez de propósito, sabendo que isso seria notado?

É bem provável.

Barroso e o "nós"

O pronome é um julgador cruel. Ele condena e absolve, influenciado por diversos fatores, menos por justiça.

Por exemplo, complica tudo quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso solta, em um evento do movimento estudantil, um “nós derrotamos o bolsonarismo”.

Ele estava sendo vaiado pelos estudantes, queria demonstrar a contradição por eles terem reclamado tanto por liberdade de expressão e não estarem, ali, dando ao ministro o direito de falar. O “nós” é que complicou tudo.

Sobrou até para o STF, que precisou lançar uma nota oficial explicando que Barroso estava falando da derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, pela maioria do eleitorado, e por aí vai. Se tivesse usado um pronome de tratamento bem simples, teria mudado tudo: “vocês derrotaram o bolsonarismo” resolvia. Mas quem vive em meio às excelências deve ficar confuso com essas simplicidades.

De qualquer forma, o uso do pronome pessoal “nós” fez com que ele fosse condenado pelos bolsonaristas e não fosse absolvido pela militância de esquerda no evento estudantil.

O curioso, porém, é ver como bolsonaristas e lulistas seguem parecidos, aconteça o que acontecer. Barroso é odiado pelos dois lados.

O ministro foi vaiado esta semana pela esquerda porque demorou a decidir sobre o piso da enfermagem e porque teria apoiado o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a Operação Lava-Jato no passado.

Ninguém lembrou que o ministro costuma ser vítima do bolsonarismo também, que já foi xingado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) e que vive sendo ameaçado de “impeachment” pelos bolsonaristas.

Barroso foi contra o habeas corpus que poderia ter evitado a prisão de Lula (PT), no que irritou a esquerda, mas também foi a favor de que o presidente fosse beneficiado quando a competência da Vara Federal de Curitiba foi questionada, o que irritou a direita. Recentemente, também foi o responsável por impedir que ocorressem, durante a pandemia, desapropriações de propriedades privadas invadidas, no que beneficiou o MST.

Mas cada um só se lembra da parte que lhe convém. As vaias a Barroso são um retrato do quanto a sociedade anda limitada. A impressão é que muita gente vai se tornando meio estúpida nos últimos tempos, com dificuldade patológica para reunir e processar informação de maneira ampliada na cabeça.

Num dia o sujeito é o maior herói da humanidade porque disse algo que você concorda e no outro ele é o seu maior inimigo porque vestiu uma camisa cinza e você não gosta da cor cinza.

Bolsonaristas ajudam Lula

Depois da frase mal construída do ministro, parlamentares de direita correram para pedir o impeachment de Barroso, do mesmo jeito que faziam quando Bolsonaro era presidente.

Pelo que se vê, não é apenas a militância que tem dificuldade de cognição no Brasil. Alguns parlamentares também.

Se a ideia der certo agora e Barroso for retirado do STF, quem vai indicar um novo ministro é Lula, reforçando sua própria influência na Corte.

Se a ideia esdrúxula de impeachment de ministro de STF prosperar, é o petista quem vai ganhar mais poder indicando outro aliado, graças aos bolsonaristas.

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