A indignação seletiva socialista em reuniões com a governadora Raquel Lyra
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (18)
A reunião da governadora Raquel Lyra (PSDB) com a bancada pernambucana em Brasília, esta semana, chamou atenção pela ausência dos deputados do PSB. Somente Guilherme Uchoa (PSB) apareceu. Os outros quatro deram diferentes justificativas, principalmente de agenda.
Mas houve quem dissesse que não foi à reunião em "respeito a Paulo Câmara (sem partido)" que “não é reconhecido pela governadora”. Convenhamos, parece piada.
Curiosidade 1
É curioso, porque Paulo Câmara foi isolado pelo próprio PSB e precisou sair do partido quando foi assumir a presidência do Banco do Nordeste depois de ser preterido para ser ministro indicado pela sigla.
O ex-governador só é útil aos socialistas quando é útil aos socialistas. A frase parece sem sentido, mas não é.
Curiosidade 2
É curioso também porque quando a governadora foi recebida pelo presidente Lula (PT), para anunciar investimentos no estado, os deputados socialistas correram apressados, mesmo sem terem sido convidados na época, para aparecerem na foto. Isso aconteceu no dia 12 de julho, na assinatura de um empréstimo no valor de R$ 1,7 bilhão.
Na época, pelo jeito, Paulo Câmara não merecia tanta consideração assim do PSB.
Depende da pauta?
Desta vez, não era para anunciar dinheiro, nem obras. Era para apresentar uma pauta de necessidades do Estado e montar um plano de trabalho.
Era, por exemplo, para falar do Metrô que o governo do PSB se omitiu da solução em 2022, era para falar da Transnordestina e da busca por investimentos para desenvolver o estado.
Exemplos
É bom que se destaque, foi exatamente pela importância da pauta que deputados como Carlos Veras (PT), Renildo Calheiros (PCdoB) e Clodoaldo Magalhães (PV), além do senador Humberto Costa (PT), mesmo estando em partidos que fazem oposição local ao governo do PSDB, compareceram.
Guilherme Uchoa, como foi dito, compareceu mesmo sendo do PSB.
Fortes
O depoimento do hacker Walter Delgatti fez com que a crise subisse o monte, mudando de patamar. As falas são contundentes, as acusações são fortes e vão direto a Bolsonaro (PL).
Em parte, todas as declarações comprometedoras contra o ex-presidente podem ser facilmente confirmadas.
Um ponto importante é tentar entender se essa facilidade para confirmar apenas uma parte das acusações é proposital ou se é uma falha na narrativa. Delgatti tem comprovações?
Tem provas?
Explico: não se trata apenas de “a palavra de um contra a palavra do outro”. Se Delgatti diz que esteve com ministros, generais e o presidente, basta checar imagens de câmeras, agendas oficiais e oficiosas, além de testemunhas que estava por lá na época. É possível provar que ele esteve lá e até o número de vezes em que isso aconteceu.
Com uma quebra de sigilo telefônico é possível saber se e quando os envolvidos conversaram por telefone. Tudo isso pode reforçar as acusações de Delgatti.
Só não é fácil provar que o conteúdo das conversas foi o que o intrépido meliante digital detalhou. E isso pode fazer muita gente acreditar que o depoimento teve “muita gritaria e pouca consistência”.
Vitrine
Mas, e se essa era exatamente a ideia? Os movimentos do hacker em seu depoimento à CPMI dos atos de 8/1 podem ser vistos como uma exibição de vitrine, uma amostra do impacto que seu estoque pode causar.
Em alguns momentos pareceu que Delgatti estava mandando um recado para a Polícia Federal, com quem pretende fazer uma delação: “de onde saiu isso tem mais, há provas e estou à disposição”.
E se tiver mesmo?
Direcionado
Há ainda uma terceira possibilidade: a de que a PF já tenha provas suficientes para prender o ex-presidente Bolsonaro, já tenha pego o depoimento do hacker e baseado o inquérito com provas, mas estivesse precisando de um reforço na opinião pública para garantir que sua ação seja menos questionada.
Delgatti então faria o papel, como fez, de jogar tudo no ventilador para ninguém ficar surpreso quando Bolsonaro estiver sendo preso, se isso vier a acontecer.
Boxe
No boxe clássico, bate-se muito e muitas vezes para enfraquecer, estudar reações. Bate-se poucas vezes com mais força, realmente para derrubar.
Várias pancadas leves vão destruindo a resistência do oponente antes de você se arriscar em golpes mais fortes que lhe abrem a guarda e proporcionam contra-ataque.
Os investigadores estão dando uma pancada por vez, um pouquinho por dia e uma sequência maior de vez em quando. Vão atordoando, antes de dar um passo maior para tentar o nocaute.