Cena Política

Oposição do PT em Pernambuco também tem a ver com R$ 60 bilhões do PAC

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (3)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 02/08/2023 às 20:00
PRESIDENCAI DA REPUBLICA
A presidente Dilma visita as obras da Trnasnordestina, durante sua gestão - FOTO: PRESIDENCAI DA REPUBLICA

Um dos motivos que levaram o PT a assumir formalmente a oposição ao governo Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco foi a preocupação de não estar apenas trocando de órbita. Caso colassem na tucana apoiando seu governo, estariam trocando o PSB por ela.

Os petistas querem independência para alçar voos maiores no futuro. O tom ameno da declaração, afirmando a oposição sem fazer qualquer crítica mais dura ao Palácio deve perdurar nas votações legislativas e nas declarações dos petistas.

Lula entende o momento, mas não quer o partido brigando com a governadora.

Protagonismo

A verdade é que no PT ninguém quer guerra com Raquel e nem com o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Mas, se quiserem algum protagonismo, perceberam que precisavam se desvencilhar um pouco de ambos, por enquanto.

Há, principalmente, uma preocupação com a divisão de méritos pelas obras que devem ser viabilizadas nos próximos meses.

E tudo isso tem a ver, inclusive, com o novo PAC. Sim, o PAC ajudou na decisão dos petistas de Pernambuco.

Vem obra por aí

Lula afirmou que fará o lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento no próximo dia 11. O presidente também disse que o novo PAC terá R$ 60 bilhões em investimentos públicos por ano, além de recursos das concessões públicas e Parcerias Público Privadas (PPPs).

É muito dinheiro, é muita obra e uma oportunidade política imensa.

Impacto grande

No pacote, com mais de duas mil obras, estariam previstos investimentos em diversas áreas, inclusive em mobilidade urbana, como detalhou a colunista do JC Roberta Soares em reportagem recente.

Fala-se em eletrificação do transporte público, construção de corredores de ônibus e, principalmente, ampliação da malha de metrôs do País.

O governo Federal também estaria estudando incluir no PAC incentivos e financiamentos para renovação de frota de ônibus urbanos e metropolitanos.

Tudo isso pode beneficiar Pernambuco.

Visibilidade

Muitos desses investimentos serão realizados aqui, tanto pela necessidade local quanto pelo estado ser a terra natal de Lula. A origem pernambucana de Lula passou a ser repetida por diversos ministros não pernambucanos em entrevistas nos últimos meses. Isso leva a crer que é um fator repetido a eles pelo próprio presidente nas reuniões.

Algumas obras serão tocadas pelo Governo do Estado e outras pelo Governo Federal. Se o PT estivesse integrado ao governo, como aliado, iria parecer que o mérito foi apenas da governadora Raquel Lyra quando as obras chegassem.

Estando na "oposição", as lideranças do PT local poderão intermediar o processo com maior visibilidade e terão mais voz nas articulações políticas. O PT quer mais protagonismo em 2024 e em 2026. Alinhado desde cedo ou em posição dúbia em relação à Raquel, como estavam, ficaria mais difícil.

Provedores

Quando as obras começarem a ser anunciadas em Pernambuco, ao invés de estarem ao lado de Raquel como agregados políticos, os petistas estarão ali na posição de “provedores” do apoio federal e lulista a essas obras de modernização da infraestrutura.

Protagonistas, como planejam há muito tempo e não conseguem desde que Eduardo Campos os transformou em satélite local do PSB.

“Errou” com João

Uma fonte socialista que conversou com a coluna recentemente sobre as alianças dos petistas em Pernambuco já previa que o PT deveria ficar na oposição a Raquel, mantendo uma distância regulamentar, sem atritos, com o Palácio.

Mas, essa mesma fonte, apesar de estar no PSB, também avaliou que o PT cometeu um erro quando entrou na prefeitura do Recife tão cedo. “Isso deu a João Campos a ideia de que estava tudo resolvido e o PT já estava apoiando sua reeleição”, alertou. O PT tem cargos na administração da capital.

 

Nenhum ganho…

Observando o que acontece agora com a deputada Carla Zambelli (PL), alvo de uma operação porque teria usado um hacker para forjar um mandado de prisão contra um ministro do STF, cabe reflexão. Há uma regra que, até agora, atingiu todos os aliados mais fiéis de Bolsonaro (PL): não há ganho de longo prazo garantido em segui-lo.

Se você não estiver disposto a fazer qualquer coisa por ele, inclusive maluquices, acaba afastado e atacado. Todos os que questionaram Bolsonaro terminaram isolados e atacados pelos próprios bolsonaristas e pelo que chamavam de “gabinete de ódio”.

Mas fazer loucuras por ele também não garante nada.

…e muita dor

Sobrevive por mais tempo quem embarca nas sandices do grupo bolsonarista e não questiona o chefe em hipótese nenhuma. É a receita. Mesmo assim, não há qualquer certeza de ficar tudo bem.

Como é necessário ir subindo o tom na loucura para poder acompanhar o bolsonarismo radical, muitos acabam ultrapassando os limites e cometendo crimes diversos.

Nessa hora, ao serem pegos, acabam abandonados e atacados pelos próprios bolsonaristas, da mesma maneira que acontece àqueles que não embarcaram.

A Justiça avança…

A decisão do STF, declarando inconstitucional o argumento de “legítima defesa da honra” é daquelas que faz você pensar em como esse tipo de coisa ainda existe e precisa da atenção do Supremo Tribunal Federal para lhe desfazer qualquer legalidade. É a corte suprema de uma nação parando paradiscutir o óbvio.

O caso em si é daqueles sintomas de uma sociedade com dificuldades imensas para evoluir formalmente. A tal legítima defesa da honra foi utilizada em casos de feminicídio desde que nem se usava a expressão feminicídio ainda. E perdurou.

Apesar de mal vista nos tribunais, ainda era legalmente permitida.

…engatinhando

Legitima defesa da honra era o que maridos que matavam as companheiras alegavam para justificar os homicídios.

Ciúme ou até “paixão avassaladora” eram usados como argumento para atenuar penas. Era a barbárie justificada pela “emoção”.

Esse caso é umresultado também da lentidão de nossa Justiça. O julgamento sobre o assunto, apesar de o tema ser um completo absurdo e criticado há quatro décadas, só entrou em pauta em 2021 e demorou mais de dois anos tramitando no Supremo até alcançar uma decisão esta semana.

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