Quando a crise entre o Palácio do Campo das Princesas e a Alepe chegou em seu auge, ao ponto de deputados estaduais ameaçarem barrar um empréstimo que o governo estava para solicitar, no valor de R$ 3,4 bilhões, a coluna trouxe aqui uma “previsão”: no segundo semestre a situação estaria estabilizada.
Essa estabilidade chegou e chegou até cedo.
Independência
Na época, Raquel Lyra não tinha base formada na Assembleia e alguns parlamentares se empolgaram numa atitude de reprovável rebeldia confundida com a sempre salutar independência.
Houve casos até de deputados sendo cobrados com energia e rigor quando votaram a favor do governo (em situações necessárias aos pernambucanos), como se estivessem “traindo” o “movimento de independência” da Casa.
Um desses deputados contou à coluna que ouviu reclamações duras de um colega por estar aprovando projeto do governo.
Executivo executa
Acontece que os parlamentares estavam empoderados pelas emendas impositivas que a governadora não poderia deixar de distribuir. Essas emendas, destinadas pelos deputados às bases eleitorais que os sustentam, foram ampliadas, dentro dessa estratégia de garantir independência do Legislativo em Pernambuco.
Mas não é tão simples viver disso. Uma coisa é distribuir e destinar as emendas. Outra coisa é executar as obras e os serviços a que elas estão vinculadas. Quem executa é o Palácio. E aí os deputados precisaram dialogar com a governadora.
São 32 deputados
Quando os deputados estavam no movimento pela “independência do Legislativo”, brigando com o Palácio, a coluna explicou que isso ia arrefecer no segundo semestre porque é quando as emendas precisam ser executadas.
Além disso, a articulação do governo já estava tentando formar uma base sólida na Alepe, com ao menos 30 parlamentares para garantir votações entre as 49 cadeiras da Casa. Hoje, o governo conta com algo entre 30 e 32 deputados.
Momento é de estabilidade entre os poderes, finalmente.
Tragédia todo dia
Cada dia em que alguém dorme sem um teto digno sobre sua cabeça é uma tragédia. Ainda mais quando você tem uma constituição explícita em garantir o direito à moradia digna para todos os brasileiros. O déficit da habitação em Pernambuco é de 320 mil moradias. Essa urgência, por aqui, é tratada constantemente qual fosse rotineira e regular.
O habitacional do Encanta Moça, no Recife, por exemplo, estava praticamente pronto há meses e não era entregue por causa de pequenas obras, principalmente da Compesa. As obras foram realizadas e entregues esta semana.
Melhor ser adversário
Esse entrave com a Companhia de Abastecimento de Pernambuco, gerida pelo Governo do Estado, impediu por vários meses que 600 chaves de apartamentos fossem entregues às famílias. Essas pessoas continuaram morando em locais precários.
Estamos falando de um período em que tanto o governo quanto a prefeitura estavam ocupados por gestores do mesmo partido, os mesmos que se abraçavam nas campanhas, pediam voto prometendo que o trabalho conjunto iria “revolucionar o mundo”, enquanto brigavam por poder nos bastidores e atrasavam a vida das pessoas.
A situação se resolveu quando a sigla no comando do governo mudou. Rivalidade é bom! Ou foi só uma grande coincidência?
Elogio preocupante
A revista britânica The Economist fez elogios a Fernando Haddad (PT) que podem complicar a vida do ministro.
“Muitos economistas creditam a Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, grande parte do otimismo. Ele está por trás das duas grandes reformas que poderiam colocar o Brasil em uma base mais estável”, diz a The Economist, sobre o novo marco fiscal e a reforma tributária. “Mesmo os mais céticos agora apostam que a dívida acabará ficando sob controle”, conclui a revista.
O que será
A reportagem sobre o Brasil ("Vai decolar?") faz uma alusão à capa de 2009, quando a revista publicou o Cristo Redentor decolando, numa época em que parecia que o “Brasil daria certo”. Foi antes de Dilma Rousseff (PT), claro.
A reportagem de agora complica a vida de Haddad e pode atrapalhar o Brasil. O motivo? Ciúme é coisa terrível em política. Porque no PT há figuras que dependem do insucesso do ministro da Fazenda para continuar tendo alguma relevância no futuro.
Quanto mais ele der certo, mais será atacado internamente. Se Haddad fica grande, torna-se o candidato de consenso quando Lula não for mais candidato a nada, num futuro bem aguardado.
E aí, o que será de Gleisi Hoffmann (PT), por exemplo?