O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é uma fábrica ambulante de declarações que vão da leseira à xenofobia, caminhando quase sempre pela ignorância. Acredite, a mais recente, que causou tanta polêmica, nem foi das piores.
Zema já usou frases do ditador fascista Benito Mussolini como “motivadoras”, comemorou a Inconfidência Mineira chamando os inconfidentes de “criminosos” e a ação deles como “golpe”.
Ele também já defendeu que algumas classes de trabalhadores públicos como faxineiros e motoristas “não deveriam ter estabilidade no emprego”.
Auxílio no bar
No auge da pandemia, Zema lamentou que o Auxílio Emergencial, de R$ 600, fosse pago de uma vez, e não em pequenas parcelas, porque “muitas pessoas que recebem vão gastar o dinheiro no bar”.
E teve mais declaração sobre o Auxílio, hoje chamado de Bolsa Família: “No Sul e Sudeste, temos uma semelhança enorme. Se há Estados que podem contribuir para este País dar certo, eu diria que são estes sete Estados aqui. São Estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”, disse Zema.
Zema “historiador”
Na entrevista polêmica ao Estadão, a mais recente, Romeu Zema fala outra bobagem que até passou desapercebida: “Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”.
O governador revela extrema ignorância, já que o Brasil teve uma República inteira baseada no poder alternado entre Minas Gerais e São Paulo, num período conhecido como “Café com Leite” que durou de 1898 até 1930 e só caiu após um golpe militar comandado por um gaúcho, Getúlio Vargas.
Sudeste e Sul
O país teve 44 presidentes em toda a sua História e o estado que mais teve chefes do Executivo foi Minas Gerais, seguido por São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
O Nordeste teve 10 presidentes em toda a História. O Sudeste e o Sul tiveram 32.
Vaquinhas
Ele, na mesma entrevista, comparou o Nordeste com “vacas que produzem pouco leite” ao criticar os benefícios que o Nordeste têm: “...se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”, alertou.
Zema “matemático”
O governador de Minas, que ensaia para ser candidato à presidência da República, não é o mineiro sagaz típico, que ficou marcado no imaginário popular como alguém que parece simplório, enquanto é o mais esperto do ambiente.
Zema é simplório de verdade, tolo politicamente, e fala bobagem com uma constância vistosa. Além de tudo, é ruim de matemática, em certo ponto diz que os sete estados do Sul e Sudeste teriam 27 senadores.
São três parlamentares por estado e três vezes sete dá vinte e um, não vinte e sete.
Estratégia furou
Ainda no caso que gerou polêmica esta semana, Zema queria mandar um recado para atrair eleitores de Bolsonaro (PL) e acabou destilando preconceito. Ele acreditou que poderia agir com o Nordeste da mesma maneira que agiu com o norte de Minas, que faz fronteira com a Bahia e tem forte influência do Nordeste.
Na eleição de 2022, o norte de MG foi tomado por fotos que tinham o governador e então candidato à reeleição junto a um candidato a presidente chamado Lula (PT).
Só quando você descia um pouco pelo mapa, aproximando-se do Sudeste e do Sul, começava a encontrar fotos dele com Bolsonaro (PL).
Por lá, independente de ser da parte norte ou sul do estado, todo mundo é mineiro em primeiro lugar. Então, deu certo.
Nordestino
Seria igual por aqui se o nordestino se enxergasse prioritariamente brasileiro. Não é o caso. Aqui todo mundo é nordestino em primeiro lugar e só depois vem a identificação como brasileiro.
Quando se fala qualquer coisa sobre o Nordeste, por mais radical à direita ou à esquerda, o nordestino se sente atingido pessoalmente. Zema calculou mal (isso também) e demonstrou, além de todo o preconceito, falta de conhecimento sobre o Brasil e sobre estratégia política básica.
Ser candidato a presidente desse jeito vai ser bem difícil. No Nordeste há quase 60 milhões de habitantes e mais de 40 milhões de votos, de direita e de esquerda.
Mudou
É verdade que o Estadão, que divulgou a entrevista, mudou o título da publicação que antes usava a expressão “contra o Nordeste” para “protagonismo do Sul-Sudeste”, referente à intenção de Zema.
Mas o conteúdo, para quem ainda lê além das manchetes, seguiu o mesmo. As falas de Zema são, ainda, absurdas. Às vezes contra o Nordeste, outras contra a lógica e, até, contra a História.