Cena Política

Possível aproximação de Raquel Lyra com o PT em Pernambuco tem roteiro para duas eleições

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (21)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 20/07/2023 às 21:00
Governo do Estado
Os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão, além da bancada pernambucana, foram chamados para cerimônia recente com Lula e Raquel Lyra - FOTO: Governo do Estado

Grave essa frase: “Toda ideia boa parece ser ruim”. Ela é muito usada no mercado publicitário e vale para quase tudo no sentido de inovação. Ninguém inova sem fugir ao senso comum e o senso comum acha incômodo tudo o que é incomum.

Vamos nos apoiar nessa frase para abrir a mente e dizer o seguinte: Raquel Lyra (PSDB) e o PT podem estar juntos muito em breve, oficialmente. Não são apenas os sinais recentes dos encontros pontuais da governadora de Pernambuco com Lula e a presença dos senadores Humberto Costa (PT) e Teresa Leitão (PT) em clima amistoso. Isso também, mas vai além.

Há um plano sendo traçado nos bastidores que, se vingar, aproxima a tucana do que Eduardo Campos conseguiu fazer na virada da última década, quando transformou quase toda a oposição em aliada.

Há alguns meses

Não começou agora.

Em 14 de maio deste ano, com informações de uma fonte do Palácio, a coluna já alertava para essa possibilidade. Dizíamos aqui: “Tem um outro nome, nesse contexto…que parece improvável mas não é: Humberto Costa (PT). Nas últimas semanas, um interlocutor do Palácio do Campo das Princesas tem conversado bastante com o senador petista. Os assuntos caminham pelo apoio do PT a João Campos (PSB) em 2024, aproximação de Raquel com Lula (PT) e até, sim, uma das vagas para o Senado em 2026”.

Dificultar pra João

O cenário que está sendo trabalhado por alguns agentes dessa união nos bastidores é o seguinte: Raquel não lançaria candidato pessoal à prefeitura do Recife. Seria apresentado algum nome de centro, e outro da direita, que ajudasse a eleição contra João Campos (PSB) a ir para um segundo turno. O PT lançaria Teresa Leitão.

A senadora petista disputaria os votos da esquerda com o atual prefeito sem correr o risco de ficar sem abrigo, caso seja derrotada, porque ainda teria seis anos de mandato como senadora. Com o PT dividindo os votos do PSB na esquerda, um candidato de centro e outro de direita atraindo votos mais conservadores, a situação do atual prefeito pode se complicar.

Impedir uma reeleição é muito difícil, mas no segundo turno tudo pode acontecer.

Argumento

Teresa é um nome interessante para ser a ponte entre Raquel e o PT, principalmente porque é mulher.

Se Teresa for ao segundo turno contra João Campos, o argumento de que “duas mulheres já governam Pernambuco e uma mulher vai governar a capital” poderia validar um apoio da governadora ao PT, selando essa aproximação já para 2026.

E os bolsonaristas?

Sim, haverá resistência dos grupos conservadores que apoiam o governo Raquel Lyra em Pernambuco. Mas isso vai acabar sendo aliviado e ter pouca repercussão na governabilidade e na construção eleitoral para 2026 por alguns fatores.

O primeiro está em curso e é a adesão de partidos da base de Bolsonaro ao governo Lula. O Republicanos e o Progressista, por exemplo, terão ministérios na gestão petista.

A tendência é que parte do PL também arrefeça suas críticas e alguns deputados até deixem a sigla, pensando no futuro, ou sejam expulsos, como está para acontecer com um parlamentar que apareceu numa foto com petistas recentemente.

Popularidade e verba

Outro fator importante é a posição em que o governo local estará quando os investimentos captados junto ao governo federal começarem a capitalizar eleitoralmente.

Chegando perto da campanha, os deputados federais e estaduais, que são as maiores lideranças políticas em suas regiões, terão como prioridade a própria reeleição.

A resistência ideológica deve ficar restrita a alguns poucos mais radicais.

Senadores

Na futura chapa de reeleição de Raquel Lyra, para manter a fórmula que deu certo em 2022, fugindo da polarização e não declarando voto em Lula e nem em Bolsonaro, caberá facilmente um senador do PT e um do PL, por exemplo, ou de outro partido à direita.

É aí que Humberto Costa entra. O senador buscará a reeleição para mais oito anos em 2026. O outro nome pode ser o de Anderson Ferreira (PL) ou de Miguel Coelho (UB), dependendo do que acontecer até lá.

Risco

Há quem defenda que Humberto já será candidato ao governo em 2026. Mas tudo na política é feito com riscos bem medidos.

A derrota de Bolsonaro, um candidato à reeleição, foi um ponto fora da curva no Brasil. Não é comum. O normal é o ocupante do cargo ter muita vantagem. Basta observar o que aconteceu com Paulo Câmara em 2018 no Governo de Pernambuco, quando tinha 60% de rejeição no início da campanha e ainda terminou eleito em primeiro turno.

Humberto correrá o risco de ficar sem mandato de senador para disputar o Palácio contra uma governadora no pleno exercício do cargo?

Desafetos

Tem outra coisa que precisa ser ajustada. Recentemente, Humberto aproximou do PT uma parte do PSB insatisfeita com João Campos.

Como isso vai entrar no pacote de um acordo com a governadora Raquel Lyra é difícil dizer, porque há desafetos que precisarão ser muito bem desconstruídos.

Mas, para um estado que já viu Jarbas Vasconcelos (MDB) reunir esquerda e direita uma vez, Eduardo Campos fazer o mesmo em outro momento, já viu os dois serem inimigos figadais e terminarem aliados “desde sempre”, nada é impossível.

Se o vento mudar...

É bom dizer que todo esse roteiro é uma construção que se está fazendo nos bastidores ainda com pouca coisa de concreto. É um esboço que pode mudar muito com o decorrer dos acontecimentos.

Aguardemos os próximos capítulos.

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