Cena Política

Sobre a preocupação dos deputados de esquerda com as concessões dos outros

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (15)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 14/08/2023 às 20:00
Reprodução Twitter
Javier Milei, presidenciável argentino e favorito nas urnas - FOTO: Reprodução Twitter

A Alepe terá, nos próximos dias, uma mobilização contra a possível concessão da Compesa, tratando a “privatização” como algo que “pode provocar mais desigualdade regional e social”. É uma defesa fácil de se fazer, quando se está com água na torneira todos os dias e saneamento básico garantido na rua.

Se os deputados quiserem saber o que, de verdade, provoca desigualdade regional e social, perguntem para quem junta água em baldes para lavar pratos e limpar o vaso sanitário, por causa do racionamento de água em diversas cidades do interior e até da Região Metropolitana.

Conselhos a Lula

E se os deputados, principalmente os do PT e do PSB, quiserem uma opinião sobre concessões e o quanto elas são benéficas ou prejudiciais para a sociedade, deveriam pergunta ao presidente Lula (PT).

O anúncio do PAC, feito na semana passada, trouxe quase 40% do planejamento de verbas baseado em concessões e parcerias com a iniciativa privada. Os petistas não pareciam nem um pouco constrangidos no evento do PAC. Dilma Rousseff (PT) foi generosa com as concessões em sua gestão também.

Só é errado quando o outro faz?

Milei e as pesquisas

O modelo de pesquisas eleitorais com os quais nos acostumamos ao longo dos últimos anos está falido. Os levantamentos de intenção de voto, tratados como se fossem um oráculo, não conseguem mais medir a temperatura de uma eleição.

O mais novo caso de erro dos institutos ocorreu na Argentina. Javier Milei, da ultradireita, figurava nos últimos levantamentos eleitorais abaixo de 20% para as prévias da presidência da República e era considerado carta fora do baralho para um segundo turno do pleito que acontece em outubro.

Terminou em primeiro, com mais de 30% e grande favorito.

Líquida

Esqueça as acusações sobre viés ideológico, como se houvesse um clubinho de pesquisadores maquiando números para controlar a opinião pública. A tese é infantil e ingênua, porque ninguém erra de propósito, com tanta frequência, em algo que pode definir se você continua no mercado ou não.

O problema é que a sociedade mudou, as decisões ficaram mais voláteis, as pessoas mudam de ideia com muita rapidez e as metodologias de pesquisa não conseguiram acompanhar.

Está faltando aos pesquisadores ler um pouco de Zygmunt Bauman e sua modernidade líquida.

Qualitativo

Bauman entende que, na modernidade sólida, os conceitos, ideias e estruturas sociais eram mais rígidos e inflexíveis. O mundo tinha mais certezas.

A passagem de uma modernidade a outra acarretou mudanças em todos os aspectos da vida humana. As pessoas têm menos certezas e mudam de opinião muito mais rápido.

Levantamentos qualitativos, como os defendidos por cientistas políticos como o pernambucano Adriano Oliveira (UFPE), podem ajudar bem mais.

Milei, o louco

Por falar em Milei, o agora favorito candidato à presidência argentina, é conhecido como "louco".

Ele se diz “anarcocapitalista”, afirma que vai dolarizar a economia e “dinamitar” o Banco Central Argentino. Javier Milei decide em quem confiar baseado nas cartas do tarô, interpretadas pela irmã, Karina, que é seu “braço direito”.

Ele mora sozinho com cinco cães da raça Mastiff, que podem chegar a 100 kg, cada um, e seu biógrafo (não autorizado) afirma que ele “estudou telepatia” para “receber conselhos” de um de seus cães que morreu em 2017.

Se, até hoje, nada deu certo para salvar a Argentina, os eleitores devem ter resolvido apostar na loucura. Quem vai julgá-los?

Defesa seguirá?

Caso Milei confirme o favoritismo e vença as eleições, Lula vai seguir defendendo que a Argentina ingresse no Brics? A pergunta é honesta, mas retórica. Porque o chefe do Executivo brasileiro tem defendido os hermanos como candidatos ao clube dos países em desenvolvimento apenas para ter mais influência nas decisões.

Ninguém com juízo honesto vai acreditar que a Argentina está em desenvolvimento de alguma coisa que não seja um novo calote da dívida pública, previsto caso Milei vença em outubro.

Se o candidato da extrema-direita virar presidente, Lula ainda vai achar uma boa defender a Argentina, ou vai se limitar à Venezuela?

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