Cena Política

E se nossos deputados e senadores pegassem o metrô de Jaboatão ao Recife às 6h da manhã?

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (04)

Igor Maciel
Cadastrado por
Igor Maciel
Publicado em 03/08/2023 às 20:00
Roberto Martins/JC Imagem
Metrô do Recife entra em greve geral no Grande Recife - FOTO: Roberto Martins/JC Imagem

O Metrô do Recife, tal qual a maioria dos outros problemas de Pernambuco, só recebe atenção dos representantes públicos do estado quando a situação está próxima do caos completo.

Faz anos que o metrô do Recife oferece aos passageiros infraestrutura precária, faz anos que o metrô coloca a vida dos passageiros em risco com seu sucateamento, faz anos que o déficit no sistema precariza o direito de ir e vir dos cidadãos na Região Metropolitana do Recife.

Mas os deputados e senadores pernambucanos decidiram marcar, somente agora, uma força tarefa para resolver tudo.

E, ainda assim, sem muita pressa porque, apesar da greve atual, marcaram o encontro para o dia 21 de agosto. E na semana que vem, dia 8, talvez se encontrem com um ministro tentando alguma ajuda.

Vão pela catraca

Uma sugestão aos nossos parlamentares “ávidos” por soluções é viver um pouco da rotina dos usuários, não apenas como fiscais de ocasião, mas em momentos como o acotovelamento diário, às 6h da manhã, saindo de Jaboatão em direção ao centro do Recife, passando pelas estações Barro, Afogados e Joana Bezerra.

Vão de terno e gravata, vai ser ótimo.

Melhor: para não atrapalhar a agenda, que tal se todos usassem o metrô na ida ao aeroporto, antes de viajar à Brasília nas terças-feiras? E se, na volta, toda quinta-feira, os deputados e senadores saíssem do aeroporto e fossem pra casa no metrô? Seria bom pra testar a segurança das estações à noite também.

Eficiência

Fosse assim, talvez nossos representantes entendessem que o problema não é apenas jogar dinheiro no Metrorec enquanto fazem discurso barato de palanque contra a concessão do sistema.

No mundo, tem gente com salário milionário que vive cheio de dívidas e tem gente com salário mínimo que vive dignamente, com todas as contas pagas. Receber muito dinheiro não determina a qualidade de vida que você terá.

O que determina a eficiência de um sistema de transporte não é a quantidade de dinheiro que se empurra nele, mas o seu modelo de gestão. E o modelo de gestão do Metrô do Recife prova todos os dias sua ineficiência.

A ideia é resolver a vida dos passageiros ou deixar feliz o sindicato do setor?

Se é pela concessão completa, parcial ou funcionando por subsídio público, é discutível, mas fazer tudo tentando ficar bem com o sindicato e não com os usuários pode ser o maior erro da bancada pernambucana.

Usuário por último

O equívoco começa de berço, nessa iniciativa dos representantes pernambucanos que resolveram agendar a discussão. O problema no discurso dos deputados e senadores, que já falam em despejar R$ 1 bilhão no Metrô do Recife está no objetivo declarado por alguns: “evitar a privatização”.

Em 2022, depois de um amplo estudo realizado, o governo Paulo Câmara chegou à conclusão que o caminho mais acertado era o Estado assumir a operação para viabilizar a concessão à iniciativa privada. Na última hora, para agradar o sindicato em ano eleitoral, Câmara recuou.

O metrô estava bom naquela época? Não. Dava pra adiar? Não.

Mas o foco não era o metrô, nem o usuário. Aliás, nunca foi e ainda não é.

Isolamento

Os últimos movimentos do Solidariedade em Pernambuco estão isolando ainda mais Marília Arraes (SD). O partido tem se aproximado do Palácio e é, praticamente, considerado parte da base aliada.

Vale lembrar que a sigla foi quem deu um teto para que a neta de Miguel Arraes disputasse a eleição de 2022. Ela foi ao segundo turno, mas foi derrotada por Raquel Lyra (PSDB).

Quando passou o pleito, a primeira declaração da candidata, apoiada por Lula (PT) no estado, foi de que estaria na oposição à governadora. Marília esperava ter alguma base, um cargo vistoso no governo federal e a vitória petista parecia facilitar isso.

Mas nada aconteceu.

Oposição?

O nome de Marília Arraes foi ventilado para vários cargos federais em Pernambuco e nada virou realidade. Sudene, Codevasf, Hemobrás. Nada. Até uma secretaria na Prefeitura do Recife chegou a entrar na cota de suposições, mas também não se fez concreta.

Ciente de que não teria espaço junto ao PT e nem com o PSB, Marília lançou-se à estrada. Decidiu fortalecer suas bases no interior, dando volume ao partido para crescer em 2024.

No meio desse processo, descobriu que os quatro deputados de seu partido na Alepe estão para se assumir como governistas.

O preço

O isolamento de Marília, comenta um socialista, é “fruto de todas as brigas que ela teve em todos os lugares por onde passou. Manter boas relações é importante para os momentos em que você está em baixa. Ela não observou isso e agora está pagando o preço”.

Edição do Jornal

img-1 img-2

Confira a Edição completa do Jornal de hoje em apenas um clique

Últimas notícias