Há um comentário nos bastidores sobre um gestor pernambucano que pode não estar muito satisfeito com a possibilidade de Silvio Costa Filho (Republicanos) assumir um ministério no governo Lula (PT). O prefeito do Recife, Joao Campos (PSB), comenta-se, estaria incomodado com o destaque que o deputado pode ter na pasta a que for designado.
Costa Filho é jovem e já foi apontado algumas vezes como possível candidato à prefeitura da capital. Além disso, como presidente do Republicanos em Pernambuco, está fazendo o partido crescer no estado e conseguiu cair nas graças do centrão em Brasília.
Caso se torne ministro, será com aval de Arthur Lira (PP-AL) e com a bênção do presidente da República. Lula é muito amigo do pai do “ministeriável”, o ex-deputado Silvio Costa.
Há quem diga que João pode até estar usando seus canais em Brasília para atrapalhar uma possível indicação do aliado e impedir que ele “cresça demais”.
Um só líder
Essa preocupação em não permitir muito crescimento nos arredores é comum entre personagens políticos que não querem ver ninguém ameaçar seu protagonismo.
Uma fonte que circula no meio político há muitos anos, conversa com a coluna, e citou alguns exemplos. “Miguel Arraes, sempre que ia indicar alguém para disputar um cargo, buscava quem não tivesse muita chance de se destacar. Ele nunca fez força por Marcos Freire, por exemplo, que era uma ameaça. Arraes só cometeu um erro de avaliação, que foi com Jarbas, e acabou derrotado por ele anos depois”, disse.
Sem sombra
Outro exemplo lembrado foi o do próprio Jarbas Vasconcelos e também o de Eduardo Campos, além de Raquel Lyra. “Veja o secretariado de Jarbas, o de Eduardo e, agora, o de Raquel. Os secretários são técnicos e dependem essencialmente da vontade do gestor para tentarem algum voo político. Só se o governador ou a governadora indicar. Caso contrário, não se arriscam.
João Campos não ganha nada com Silvinho indo para um ministério. É um risco para o futuro dele como líder do próprio grupo”, completou.
Dança com três
Sobre a dança de cadeiras no ministério de Lula, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tem trabalhado por uma troca que envolve três nomes pernambucanos para acomodar o Republicanos na Esplanada.
Kassab tenta convencer o presidente da República a tirar Luciana Santos (PCdoB) da pasta de Ciência e Tecnologia e colocar no Ministério da Mulher. Depois, faria a transferência de André de Paula (PSD), atual ministro da Pesca, para a Ciência e Tecnologia. E, por fim, encaixaria Silvio Costa Filho (Republicanos) no ministério da Pesca.
Duas por uma
Outra tese, defendida por petistas graúdos, envolve tirar Geraldo Alckmin (PSB) da pasta de Indústria e Comércio e dar somente ela ao centrão. A ideia é precisa ser bem negociada porque o combinado com o grupo que dá sustentação ao governo petista no Congresso quer duas pastas, no mínimo.
Um interlocutor que conversou com a coluna afirma que o ministério da Indústria e Comércio é maior e mais influente do que dois ministérios pequenos, então compensaria. E Geraldo Alckmin já é vice-presidente, então não vai ficar chateado de ceder o espaço.
PSB na bronca
Quem deve ficar chateado com a perda de uma pasta, se isso acontecer com Indústria e Comércio, é o PSB.
Quando soube que o ministério de Alckmin estava no balcão, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, saiu-se com essa: “Quem apoiou Bolsonaro deveria se render a ser oposição, não estar no governo. Isso é uma anomalia do sistema que nós precisamos mudar”.
Alguém precisa lembrar a Carlos Siqueira que o ministério da Indústria não é da cota do PSB, mas foi uma escolha pessoal de Lula. Precisam lembrar a ele também que o PSB só conseguiu eleger 14 deputados. E o centrão está oferecendo algo em torno de 60 parlamentares para a base do governo.
Não tem qualquer possibilidade de comparação no mundo real da política.
Não gosta dele
E tem um outro motivo para o PT não estar nem um pouco preocupado com a bronca de Carlos Siqueira: nos bastidores, dizem que Lula não tem paciência com ele e nem considera nada do que ele diz.
Ele volta?
O doutor em Ciência Política, estrategista e professor da UFPE, Adriano Oliveira, já está nos preparativos para o lançamento do livro “Do bolsonarismo ao retorno do lulismo: Bolsonaro voltará ao poder?”, no próximo dia 2 de agosto, às 18h, na Livraria Jaqueira, no Recife Antigo.
Oliveira é autor de outros livros como “A influência da Lava Jato no comportamento do eleitor”, e outro “Eleições e Pesquisas eleitorais - desvendando a Caixa Preta”.
A nova obra pontua ainda diversos eventos ocorridos na era Jair Bolsonaro, como o impacto da Covid-19 na gestão do ex-presidente, evidencia causas que possibilitaram o retorno de Lula à presidência da República, e faz previsão quanto ao futuro do bolsonarismo.