Cena Política

Sobre fazer muito barulho para os outros tentando consertar erros que são todos seus

Confira a coluna Cena Política deste domingo (23)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 22/07/2023 às 20:00
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula e Flávio Dino, o ministro da Justiça - FOTO: Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Poucas coisas são tão perigosas para a Democracia quanto o ímpeto de quem deseja protegê-la. O problema começa pelo nome que o governo resolveu dar a dois projetos de lei com o objetivo de endurecer as penas para quem “atentar contra o Estado Democrático de Direito”: “Pacote da Democracia”.

Para começo de conversa, bastava que a Constituição fosse cumprida e as punições estariam garantidas.

Algumas medidas são necessárias, é verdade, mas só aquelas modificadas no último governo com o objetivo de facilitar a vida de quem pretendia atentar contra a Democracia. O novo decreto de armas, dificultando o acesso que havia sido praticamente liberado anteriormente, é um deles.

Mas, chamar de Pacote da Democracia, com propostas de aumentar as penas para até 40 anos, quando nem homicídio no Brasil se pune com esse rigor, é mais estardalhaço e pirotecnia do que ação sincera e concreta.

Ação honesta e sincera seria moralizar as instituições para que elas fossem mais respeitadas e não houvesse motivo para desrespeito. Passou-se muito tempo no Brasil sem que fosse necessário ao menos pensar em algo assim. A corrupção e o mau uso dos recursos do contribuinte é que, ao longo dos anos, causaram tudo isso.

Resolver, dependeria de uma série de práticas honestas como acabar com a distribuição de favores, cargos e verbas em troca de apoio parlamentar, controle sério e eficaz das contas públicas, combate à corrupção e limitação da interferência partidária nas ações de governo perante os problemas do país.

Mas, por que ter trabalho e indisposição política se você pode lançar um “Pacote da Democracia”, vestir uma capa, uma máscara, fingir que é o Batman e está combatendo o mal?

Também perdeu…

Se antes isso era um “tabu”, a ação do Sistema Judiciário contra greves que usam a revolta popular pela interrupção do serviço, como arma para pressionar os patrões, está cada vez mais comum. A Justiça vai lá e barra a greve. Principalmente quando serviços essenciais estão envolvidos, como segurança, saúde e transporte público.

Por isso, é esperado que os rodoviários do Recife tenham dificuldade de realizar a greve que foi prometida para a próxima quarta-feira (26). E se a Justiça proibir a greve vai fazer isso sabendo que terá apoio popular.

Nos últimos anos, houve um enfraquecimento da influência dos sindicatos ligados ao serviço público. Hoje, acredite, tem torcida organizada com mais interação política do que algumas categorias de trabalhadores sindicalizados.

Sei que vão culpar Michel Temer (MDB) que agiu para mudar as leis trabalhistas e enfraqueceu o movimento sindical. Mas isso não cabe aqui. Michel Temer ter tido apoio para fazer isso com os sindicatos já foi consequência da frequente má condução do sindicalismo em suas pautas.

…credibilidade…

É importante observar uma coisa: os serviços não pioraram, nem melhoraram depois das mudanças de Temer. Eles continuam sendo muito ruins, como sempre foram.

O que nos leva a um ponto interessante de todas as discussões salariais, greves e protestos, de todos os anos em que os sindicatos tinha força política maior: o povo sofria sem transporte, sem saúde e sem segurança, enquanto as categorias gritavam palavras de ordem nas ruas, bloqueavam o ir e vir, impediam serviços que a população aguarda por meses, como cirurgias eletivas. E, no fim, muito pouco se revertia em melhorias para os serviços e para os usuários, porque o que importava era o salário.

Desde que o salário dos grevistas aumentasse, os sindicatos já se rendiam e acabavam o movimento, porque receberiam mais dinheiro também.

O serviço continuava ruim e ficava mais claro que as dificuldades da população eram apenas um álibi para melhorar os rendimentos do sindicato.

Como as pautas dos trabalhadores e dos usuários se confundiam, mas os benefícios alcançados não, os movimentos foram perdendo apoio.

…popular

Agora, a única preocupação dos usuários do transporte público na Região Metropolitana do Recife para a próxima quarta-feira (26) é se eles vão chegar ao trabalho ou não. Se os rodoviários vão ter aumento, interessa pouco para o passageiro.

Os sindicatos passaram anos brigando pelos seus filados e o jeito como brigavam foi o que isolou esses filiados do restante da população.

A reivindicação por melhores salários e melhores condições de trabalho é justa para os rodoviários. Mas quem não é rodoviário só quer mesmo que os ônibus rodem e cheguem cedo. Nada mais.

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