Há um movimento, uma tentativa de transformar o ex-governador Paulo Câmara (sem partido) num grande gestor, pela posição que ele ocupa agora no Banco do Nordeste.
De repente, parece que tudo o que ele não soube fazer enquanto estava no Palácio do Campo das Princesas era resultado do acaso, do tempo, da temperatura, mas não das ações e omissões próprias de uma administração pública.
De repente, Paulo Câmara virou um “grande articulador”, um visionário, um elemento essencial para a política pernambucana.
Toda reabilitação é justa quando é sincera da parte do reabilitado. E, se assim for, Paulo merece todo apoio.
Mas reabilitar a popularidade de um dos governadores que mais sofreram com impopularidade durante seu trabalho é uma tarefa que precisa ser feita com algum pedaço de realidade, com humildade para reconhecer erros e não com hipérboles.
O que parece é haver uma força tarefa para criar em Paulo uma liderança alternativa dentro de um grupo dissidente do PSB que hoje é liderado por João Campos. Até as dissidências precisam de referencial. E um ex-governador encaixa bem.
Para isso, é necessário ir além do cargo que Paulo ocupa hoje no BNB, mas também gerar narrativas sobre o período em que ele governou o estado.
Se vai colar, já é outra história.
Falácias
Várias falácias têm sido utilizadas para sustentar essa “capacidade de liderança de Paulo Câmara”. Uma delas é a de que Raquel Lyra (PSDB) só conseguiu dinheiro para investir no estado porque o governo Paulo teria garantido a nota de crédito necessária para isso. É verdade.
Mas adivinhe você em qual governo Pernambuco perdeu a nota de crédito? Sim, foi no governo Paulo Câmara, em 2017.
O que a gestão do PSB comandada pelo ex-governador fez foi passar quatro anos tentando consertar o problema ocorrido quando ele próprio já estava no Palácio.
É como alguém desastrado quebrar um prato, ser obrigado a consertar, colando os pedaços, e no fim ser homenageado como um “grande defensor das louças”.
Risco PGR
Bolsonaro (PL), que muitos acusam de ser bisonho na política, acabou deixando uma lição para a posteridade dos presidentes: se você não quiser sofrer impeachment, basta ter recursos para distribuir com o Legislativo e carregar um Procurador-Geral da República amigo debaixo do braço.
Baseado nesse ensinamento bolsonarista, Lula (PT) já tem o candidato ideal para substituir Augusto Aras na PGR. Ninguém melhor do que o próprio Aras.
Ele quer, está em campanha e tem apoios importantes com o do senador Jaques Wagner (PT). Aras é fiel a quem lhe anima o espírito de poder. Desde que continue Procurador-Geral vai defender com unhas e dentes o presidente da vez e não a Justiça.
Se indicar outro, Lula pode acabar com um Ministério Público independente, ativo e implacável. Já pensou, que risco para os petistas?
Confiança…
O Ipec, desde que se chamava Ibope, realiza uma pesquisa que avalia o índice de confiança da população brasileira em suas instituições. As de natureza política sempre sofrem ao longo dos anos, mas as variações recentes nas posições do ranking chamam atenção também para instituições que não são políticas (ou não deveriam ser), como os militares.
Esse índice do Ipec é formado com o resultado das entrevistas em que se pede aos participantes que dêem uma nota de 0 a 100 para cada instituição.
…no presidente…
Por exemplo, a pesquisa mais atual mostra uma melhora nas avaliações sobre a Presidência da República, embora ainda esteja muito ruim. Este ano, o índice ficou em 50.
Em 2022, com Bolsonaro, a mesma pesquisa apontou um índice de confiança de 41 pontos.
…no Exército…
Ao longo dos últimos anos, as Forças Armadas sempre se destacavam e apareciam em primeiro ou segundo lugar no índice de confiança. Nos últimos quatro anos, o uso do governo de Jair Bolsonaro da imagem do Exército acabou atrapalhando.
Os militares ainda aparecem na primeira metade da lista, mas caíram para a quinta posição, com 66 pontos.
No topo, liderando a confiança dos brasileiros entre as instituições estão o Corpo de Bombeiros, com 87 pontos, a Polícia Federal e as Igrejas, ambas com 70 pontos.
…nas urnas.
Todo ano, o Sistema Eleitoral também é avaliado pela pesquisa. Em 2023 a confiança nas eleições chegou a 53 pontos. Houve uma queda em relação a 2022, quando a confiança era de 59 pontos.
Mesmo assim, a confiança ainda é muito alta em comparação com anos anteriores. Em 2019, ano seguinte à eleição de Bolsonaro, o índice era de 48 pontos. Em 2015, logo após a reeleição de Dilma Rousseff (PT), a confiança dos brasileiros no Sistema Eleitoral estava em 33 pontos.